“A PCr tem muito mais do que um significado profissional na minha trajetória, é a continuidade de uma opção militante e de uma luta por uma sociedade mais justa, em que as pessoas não sejam mortas ou oprimidas em função do seu gênero, cor, orientação sexual ou condição social”.
É assim que Paulo Cesar Malvezzi Filho analisa a missão de assessor jurídico da Pastoral Carcerária Nacional, função que ocupa desde junho de 2014. Formado em Direito na Universidade Mackenzie, Paulo já havia atuado como agente voluntário da Pastoral Carcerária e anteriormente assessorou a ex-ouvidora-geral da Defensoria Pública de São Paulo, Luciana Zaffalon.
Nesta entrevista ao Site da PCr Nacional, Paulo Malvezzi detalha sua trajetória profissional e pessoal, explica as funções que desempenha na Pastoral e enfatiza que a luta contra o encarceramento em massa deve ser o foco do trabalho da Pastoral.
Site PCr Nacional – Paulo, conte-nos um pouco sobre sua formação, biografia e trajetória profissional. Enfim, quem é você?
Paulo Cesar Malvezzi Filho – Sou natural de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, e me mudei para a cidade de São Paulo após iniciar meus estudos na Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie. Na Faculdade, participei de alguns grupos de estudo e fui coordenador-geral do C.A. João Mendes Junior, oportunidade em que tive contado com diversos grupos políticos e movimentos populares, entre eles as Pastorais Sociais. Já formado, atuei profissionalmente como advogado, fui agente voluntário da PCr, presidente do Instituto Práxis de Direitos Humanos e assessorei a Ouvidora-Geral da Defensoria Pública de São Paulo, a Luciana Zaffalon, até o final do seu mandato, numa experiência riquíssima e da qual muito me orgulho.
Site PCr Nacional – Especificamente, quais são suas atribuições na Pastoral e de que forma sua atuação vai aprimorar o que já tem sido feito?
Paulo Malvezzi – Meu papel fundamental é dar suporte jurídico para a Pastoral Carcerária Nacional e auxiliar as coordenações estaduais, em articulação permanente com os demais advogados, voluntários ou contratados, que nos ajudam em todas as regiões do país. Para além desse trabalho básico, temos também uma dinâmica muito pesada no escritório nacional, assim tentamos todos contribuir em outras frentes e pautas, sempre construindo coletivamente e tendo como horizonte a abolição dessa “instituição” chamada cárcere.
Site PCr Nacional – No âmbito da atuação jurídica da PCr, o que lhe parece mais desafiador diante das condições das políticas carcerárias no País?
Paulo Malvezzi – Não acredito que existam desafios propriamente jurídicos nessa área. Temos desafios políticos, que algumas vezes passam pela forma jurídica e outras não. Acho que jamais devemos inverter essa premissa: o jurídico está a serviço da nossa atuação política enquanto Pastoral Social, e não o contrário. Uma ação proposta no judiciário desconectada da luta dos nossos agentes e do povo preso só serve ao ego dos nossos “operadores do direito”, e é tão inócua quanto enunciar os direitos constitucionais ao vento. Nesse contexto, acredito que a luta contra o encarceramento em massa deve ser central em todo o nosso trabalho. Não podemos lidar com os problemas do cárcere de forma isolada, como se cada um deles fosse um fim em si mesmo, senão faremos pouco mais do que enxugar gelo.
Site PCr Nacional – Por fim, quais as suas expectativas com este novo trabalho? O que significa para estar profissionalmente na Pastoral Carcerária?
Paulo Malvezzi – Minha expectativa é tentar conhecer ao máximo a realidade carcerária do nosso país, e aprender com a experiência e luta dos nossos agentes, que, semanalmente e de forma incansável, se propõem a enfrentar o que talvez o Brasil tenha de pior: suas masmorras. Por fim, a PCr tem muito mais do que um significado profissional na minha trajetória, é a continuidade de uma opção militante e de uma luta por uma sociedade mais justa, em que as pessoas não sejam mortas ou oprimidas em função do seu gênero, cor, orientação sexual ou condição social.