Como a história se repete na maioria das unidades prisionais do Brasil, optamos por não precisar onde aconteceu e quais foram os agentes da PCr que vivenciaram o episódio, mas o fato é real e se deu em 2012, em mais uma situação de revista vexatória, prática que tem o total repúdio da Pastoral Carcerária
Na porta de um presídio em um estado qualquer do Brasil
Hoje de manhã, cedinho, fomos para a porta do presídio no dia de visita familiar, devido às múltiplas denúncias que recebemos sobre o tratamento na hora da revista vexatória. Já estávamos totalmente convencidos da necessidade de acabar com a revista vexatória, mas se é possível ser mais convencido do que “totalmente convencido” agora estamos.
Conversamos com muitas pessoas – quase todas mulheres, mas alguns homens também. Crianças corriam e brincavam. As tigelas dos que esperavam estavam cheias de comida. Na fila, pessoas que chegaram ontem para dormir no carro ou no ônibus- e pessoas que saíram de casa às 3h da madrugada para pegar fila após fila após fila.
E elas nos contaram barbaridades da revista- de agentes penitenciárias as ofendendo verbalmente, dando risada e dizendo que a pessoa fede, está suja e precisa tomar banho…; de grávidas tendo de agachar e agachar e agachar, e fazer força e soprar para mostrar que não estavam segurando nada no corpo. De muitas que foram até o pronto socorro para ser examinadas e mostrar que não tinham nada no corpo (aliás, uma nos contou que o médico do PS recusou-se à tarefa, porque disse que não era emergência e não recebia salário do estado por isso).
Uma das mulheres contou que depois de agachar muitas vezes, foi obrigada a virar e a agente fez exame de toque no ânus dela. Outras contaram como foram obrigadas a usar a mão para abrir mais a genitália e mostrar que não tinham nada… Umas senhoras de idade falaram que são obrigadas a agachar – apesar da dificuldade em fazer isso… Outra nos garantiu que a agente de segurança disse que o filho dela tinha de ser revistado por um homem (apesar de ter somente 5 aninhos de idade). A regra que já ouvimos é que a partir dos 12 anos, um menino tem de passar na revista com os homens.
Como diziam alguns nas filas, “quem sofre mais é a família. Eles não sabem o que a gente passa toda semana”.
As mulheres que foram para o pronto socorro são obrigadas a assinar um termo dizendo que foram de livre e espontânea vontade… E se uma recusar-se a assinar o termo? Perde direito de visita! Bom, a visita daquele dia já estava perdida. Muitas vezes, as mulheres estão com crianças que ficam também vendo tudo. Uma delas contou-nos que precisou passar por exame anal na revista vexatória, tudo feito na frente do filho de cinco anos, que ainda com a imagem na cabeça é capaz de descrever tudo o que viu.
É um horror atrás de outro! É muito forte estar no escritório e ouvir as denúncias de uma pessoa sobre os maus-tratos, mas é muito mais forte presenciar centenas de pessoas na fila esperando passar por isso! E o local onde fomos era muito longe e contra mão, e no dia de visita não pode levar jumbo (só comida). Então, só restava voltar para lá no dia de jumbo ou pagar Sedex para mandar as coisas para o presídio.