Padre Almir Ramos: efeitos das drogas depressoras da atividade mental

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Esse artigo faz parte de uma série, com um novo texto tratando da temática das drogas publicado a cada 15 dias no site da Pastoral Carcerária. Para ler o primeiro texto, clique aqui
As  drogas depressoras da atividade mental são uma categoria que inclui grande variedade de substâncias, as quais diferem em suas propriedades físicas e químicas, mas apresentam a característica comum de causar diminuição da atividade global ou de certos sistemas específicos do Sistema Nervoso Central.
Como consequência dessa ação, há uma tendência de redução da atividade motora, da reatividade à dor e da ansiedade, sendo comum um efeito euforizante inicial e, posteriormente, aumento da sonolência.
Álcool
O álcool etílico é um produto da fermentação de carboidratos (açúcares) presentes em vegetais, como a cana-de-açúcar, a uva e a cevada. Suas propriedades euforizantes e intoxicantes são conhecidas desde tempos pré-históricos.
É, sem dúvida, a droga psicotrópica de uso e abuso mais amplamente disseminados em grande número de países na atualidade. Em doses baixas, o álcool é utilizado, sobretudo, por causa de sua ação euforizante e da capacidade de diminuir as inibições, o que facilita a interação social.
Os efeitos do álcool estão relacionados aos níveis da substância no sangue, variando conforme o tipo de bebida ingerida, a velocidade do consumo, a presença de alimentos no estômago e possíveis alterações no metabolismo da droga por diferentes condições – por exemplo, na insuficiência hepática, em que a degradação da substância é mais lenta.
Os possíveis efeitos do álcool de acordo com os níveis da substância no sangue variam de baixo, médio e alto:
No caso dos efeitos baixos, a pessoa apresenta as seguintes reações: desinibição do comportamento, diminuição da crítica, choro ou riso por motivos pouco significativos, certo grau de incoordenação motora (ausência de coordenação) e prejuízo das funções sensoriais.
Nos efeitos médios, pode-se apresentar maior incoordenação motora, fala pastosa, dificuldade de marcha, aumento importante do tempo de resposta (reflexos lentos) e aumento da sonolência com prejuízo das capacidades de raciocínio e concentração.
E nos efeitos altos apresenta: náuseas e vômitos, visão dupla (diplopia), acentuação da ataxia e da sonolência (até o coma), hipotermia e até morte por parada respiratória.
O álcool induz tolerância (necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para produzir o mesmo efeito desejado ou intoxicação) e síndrome de abstinência (sintomas desagradáveis que ocorrem com a redução ou com a interrupção do consumo da substância).
Barbitúricos
São um grupo de substâncias quimicamente derivadas do ácido barbitúrico, sintetizadas artificialmente desde o começo do século XX. Capazes de diminuir a atividade cerebral, possuem diversas propriedades em comum com o álcool e com outros tranquilizantes (benzodiazepínicos).
Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia; porém, atualmente não são mais empregados para este fim, pois a dose para causar efeitos terapêuticos desejáveis não é muito distante da dose tóxica ou letal.
O sono produzido por essas drogas, assim como aquele provocado por todos os indutores de sono, é muito diferente do sono “natural”.
A lei brasileira exige que todos os medicamentos que contenham barbitúricos em suas fórmulas só sejam vendidos nas farmácias, com a apresentação de receita médica, para posterior controle pelas autoridades sanitárias.
Os efeitos dos barbitúricos no organismo são a diminuição da capacidade de raciocínio e concentração, sensação de calma, relaxamento, sonolência e reflexos mais lentos.
Com doses um pouco maiores, a pessoa apresenta sintomas semelhantes aos da embriaguez, com lentidão nos movimentos, fala pastosa e dificuldade na marcha.
As doses tóxicas podem provocar surgimento de sinais de incoordenação motora; acentuação significativa da sonolência, que pode chegar ao coma e morte por parada respiratória.
Os barbitúricos causam tolerância, sobretudo quando o indivíduo utiliza doses altas desde o início e síndrome de abstinência quando retirados, o que provoca insônia, irritação, agressividade, ansiedade e até convulsões.
Em geral, são utilizados na prática clínica para indução anestésica (tiopental) e como anticonvulsivantes (fenobarbital = princípio ativo do gardenal).
Benzodiazepínicos
 Esse grupo de substâncias começou a ser usado na medicina nos anos 60 e possui similaridades importantes com os barbitúricos em termos de ações farmacológicas, com a vantagem de oferecer maior margem de segurança, ou seja, a dose tóxica (aquela que produz efeitos prejudiciais a saúde) é muitas vezes maior que a dose terapêutica (aquela prescrita no tratamento médico).
