‘Este Sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!’

 Em Igreja em Saída

Grito_ExcluidosEm 2016, o Grito dos Excluídos chega a sua 22ª edição, com a etapa nacional na quarta-feira, 7 de setembro, feriado do Dia da Independência do Brasil.
O Grito dos Excluídos, atividade da qual a Pastoral Carcerária faz parte, surgiu em 1994, como um dos frutos concretos da 2ª Semana Social Brasileira, que aconteceu nos anos de 1993/1994, com o tema “Brasil: Alternativas e Protagonistas” e foi realizado pela primeira vez em 1995, em 170 localidade dos país com o lema “A Vida em primeiro lugar”.
A atividade é uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. O Grito é uma descoberta, uma vez que agentes e lideranças apenas abrem um canal para que o Grito sufocado venha a público.
O Grito brota do chão e encontra em seus organizadores suficiente sensibilidade para dar-lhe forma e visibilidade. O Grito não tem um “dono”, não é da Igreja, do Sindicato, da Pastoral; não se caracteriza por discursos de lideranças, nem pela centralização dos seus atos; o ecumenismo é vivido na prática das lutas, pois entendemos que os momentos e celebrações ecumênicas são importantes para fortalecer o compromisso.
Em 2016, o lema do 22º Grito dos/as Excluídos – “Este Sistema é insuportável: Exclui, degrada, mata!” chama toda a sociedade a continuar a denunciar todas as injustiças, defender a mãe terra, e lutar por um país justo, solidário, sustentável e fraterno, onde a globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença. Como afirmou o Papa Francisco, sejamos semeadores e protagonistas nos grandes processos de mudança em nosso país! Confiemos em nossa capacidade de organização e promoção de alternativas na busca de terra, teto e trabalho! Lutemos para transformar as estruturas de opressão, dominação, colonização e exploração, por viver com dignidade, por “bem viver”.
Desde 1995, o Grito dos Excluídos realiza-se no dia 7 de setembro. É o dia da comemoração da independência do Brasil. Nada melhor do que esta data para refletir sobre a soberania nacional, que é o eixo central das mobilizações do Grito.
Nesta perspectiva, o Grito se propõe a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa e de participação, colaborando na construção de uma nova sociedade, justa, solidária, plural e fraterna. O Dia da Pátria, além de um dia de festa e celebração, vai se tornando também em um dia de consciência política de luta por uma nova ordem nacional e mundial. É um dia de sair às ruas, comemorar, refletir, reivindicar e lutar. O Grito é um processo, que compreende um tempo de preparação e pré-mobilização, seguido de compromissos concretos que dão continuidade às atividades.
O objetivo geral do Grito dos Excluídos é valorizar a vida e anunciar a esperança de um mundo melhor, construindo ações a fim de fortalecer e mobilizar pessoas para atuar nas lutas populares e denunciar as injustiças e os males causados por este modelo econômico neoliberal e excludente, que degrada e mata.
Também são pontos de atenção do Grito dos Excluídos:
 1- UNIR OS GENEROSOS E AS GENEROSAS
Unir as forças para construir o outro mundo possível, terra onde corre leite e mel, é mais que pressuposto de generosidade; é um princípio e uma confiança no que se faz a partir do comunitário, onde cada um e cada uma oferece os dons que tem para que os processos sejam os mais participativos, plurais, diversos, e inclusivos possíveis.
Em mais um ano, convocamos os generosos e as generosas desse Brasil para se somar na construção desse processo, que é permanente. É hora de reunir os companheiros e as companheiras, sentar juntos para pensar o processo, a mobilização e divulgação necessária, produzir materiais locais, fazer formação nas bases… Tudo o que for possível para que o processo do 22º Grito dos/as Excluídos/as possa envolver muita gente na discussão sobre esse sistema insuportável, que exclui do “desenvolvimento” os/ as pobres, as juventudes, as mulheres, os negros e as negras, os/as indígenas; quilombolas, que degrada a Mãe Natureza; e que mata!
2 – DESMENTIR A MÍDIA
No Brasil, estamos vivendo um tenso cenário de golpismo político e de intolerância político-ideológica conservadora. Assim como em 1964, no Golpe Civil-Militar, a Mídia hoje segue em forte apoio ao golpe com discurso de impeachment da presidente Dilma, pisando em cima da Constituição Federal, e colocando em sério risco nossa jovem Democracia. Ela age conforme os interesses de quem lhe financia, e manipula a bel prazer uma grande massa alienada.
Quando possuía condições populares, o Governo federal não democratizou os meios de comunicação e não regulamentou a Mídia, rompendo com esses oligopólios. Alias, em 2007, até renovou a concessão para os mesmos grupos para mais 15 anos! Hoje, é penalizado pelas medidas que tomou ou, no caso, que também deixou de tomar.
Enquanto os movimentos populares lutam por meios de comunicação mais democráticos, alternativos, sem contar com apoios e subsídios financeiros, a grande mídia está concentrada nas mãos de poucas famílias e têm altos investimentos de empresas e partidos políticos ligados às forças da direita. Na área das comunicações, também há luta de classe: é patrão versus classe trabalhadora, é burguesia versus proletariado.
3 – DIREITOS BÁSICOS
Assistimos ao desfecho da redução e negação de direitos no Brasil e no mundo. Ainda que tenhamos instituições, constituições, declarações, em defesa dos direitos, das pessoas e da natureza, não há muita segurança diante do monstruoso sistema, que o Papa Francisco o chama de “insuportável”. E que, como assegura o Papa, “não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos… sequer o suporta a Terra”.
