Como devemos enfrentar a violência?

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Promover a paz é mais do que desejar o bem: é se comprometer com o cuidado, a escuta, o outro. E, acima de tudo, com nossa própria cura. Pois só corações curados podem restaurar o mundo.

 

A pergunta ecoa forte em tempos tão marcados por tragédias e desamparo. Mas talvez a resposta não esteja em mais armas, mais grades ou mais ódio. Talvez a resposta esteja justamente em desaprender a violência que nos habita – porque, sim, ela também mora em nós.

Somos todos responsáveis. Não há neutralidade diante da violência. Quando cruzamos os braços, quando fechamos os olhos para os sinais que alguém dá, quando preferimos culpar do que cuidar, estamos fortalecendo o ciclo do sofrimento.

Quantos dos que hoje cometem violências brutais não deram sinais antes? Quantos não pediram ajuda em silêncio? Quantos não foram vítimas de outras violências antes de se tornarem agressores?

“Quem são os assassinos? Apenas quem comete o ato ou também quem se omite diante do sofrimento alheio?”

A Justiça Punitiva fracassou porque ela olha o crime, mas não olha a dor. Ela aponta o dedo, mas não estende a mão. Ela pune, mas não cura. E enquanto curar não for prioridade, seguiremos repetindo os mesmos ciclos – agora mais sofisticados, mais cruéis, mais impessoais.

Nossos pais educaram com dureza e, por medo, talvez tenhamos evitado certos comportamentos. Mas em nossos filhos — criados num mundo cada vez mais acelerado, individualista e desconectado da empatia — as violências já são silenciosas, internas, emocionais.

“Quantas vezes desejamos, mesmo que em pensamento, a morte de alguém?”

Quantas vezes usamos a palavra como arma? Quantas vezes julgamos sem saber?

Não somos só vítimas da violência: muitas vezes, somos seus agentes.

O capitalismo selvagem, o consumismo desenfreado, a violência estrutural das favelas, da falta de oportunidades, da ausência de políticas públicas, tudo isso nos adoece e naturaliza o abandono. E então, quando a tragédia explode, perguntamos: por quê?

Mas deveríamos perguntar:

  • Onde estávamos quando aquele menino sofreu bullying?
  • Quem ouviu aquela menina que pediu socorro no silêncio?
  • Por que as escolas não têm rodas de escuta com quem tem dor?
  • Quem nos ensinou a sentir sem machucar? A chorar sem ser fracos?

A resposta passa por prevenção. E prevenção se faz com cuidado, presença, escuta, afeto.

Grupos formados em Justiça Restaurativa e práticas circulares podem abrir espaços seguros para que crianças e adolescentes falem, chorem, gritem, compartilhem. Onde há escuta verdadeira, há possibilidade de transformação. Onde há acolhimento, há caminho. Onde há comunidade, há proteção.

Mas quem nos ensinou a lidar com as emoções?

Ninguém.

Ninguém nos ensinou a nomear a tristeza. A acolher a raiva. A transformar o medo em cuidado. O que aprendemos foi a reprimir ou explodir.

A História está cheia de horrores. O rei Herodes mandou matar todas as crianças com menos de dois anos. Guerras foram travadas em nome de poder, fé e lucro. E seguimos, século após século, colocando a culpa fora de nós.

Mas é tempo de mudar. É tempo de restaurar.

Perguntas geradoras para um círculo de diálogo:

a) Em que momento da vida você sentiu que precisava ser ouvido, mas ninguém percebeu?

b) Você consegue identificar uma situação em que respondeu com violência por não saber o que sentia?

c) Quais violências você testemunha e prefere não ver?

d) Quem você gostaria de perdoar? Quem gostaria que te perdoasse?

e) Você acredita que sua dor, se não cuidada, pode virar arma contra outro?

f) Se pudesse mudar uma coisa em nossa forma de viver juntos, o que seria?

Concluímos com a luz da Palavra: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5,9)

Promover a paz é mais do que desejar o bem: é se comprometer com o cuidado, a escuta, o outro. E, acima de tudo, com nossa própria cura. Pois só corações curados podem restaurar o mundo.

Grupos formados em Justiça Restaurativa e práticas circulares podem abrir espaços seguros para que crianças e adolescentes falem, chorem, gritem, compartilhem. Onde há escuta verdadeira, há possibilidade de transformação. Onde há acolhimento, há caminho. Onde há comunidade, há proteção.

Mas quem nos ensinou a lidar com as emoções? Ninguém.

Ninguém nos ensinou a nomear a tristeza. A acolher a raiva. A transformar o medo em cuidado. O que aprendemos foi a reprimir ou explodir.

Autora: Vera Dalzotto

Fonte: neipies.com

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