Estamos às vésperas das eleições. Em tudo aquilo que se consegue escutar, tanto no âmbito nacional como no âmbito dos estados, não se visualiza perspectivas de um futuro promissor.
Nos debates existem ataques pessoais; além disso, se procura elencar o que foi feito pelo próprio candidato ou pelo partido, mas não aparece uma proposta política de governo e muito menos ainda de Estado. As promessas são as mesmas e, muitas vezes, totalmente fora do alcance e das competências administrativas. Os discursos são vazios, estéreis e enfadonhos. Insuportáveis.
Aparecem pessoas que se candidatam sem nenhuma vocação política, por isso, não temos lideranças, uma vez que os filhos e os netos, necessariamente, vão entrando para manter a hereditariedade. Nesse momento, os defuntos são resgatados para dar nome aos novos que entram sem nenhuma trajetória e sem carismas. Política é sinônimo de profissão para muitos candidatos.
O povo passa a ser muito valorizado e se deixa enganar pelas falsas promessas. Estou numa pequena cidade do interior da Paraíba com 18 mil habitantes. O povo daqui se tornou querido, inteligente, capaz e muito visitado. Tempo de eleição é tempo de hipocrisia, de mentira, de sorrisos largos, de abraços falsos, por um curto tempo. Parece que estamos numa novela ou numa peça de teatro.
Um dado extremamente preocupante para nós que fazemos a Pastoral Carcerária nos estados do Brasil: não se tem conhecimento de uma proposta para a realidade prisional. É como se nos próximos quatro anos, a gravíssima realidade prisional não fosse um desafio a ser enfrentado. Com tantos debates, em nenhum deles, a não ser que eu esteja desinformado, veio átona essa realidade.
Penso que nessas eleições, os políticos esqueceram que as famílias que sofrem com as práticas autoritárias e desumanas desses governantes, também votam. Como se fala em Segurança Publica, em Educação, em Saúde, sem pensar nas masmorras, nos campos de concentração, nas senzalas dos tempos modernos de nossos estados?
É escandalosa e vergonhosa a situação e se torna muito mais ainda com o silêncio covarde de quem está se propondo a assumir essa realidade sem pensar nela, sem propostas e sem compromissos.
Gostaria de recordar aqui algumas perguntas que o papa Francisco recomenda a quem quer fazer um bom governo:
“Não se pode governar o povo sem amor e sem humildade. E todo homem e mulher que assume um cargo de governo, devem fazer estas duas perguntas: ‘Eu amo o meu povo para servi-lo melhor? Sou humilde e dou ouvidos a todos, ouço várias opiniões para escolher o melhor caminho? ’. Se estas duas perguntas não forem feitas, não será um bom governo. O governante, homem ou mulher, que ama seu povo, é um homem ou uma mulher humilde”.
Nessas perguntas do Papa, aparecem também os critérios que devemos usar diante da urna e da nossa consciência. Na verdade, o Papa põe elementos diante dos quais devemos nos posicionar.
Vamos acompanhar todo esse processo tendo diante dos olhos uma palavra do Evangelho: “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7,20).
Padre Bosco Nascimento
Coordenador da Pastoral Carcerária no Estado da Paraíba
Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos
E-mail: pebosco@gmail.com
CONHEÇA A AGENDA NACIONAL PELO DESENCARCERAMENTO