O direito de ir e vir e ficar é retalhado por cercas mundo afora. Milhares de migrantes e refugiados denunciam isso. O direito à terra, à moradia, é metralhado e usurpado pela especulação imobiliária, a grilagem do agro e hidro negócio. O direito ao saneamento básico, que seria universalizado já, foi prorrogado para 2033. Os direitos dos trabalhadores, conquistados a duras penas, são saqueados na sociedade e no Congresso brasileiro. Muito embora os direitos básicos tenham sido uma conquista constitucional, a efetivação e a negação desses têm ficado à mercê do sistema burguês que ainda define o que comemos, o que vestimos, o que assistimos etc.
Continuemos a luta contra este “sistema insuportável”. Não basta conquistar direitos, é preciso vigiar constantemente para não os perder. Faz-se necessário, enquanto lutamos, construir e fortalecer novas experiências, que fortaleçam a garantia dos direitos básicos, sobretudo nos momentos de crise.
4 – AS VÁRIAS FORMAS DE VIOLÊNCIA
Reconhecemos que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera de nossos bairros, disse o Papa Francisco. Pode assim dizer que essa violência inicia com a violação dos direitos básicos. Quando os direitos são ameaçados, violados, rompidos, é o primeiro ato de violência contra os sujeitos sociais. Violência essa que massacra os valores que orientam a vida em comunidade, a sociedade, sejam eles religiosos, políticos, ou simplesmente a ética da convivência humana.
Portanto, a violência institucional, dominada pela força do capital, é uma das piores, a qual assistimos rigorosamente nos últimos tempos. A intolerância, a exploração e a injustiça que começam nos próprios espaços institucionalizados, se estendem e extrapolam para além das instituições e chegam nas relações familiares e comunitárias e, “exclui, degrada, mata”. A concentração de renda, algumas determinações judiciais, a segregação social, a sonegação de impostos, são grandes atos de violência. Porém, a mídia espetaculariza apenas as violências de roubo, tráfico etc.
Destacamos a violência contra a mulher, humana e ambiental, pela qual todos os dias morrem seres humanos, espécies vegetais, minerais e animais. Quem se responsabiliza por isso? Quem foi responsabilizado pelo crime da barragem da Samarco em Mariana? Quem é responsabilizado por milhares de jovens (pobres, negros, da periferia) que são assassinados a cada ano? Sequer investigam a maioria desses casos. De igual forma, não se responsabilizam por milhares de famílias que perdem seus bens nas enchentes, inundações. Ousamos repetir que: Este sistema capitalista, que exclui, degrada e mata, não nos serve!
5 – FUNÇÃO DO ESTADO
O Estado capitalista sofre de patologia grave. O desenvolvimento neste cenário nem sempre está caracterizado pela melhoria na qualidade de vida, a partir da ótica do empoderamento dos indivíduos, da reafirmação de culturas e da proteção de ecossistemas locais. A sempre supremacia do dado quantitativo sobre o dado qualitativo, assumido a qualquer custo, traz um dano grave à Casa Comum. As práticas de subsistência, consumo local e outras sustentadoras da vida, não são contabilizadas, a partir de uma lógica de desenvolvimento, que prefere compreender como crescimento os milhões investidos na reconstrução do desastre de Mariana/ MG, que impactará no PIB, por exemplo, do que nessas práticas sustentáveis de um outro modelo de produção de energia, alimentos e outros bens de necessidade.
Neste sentido, o Estado tem papel fundamental de compreender que não somente as riquezas produzidas, mas também as riquezas limitadas da Terra sejam igualmente distribuídas e ou preservadas. Reduzir o consumo e a acumulação da pequena porcentagem da população, que detém a grande porcentagem da riqueza, é o passo fundamental para a libertação de milhões de pessoas que sofrem, vítimas da pobreza e suas consequências.
6 – PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
A figura do Papa Francisco nos é muito importante nesse processo de mobilização e de motivação. Utilizando-nos de mais um trecho da fala dele aos movimentos populares, na Bolívia, em julho de 2015, ressoamos que o futuro da humanidade não está nas mãos das grandes potências, dos políticos, das empresas… Está sim é na mão dos povos, nas suas capacidades de se organizar e em suas mãos humildes que regem com firmeza os processos reais de mudanças.
A participação política popular é fundamental para que os processos de mudanças locais desencadeiem em mudanças globais, para desafios globais. Isso o Papa também nos motiva, agora na Laudato si’. E é fundamental unir nossos povos para buscar a justiça socioambiental, para a construção de um projeto popular de fato, autônomo dos interesses empresariais, partidários e das elites econômicas.
7 – A RUA É O LUGAR
O Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si (231), nos diz que: “O amor social é a chave para um desenvolvimento autêntico: ‘Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor a vida social – nos planos político, econômico, cultural – fazendo dele a norma constante e suprema do agir’”. Nos últimos tempos temos visto uma reocupação de um dos espaços mais nobres da vivência desse amor: a rua! Nela transitam todos e todas. Nela os enamorados passeiam de mãos dadas, nela os pássaros se alimentam para voar, nela a galera descobre caminhos. Nela também muitos morrem! Houve momentos na história em que sua construção já foi sinônimo de desenvolvimento. Em outros, seu vazio era a máxima da “ordem e progresso”. Na rua já enfrentamos a cruz, na rua já enfrentamos canhões, mas também na rua já conquistamos casa, na rua já conquistamos trabalho, na rua já conquistamos escola, universidade, saúde, etc. Também na rua gritaremos juntos e juntas, na vivência do amor coletivo, o nosso simples, possível, justo, necessário e urgente cuidado da Mãe-Terra, nossa Casa Comum. Dela não seremos excluídos! Que a rua seja para a Casa, assim como a Casa será para a rua.

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