A prevalência de transtornos mentais graves entre as pessoas presas é de cinco a dez vezes maior do que na população geral, segundo um estudo do Departamento de Psiquiatra da Unifesp. Para as mulheres, os números são ainda mais preocupantes, já que entre 617 entrevistadas, 68,9% já tiveram algum tipo de transtorno mental ao longo da vida, sendo que para 38,4% delas, o desenvolvido do transtorno se deu no último ano.
A informação foi publicada recentemente em reportagem de autoria de Renata Oliveira, no site revista AzMina, mantida pela Associação AzMina de Jornalismo Investigativo, Cultura e Empoderamento Feminino.
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A pesquisa da Unifesp foi conduzida por Maíra Mendes dos Santos, mestre em Psiquiatria e Psicologia Médica, com 1.809 detentos (1192 homens e 617 mulheres).
O distúrbio mais frequente apresentado tanto por homens quanto por mulheres presas foi o relacionado ao transtorno fóbico-ansioso, no qual estão inclusos o pânico, a agorafobia e o transtorno de estresse pós-traumático, que afeta cerca de 40% das mulheres encarceradas e 26,4% dos homens. O segundo maior distúrbio encontrado entre os detentos é o considerado de natureza afetiva, como transtorno bipolar e depressão, apresentada por 36,5% das mulheres e 12,3% dos homens ao longo da vida.
Conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), de junho de 2015, 63% das unidades prisionais não possuem um módulo de saúde para o atendimento dos detentos, o que impossibilita o acesso a qualquer serviço de atenção básica no local. Além disso, há apenas 187 médicos psiquiatras em todo o país responsáveis por cuidar da saúde mental dos presos, sendo que estados como Rio de Janeiro e Roraima não contam com qualquer profissional da área, enfermeiros ou dentistas.
Na opinião da presidente do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), Michael Mary Nolan, as unidades prisionais não foram pensadas para receber mulheres. “Qualquer pessoa que passe pelo presídio volta para a sociedade mais fragilizada. A finalidade da prisão é destruir a segurança de que ela é alguém importante”, comenta Michael.
O álcool e as drogas também figuram nas estatísticas como um outro fator comum, atingindo 40,8% das mulheres até o momento da prisão, enquanto os homens aparecem com 45%, porcentagem que sobe para 89,9% se levado em consideração os presos em detenção temporária. É possível também notar uma diferença na maneira como os entorpecentes são utilizados por cada um. Enquanto para elas, os ilícitos são uma forma de automedicação para bloquear sentimentos e lembranças traumáticas, para a maior parte dos homens as substancias são vistas como uma curiosidade na busca de uma nova forma de obter prazer.
Dentro do sistema penitenciário, as mulheres que dão à luz durante o cumprimento da pena são bastante afetadas psicologicamente pelo rompimento com o novo filho. “Quando presas, elas costumam recorrer a comportamentos autodestrutivos, como tentativa de suicídio, falta de cuidado pessoal da saúde física e problemas psicológicos”, conta Maíra, responsável pela pesquisa. “Outro fator complicador é, por questões culturais, maior suscetibilidade de rejeição social, durante o cumprimento e após a pena. Nesse sentido, as mulheres costumam receber menos visitas no presídio que os homens, além de serem abandonadas pelo parceiro”.
“É preciso observar que quando se prende uma mulher, se quebra um núcleo familiar. A reintegração é difícil. Se uma mulher tem dificuldade nessa sociedade para avançar, é ainda pior para uma mulher presa”, aponta Michel, o que deixa claro que se hoje as discussões sobre a marcha lenta dos avanços de direitos e cuidados do ser humano ainda são uma rotina, é porque ainda não aprendemos que não há avanços se alguém é deixado para trás.