III Romaria Nacional da Pastoral Carcerária: Peregrinos da Esperança nos Cárceres do Brasil

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Santuário Nacional de Aparecida recebe mais de 300 agentes da Pastoral Carcerária em um encontro de fé, compromisso e profecia

Nos dias 5 e 6 de julho de 2025, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida foi o cenário de uma das mais tocantes manifestações da Igreja em saída: a III Romaria Nacional da Pastoral Carcerária (PCr). Reunindo mais de 300 agentes de 17 Estados e o Distrito Federal, o evento celebrou o Ano Jubilar 2025 sob o tema “Peregrinos da Esperança” e reafirmou a vocação de ser presença de Deus no mundo dos cárceres, levando consolo, justiça e libertação aos/as encarcerados/as e seus familiares.

Logo na manhã de sábado (05), a romaria iniciou com momentos de acolhida, fraternidade e espiritualidade, marcando o reencontro daqueles que, semana após semana, visitam os presídios e dão voz aos/as invisibilizados/as. “A presença dos agentes da PCr é um sinal profético da Igreja junto aos crucificados de hoje”, destacou Irmã Petra Pfaller, coordenadora nacional da Pastoral Carcerária. Entre os destaques da  programação, os/as peregrinos/as participaram de duas importantes palestras que aprofundaram os pilares da missão pastoral neste tempo jubilar: a fala do Dom Henrique Aparecido de Lima, bispo referencial da Pastoral Carcerária nacional, e do Pe. Marcelo Santiago, agente da PCr de Minas Gerais, ambos convocando os/as agentes a uma renovação do chamado evangélico e ao compromisso com a justiça, a misericórdia e a paz.

Dom Henrique: O Jubileu como tempo de libertação e transformação do sistema prisional
Complementando a dimensão espiritual com ações práticas, Dom Henrique, bispo referencial da PCr nacional, apresentou ainda sábado caminhos concretos para viver o Jubileu dentro das prisões brasileiras, com foco na Justiça Restaurativa e no desencarceramento. Ele propôs medidas urgentes:
– Promoção de alternativas penais e políticas de reintegração;
– Estímulo à leitura, educação e práticas restaurativas nas unidades prisionais;
– Denúncia de violações de direitos humanos e articulação com o sistema de justiça;
– Mobilização comunitária, com caminhadas, audiências públicas e formações sobre justiça e paz;
– Acolhimento a egressos e familiares, com suporte espiritual, psicológico e profissional;
– Evangelização com solidariedade, através da visita, da escuta e da partilha da Palavra.

“Peregrinar como Pastoral Carcerária é caminhar com os excluídos, restaurar a dignidade humana, e anunciar o Reino de Deus até os lugares mais sombrios da sociedade.”

Vocação e missão: o chamado ao serviço no mundo dos cárceres
Em sua profunda reflexão intitulada “A vocação do/a agente da Pastoral Carcerária”, Pe. Marcelo, coordenador das Pastorais Socais da Arquidiocese de Mariana e membro da Coordenação Colegiada da Pastoral Carcerária Estadual de Minas Gerais, reforçou que a missão no cárcere nasce da fé e da compaixão: “Jesus nos envia a libertar os que jazem nas prisões (Lc 4,18). Somos chamados a ser presença viva do Evangelho no lugar da dor, da exclusão e da injustiça. A vocação do agente é a de amar com ações concretas, de servir com um coração inquieto e compassivo.”

Inspirado na figura do Cardeal Van Thuan, preso por 13 anos no Vietnã, Pe. Marcelo recordou que a prisão não é um obstáculo ao Evangelho, mas terreno fértil para o testemunho da fé, da esperança e da transformação: “O amor é a única força que pode vencer a violência e abrir caminhos de reconciliação. O que fizermos ao menor dos nossos irmãos presos, é ao próprio Cristo que fazemos” (cf. Mt 25). Ao final, Pe. Marcelo presenteou, simbolicamente, cada agente com três grandes símbolos da missão:
A LUZ: sinal de Cristo que nos guia no ambiente sombrio dos cárceres;
A PALAVRA: fonte e norte da missão evangélica;
O AVENTAL: imagem do serviço humilde e perseverante, como Jesus que lavou os pés dos discípulos.

No final do encontro de sábado Pe. Almir, Vice Coordenador Nacional motivou caminhada até a Porta Santa da Basílica de Aparecida. (verificar se não seria Porta Jubilar)
Dom Orlando Brandes: “Jesus conhece a dor do cárcere. Vamos por fé e por amor”

Durante a celebração da Eucaristia da Romaria, domingo (06), Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, pronunciou uma homilia tocante e poderosa:
“Eu estava preso, eu era um encarcerado, e tu me visitaste. Jesus sabe o que é uma cadeia. Pedro também. Paulo também. E os mártires, idem. Então, por que não levar Jesus — que conhece a dureza do cárcere — para dentro das prisões?”

Dom Orlando destacou que a fé autêntica sempre busca a justiça, e que a missão da Pastoral Carcerária não é apenas religiosa, mas profundamente evangélica e social:
“Abrir as portas da justiça é respeitar a dignidade de quem errou. E quem erra não perde a dignidade de filho de Deus.”

Uma Igreja em saída: aos pés da Mãe Aparecida, um renovado ‘sim’ à missão

A imagem de Nossa Senhora Aparecida, mulher negra, símbolo de resistência e cuidado, esteve no centro de toda a espiritualidade vivida na romaria. Inspirados por sua presença, os agentes reafirmaram sua vocação de ser presença cuidadora, voz profética e sinal de esperança nas prisões brasileiras. O testemunho de fé e transformação do Sr. José Carlos, agente da PCr de Bataguaçu (MS), emocionou os presentes. A partir de uma visita inesperada em sua juventude, ainda preso, ele encontrou um novo rumo para sua vida, tornando-se agente da pastoral. “A visita mudou meu destino. Alguém se importou. Isso me fez querer fazer o mesmo pelos outros.”

Mãe Aparecida, ensina-nos a servir com amor

A romaria se encerrou com uma oração fervorosa a Nossa Senhora Aparecida, pedindo sua intercessão por todos os encarcerados, suas famílias e pelos agentes que, mesmo diante dos desafios, seguem firmes na missão:
“Faz de nós instrumentos do teu Filho, para que os que estão nos cárceres também tenham vida, vida em abundância. Que o teu coração nos ensine a servir com amor, entrega e doação.”
Um marco profético para a Igreja no Brasil

A III Romaria da PCr Nacional foi mais que um evento: foi um ato de esperança concreta, de fé que transforma, e de compromisso com uma sociedade mais justa. Em tempos de encarceramento em massa, intolerância e exclusão, os agentes da Pastoral Carcerária seguem sendo luz nos cárceres, profetas da compaixão e mensageiros da libertação.

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