Os cabelos brancos “denunciam” que o tempo, ainda que timidamente, passou para José de Jesus Filho, que em 13 de dezembro de 2000, aos 26 anos, fez sua primeira ficha no grupo de visitantes da Pastoral Carcerária aos presídios da região de Goiânia (GO).
Naquela época, o jovem paranaense, nascido na cidade de Iporã (PR), vivia no planalto central, como seminarista do Seminário Oblato de Maria Imaculada e fazia ações pastorais na cidade de Aparecida de Goiânia (GO). Já era advogado e foi com esse misto de vocação religiosa e capacitação profissional, que se dispôs a prestar solidariedade às pessoas presas.
No último dia 31 de março, aos 39 anos e recém-casado, José deixou a função de assessor jurídico da Pastoral Carcerária Nacional, que ocupava desde 2004. Vai se dedicar ainda mais ao doutorado em administração pública e governo, mas seguirá na PCr como voluntário.
A Pastoral Carcerária em todo o Brasil, agradece a José de Jesus Filho pelos 14 anos de dedicação, seja no auxílio jurídico às pessoas presas, seja pela coordenação dos trabalhos de comunicação da Pastoral (foi um dos idealizadores do site da PCr), seja pelo engajamento em defender as posições da Pastoral, em eventos nacionais e internacionais, contra o encarceramento em massa, a revista vexatória e a superlotação carcerária; e pela busca incansável da dignidade das pessoas presas.
“Estive preso e vieste me visitar”, lema da Pastoral Carcerária que José de Jesus Filho, em 14 anos de atividades, nunca deixou de cultivar e que certamente seguirá a fazê-lo!
AS OPINIÕES DE JOSÉ DE JESUS FILHO
Nem todos vão para a prisão
“Prendemos as pessoas erradas, e prendemos mal. Prendemos pessoas que cometeram crime contra o patrimônio ou tráfico no varejo e deixamos os crimes de colarinho branco ou os grandes gerentes do tráfico de fora. Eles não são presos porque não há investigação. Só prendemos quem está cometendo o crime no ato. Aquele que planeja e aquele que supervisiona o crime dificilmente são presos”.
Apresentação do relatório Crime, Segurança Pública e Desempenho Institucional em São Paulo, março 2014.
Combate à prática de tortura
“O governo não tem criado mecanismos de prevenção à tortura. Os interrogatórios não são filmados. Ninguém deveria ficar na delegacia por mais de um dia, mas fica. O governo federal não criou uma fiscalização periódica nas prisões. O Ministério Público deveria fazer isso, mas não faz. Deveria ser o primeiro, mas omite. Não há controle da atividade dos policiais”.
Entrevista ao jornal online GGN, agosto de 2013.
Em defesa da saída temporária de presos (indulto)
“Não podemos fazer política pública com base na emoção, na raiva que a sociedade está passando em relação a um criminoso, porque são milhões de vida em jogo. Que façamos política pública com base em pesquisa, com base em reflexão, em estudo, e não com base em um crime que acabou de acontecer. Nós insistimos que a saída temporária deve ser mantida”.
Em entrevista à rádio Jovem Pan, julho de 2013.
Não à privatização de presídios
“A iniciativa privada quer lucro. Mas o sistema penitenciário não pode proporcionar isso, não segue a lógica do mundo dos negócios”.
Entrevista ao Jornal Correio Braziliense, janeiro de 2013.
Não à prisão provisória
“A prisão provisória acaba se convertendo numa espécie de porta giratória: eles vão e voltam”.
Em evento na sede do Conselho Federal da Justiça, outubro de 2012.
Contrário ao porte de arma para agentes penitenciários
“A flexibilização da concessão de porte para categorias que não dispõem de mecanismos de treinamento e controle interno e externo adequados é catastrófica”.
Trecho de artigo ao Jornal Correio Braziliense, novembro de 2013.
O porquê do encarceramento em massa
“A prisão tem sido a política pública voltada às camadas mais pobres em alguns estados como São Paulo. Outro fator importante de superlotação tem sido a lei de drogas de 2006. Esta lei representou o superencarceramento de usuários de drogas, a despeito de sua intenção inicial de retirar os usuários das prisões”.
Entrevista ao Portal Unisinos, junho de 2012.
Sobre o domínio das facções criminosas nos presídios
“As facções só existem porque não há uma real presença do Estado, em termos de controle e assistência, no interior das prisões. O número de agentes penitenciários é mínimo, o que os obriga a dividir o poder com as lideranças internas. As assistências são quase inexistentes. Tudo isso empodera as facções que oferecem ‘segurança’ e assistência mínima, fazendo ruir legitimidade e a autoridade do Estado diante dos presos”.
Entrevista ao Portal Unisinos, junho de 2012.