Como consequência, os benzodiazepínicos produzem diminuição da ansiedade, indução ao sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta.
Essas drogas dificultam, ainda, os processos de aprendizagem e memória e alteram funções motoras, prejudicando atividades, como dirigir automóveis e outras que exigem reflexos rápidos.
As doses tóxicas dessas substâncias são bastante altas, mas pode ocorrer intoxicação se houver uso concomitante de outros depressores da atividade mental, principalmente álcool ou barbitúricos. O quadro de intoxicação é muito semelhante ao causado por barbitúricos.
Existem centenas de compostos comerciais disponíveis, que diferem apenas em relação à velocidade e a duração total de sua ação. Alguns são mais bem utilizados clinicamente como indutores do sono, enquanto outros são empregados para controlar a ansiedade ou para prevenir a convulsão.
Exemplos de benzodiazepínicos são o diazepam (Valium), lorazepam (Lorax), bromazepam (Lexotam), midazolam (Dormonid), flunitrazepam (Rohypnol) e o clonazepam (Rivotril).
Opioides
Grupo que inclui drogas “naturais”, derivadas da papoula-do-oriente (Papaver somniferum), sintéticas e semi-sintéticas, obtidas a partir de modificações químicas em substâncias naturais.
As drogas mais conhecidas desse grupo são a morfina, a heroína e a codeína, além de diversas substâncias totalmente sintetizadas em laboratório, como a metadona e meperidina.
Sua ação decorre da capacidade de imitar o funcionamento de várias substâncias naturalmente produzidas pelo organismo, como as endorfinas e as encefalinas.
Em geral, são drogas depressoras da atividade mental, mas possuem ações mais específicas, como de analgesia e de inibição do reflexo da tosse.
Os opióides causam os seguintes efeitos: contração pupilar importante, diminuição da motilidade do trato gastrointestinal, efeito sedativo, que prejudica a capacidade de concentração, torpor e sonolência.
Além disso, deprimem o centro respiratório, provocando desde respiração mais lenta e superficial até parada respiratória, perda da consciência e morte.
Em caso de abstinência, a pessoa pode apresentar náuseas, cólicas intestinais, lacrimejamento, piloereção (arrepio) com duração de até 12 dias, corrimento nasal, cãibra, vômitos e diarreia.
Os medicamentos à base de opioides são receitados para controlar a tosse, a diarreia e como analgésicos potentes.
Solventes ou inalantes
Esse grupo de substâncias depressoras hoje não possuiu utilização clínica alguma, embora o éter etílico e o clorofórmio tenham sido bastante empregados como anestésicos gerais no passado.
Podem tanto ser inaladas involuntariamente por trabalhadores quanto utilizadas como drogas de abuso – por exemplo, a cola de sapateiro. A mistura do éter e do clorofórmio é chamada com frequência de “lança-perfume”, “cheirinho” ou “loló”.
Os efeitos têm início bastante rápido após a inalação, de segundos a minutos, e também têm curta duração, o que predispõe o usurário a inalações repetidas, com consequências, às vezes, desastrosas.
Os efeitos observados com o uso de solventes podem ser observados em fases. Na primeira fase a pessoa apresenta euforia, com diminuição de inibição de comportamento.
Na segunda fase há o predomínio da depressão do Sistema Nervoso Central, o indivíduo torna-se confuso, desorientado, com possibilidade de alucinações auditivas e visuais.
Na terceira fase há o aprofundamento da depressão, com redução acentuada do estado de alerta, a incoordenação ocular e motora (marcha vacilante, fala pastosa, reflexos bastante diminuídos). Na quarta fase, depressão tardia, inconsciência e possibilidade de convulsões, coma e morte.
O uso crônico de tais substâncias pode levar à destruição de neurônios, causando danos irreversíveis ao cérebro, assim como lesões no fígado, rins, nervos periféricos e medula óssea.
Outro efeito ainda pouco esclarecido dessas substâncias (particularmente dos compostos halogenados, como o clorofórmio) é a interação com a adrenalina, pois aumenta sua capacidade de causar arritmias cardíacas, o que pode provocar morte súbita.
Todo o texto aqui apresentado tem como referência o Manual do Curso de Extensão Universitária Prevenção do uso de drogas – Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias – 5ª Edição de autoria de Sérgio Nicastri e também o Manual de Capacitação em Atenção à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade, da Universidade Federal de Santa Catarina.
 

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