De norte a sul, de leste a oeste do Brasil, vários agentes da Pastoral Carcerária participaram do 22º Grito dos Excluídos e Excluídas. A proposta do Grito surgiu no Brasil no ano de 1994 e o 1º Grito dos Excluídos foi realizado em setembro de 1995, com o objetivo de aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, que tinha como lema “Eras tu, Senhor”, e responder aos desafios levantados na 2ª Semana Social Brasileira, cujo tema era “Brasil, alternativas e protagonistas”. Em 1999, o Grito rompeu fronteiras e estendeu-se para as Américas.
O tema “Vida em primeiro lugar” de todas as 22 edições do Grito, foi acompanhado este ano pelo lema “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata”, seguindo palavras pronunciadas pelo Papa Francisco no encontro com os movimentos sociais na Bolívia. Um tema de grande atualidade que não pode passar em segundo plano para quem lida diariamente com o produto deste sistema, como a Pastoral Carcerária e seus agentes.
De fato, o atual sistema econômico e social, vivendo uma crise sem precedentes, hoje tenta preservar seus privilégios excluindo as pessoas por meio de uma criminalização, atacando e denegrindo seus movimentos, encarcerando seus militantes, criando a síndrome do medo e expectativas de falsas seguranças, e por meio de ações midiáticas, como a operação Lava Jato e o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, apresenta uma falsa imagem um sistema politico ético e democrático.
Esse grito pela vida em primeiro lugar chegou também mais uma vez ao Santuário Nacional de Aparecida, onde centenas de milhares de pessoas que lá se dirigiram no Dia da Pátria ouviram uma mensagem bem diferente daquela dos desfiles militaristas, pudendo entrar em contato com a dor do povo do Distrito de Bento Rodrigues (MG), atingido em novembro de 2015 pela lama da mineradora Samarco, que é controlada pela Vale e pela BHP Billiton, demonstrando numa maquete como o sistema econômico destrói, mata e ainda mais exclui, transformando seus cidadãos em criminais.
Outros gritos se fizeram ouvir entre os muros da casa da Mãe, um deles o da Pastoral Operária, que colocou nos braços da Mãe negra Aparecida os sonhos da construção de um mundo justo, e o da Pastoral Carcerária, pedindo a fim do encarceramento em massa, a democratização do judiciário, uma justiça horizontal e restaurativa. O clamor desses gritos foi recolhido e recolocado por Dom Angélico Sândalo Bernardino, que presidiu a celebração eucarística, comentando o texto evangélico das bem-aventuranças e as palavras de Papa Francisco, que recebeu em Roma a imagem de Nossa Senhora Aparecida e expressou toda a sua tristeza e dor pelo momento difícil pelo qual passa a nação brasileira e particularmente os mais pobres, os descartáveis da sociedade. O Papa denunciou e ressaltou mais uma vez que o sistema capitalista privilegia alguns, os chamados “bons”, e continua excluindo, matando e degradando de várias formas seus cidadãos trabalhadores a quem não paga justos salários e tira direitos conquistados com sangue e suor; os jovens não lhes oferecendo uma educação de qualidade, as pessoas idosas tirando-lhes o direito a uma aposentadoria digna, as famílias negando-lhes o direito a uma vida digna, mercantilizando, escravizando e sacrificando a vida humana ao deus dinheiro.
O empenho agora é que o Grito dos Excluídos e Excluídas se materialize e concretize numa reforma geral do sistema que tem no projeto do Estado que queremos e no compromisso de cidadania do povo brasileiro a concretização de outro mundo, de outro Brasil possível.
Reportagem: Padre Gianfranco Graziola, vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária