Padre Almir Ramos: drogas perturbadoras da atividade mental

 Em Agenda Nacional pelo Desencareramento, Notícias

Esse artigo faz parte de uma série, com um novo texto tratando da temática das drogas publicado a cada 15 dias no site da Pastoral Carcerária. Para ler o primeiro texto, clique aqui. Para ler sobre as drogas depressoras da atividade mental, clique aqui. E para ler sobre drogas estimulantes da atividade mental, clique aqui
Estão classificadas neste grupo diversas substâncias cujo efeito principal é provocar alterações no funcionamento cerebral, que resultam em vários fenômenos psíquicos anormais, entre os quais se destacam os delírios e as alucinações. Por esse motivo, essas drogas são denominadas alucinógenas.
Em linhas gerais, podemos definir alucinação como uma percepção sem objeto, ou seja, a pessoa vê, ouve ou sente algo que realmente não existe. Delírio, por sua vez, pode ser definido como um falso juízo da realidade, ou seja, o indivíduo passa a atribuir significados anormais aos eventos que ocorrem à sua volta. Esse tipo de fenômeno se manifesta de modo espontâneo em doenças mentais denominadas psicoses.
Maconha
Seu nome científico é Cannabis sativa. Suas folhas e inflorescências secas podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semi-sólida obtida por meio de grande pressão nas inflorescências. A sensibilidade das pessoas à sua ação é variável, o que explica a capacidade da maconha produzir efeitos mais ou menos intensos.
Os efeitos agudos da maconha podem ser descritos, em alguns casos, como sensação de bem-estar, acompanhada de calma e relaxamento, menos fadiga e hilaridade em outros, como angústia, atordoamento, ansiedade e medo de perder o autocontrole, com tremores e sudorese.
Há perturbação na capacidade de calcular o tempo e o espaço, além de prejuízo da memória e da atenção. Com doses maiores ou conforme a sensibilidade individual é possível ocorrer perturbações mais evidentes do psiquismo, com predominância de delírios e alucinações.
Quanto aos efeitos crônicos no caso de uso continuado, a maconha interfere na capacidade de aprendizado e memorização. Pode induzir um estado de diminuição da motivação, por vezes chegando à síndrome amotivacional, ou seja, a pessoa não sente vontade de fazer mais nada, tudo parece ficar sem graça, perder a importância.
Fisicamente podem ser observados hiperemia conjuntival (os olhos ficam avermelhados), diminuição da produção de saliva (sensação de secura na boca) e taquicardia, com frequência de 140 batimentos por minuto ou mais.
Problemas respiratórios são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha é muito irritante, além de conter alto teor de alcatrão (maior que no caso do tabaco) e nele existir benzopireno, um conhecido agente cancerígeno. Ocorre, ainda, diminuição de 50% a 60% na produção de testosterona dos homens, podendo causar infertilidade.
ALUCINÓGENOS
Designação dada a diversas drogas que podem provocar uma série de distorções do funcionamento normal do cérebro, trazendo como consequência variada gama de alterações psíquicas, entre as quais alucinações e delírios, sem que haja estimulação ou depressão da atividade cerebral. Fazem parte desse grupo a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e o Ecstasy.
O grupo de drogas alucinógenas pode ser subdividido entre as seguintes características:
Alucinógenos primários – capazes de produzir efeitos psíquicos em doses que praticamente não alteram outra função no organismo.
Alucinógenos secundários, como os anticolinérgicos – capazes de induzir efeitos alucinógenos em doses que afetam de maneira importante diversas outras funções.
Plantas com propriedades alucinógenas – diversas plantas possuem propriedades alucinógenas, como alguns cogumelos (Psylocibe mexicana, que produz a psilocibina), a jurema (Mimosa hostils) e outras plantas eventualmente utilizadas na forma de chás e beberagens alucinógenas.
LSD
É uma substância alucinógena sintetizada artificialmente e uma das mais potentes com ação psicotrópica. As doses de 20 a 50 milionésimos de grama produzem efeitos com duração de 4 a 12 horas.
Seus efeitos dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu estado de espírito no momento da utilização e também do ambiente que se dá a experiência.
O uso de LSD causa os seguintes efeitos: distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados), fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons adquirem forma ou cor), perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas ou metros assemelham-se a quilômetros), alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações agradáveis ou até mesmo de extremo medo, estados de exaltação (coexistem com muita ansiedade, angústia e pânico e são relatados como boas ou más “viagens”) e delírios.
São dois os tipos de delírios: de grandiosidade onde a pessoa se julga com capacidades ou forças extraordinárias. Por exemplo: capacidade de atirar-se de janelas, acreditando que pode voar, de avançar mar adentro, crendo que pode caminhar sobre a água, de ficar parado em frente a um carro em uma estrada, julgando ter força mental suficiente para pará-lo.
O outro tipo de delírio é o persecutório, nesse caso a pessoa acredita ver à sua volta indícios de uma conspiração contra si e pode até agredir outras pessoas na tentativa de defender-se da “perseguição”.
O LSD ainda pode causar outros efeitos tóxicos como as pessoas que experimentam sensações de ansiedade muito intensa, depressão e até quadros psicóticos depois de muito tempo do consumo.
Uma variante desse efeito é o flashback: semanas ou meses após o uso dessa substância, o indivíduo – mesmo sem ter voltado a consumir a droga – volta a apresentar repentinamente todos os efeitos psíquicos da experiência. As consequências são imprevisíveis, uma vez que tais efeitos não estavam sendo procurados ou esperados e podem surgir em ocasiões bastante impróprias.
O consumo de LSD pode causar ainda a aceleração do pulso, a dilatação das pupilas e episódios de convulsão já foram relatados, mas são raros. No Brasil, o Ministério da Saúde não reconhece nenhum uso clínico dos alucinógenos, e sua produção, porte e comércio são proibidos no território nacional.
Ecstasy
É uma substância alucinógena que guarda relação química com as anfetaminas e apresenta também propriedades estimulantes. Seu uso é frequentemente associado a certos grupos, como os jovens frequentadores de danceterias ou boates.
Há relatos de morte por hipertermia maligna (Aumento excessivo da temperatura corporal), em que a participação da droga não é completamente esclarecida.
Acredita-se que o ecstasy estimula a hiperatividade e aumenta a sensação de sede, podendo talvez, induzir um quadro tóxico específico
 Existem, também, suspeitas de que a substância seja tóxica para um grupo específico de neurônios produtores de serotonina.
Anticolinérgicos
São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em laboratório. Produzem efeitos sobre o psiquismo quando utilizadas em doses relativamente grandes e provocam alterações de funcionamento em diversos sistemas biológicos, são, portanto, drogas pouco específicas.
Quanto aos efeitos psíquicos, os anticolinérgicos causam alucinações e delírios. São comuns as descrições de usuários intoxicados em que se sentem perseguidos ou têm visões de pessoas ou animais. Os efeitos são, em geral, bastante intensos e podem durar até dois ou três dias.
Essas substâncias provocam dilatação das pupilas, boca seca, aumento da frequência cardíaca, diminuição da motilidade intestinal (até paralisia) e dificuldade para urinar.
Doses elevadas podem produzir grande elevação da temperatura (até 40-410C), com possibilidade de ocorrerem convulsões. Nessa situação, a pessoa apresenta a pele muito quente e seca, com hipertemia principalmente localizada no rosto e pescoço.
São exemplos de drogas desse grupo algumas plantas, como determinadas espécies do gênero Datura, conhecidas como saia-branca, trombeteira ou zabumba, que produzem atropina e escopolamina, e certos medicamentos, como o tri-hexafenidil (Artane), a diciclomina (bentyl) e o biperideno (Akineton).
Esteroides anabolizantes
São drogas lícitas sintetizadas em laboratórios farmacêuticos para substituir a testosterona, hormônio masculino produzido pelos testículos. São usadas como medicamentos para tratamento de pacientes com deficiência na produção desse hormônio.
Muitas pessoas que consomem essas drogas são fisiculturistas, atletas de diversas modalidades ou indivíduos que procuram aumentar a massa muscular e podem desenvolver um padrão de consumo que se assemelha ao da dependência.
Essas substâncias podem causar diversas doenças cardiovasculares, alterações no fígado, inclusive câncer; alterações musculoesqueléticas indesejáveis (ruptura de tendões, interrupção precoce do crescimento).
Quando utilizadas por mulheres, essas substâncias podem, ainda, provocar masculinização (crescimento de pelos pelo corpo, voz grave, aumento do volume do clitóris); em homens, podem atrofiar os testículos.
Todo o texto aqui apresentado tem como referência o Manual do Curso de Extensão Universitária Prevenção do uso de drogas – Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias – 5ª Edição, de autoria de Sérgio Nicastri e também o manual de Capacitação em Atenção à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade, da Universidade Federal de Santa Catarina.
 

Volatr ao topo