Justiça Restaurativa passa pela Humildade e Perdão

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A justiça restaurativa, em sua essência, promove a humildade como uma fonte inesgotável de conhecimento e cura. Quando nos dispomos a caminhar pela estrada da restauração, percebemos que a verdadeira sabedoria não está apenas em conhecer, mas em se abrir para o outro, em nos abrirmos a nós mesmos. É nesse momento que a humildade se revela como uma força poderosa. Reconhecer nossas fragilidades não nos diminui; pelo contrário, nos liberta e nos engrandece. Na justiça restaurativa, esse processo é comparado ao ato de debridar uma ferida, um procedimento doloroso, mas necessário, que retira tudo o que impede a verdadeira cura. Não há cura superficial quando falamos da alma; é preciso curar de dentro para fora.

Assim como uma ferida física só se regenera completamente quando todo o tecido morto e infeccionado é retirado, a alma humana precisa passar pelo processo de limpeza das dores que a consomem. Rasgar-se, nesse sentido, é permitir que o amor, a compaixão trabalhem em nós, removendo tudo o que impede a verdadeira paz interior. A justiça restaurativa, ao valorizar o diálogo, a escuta profunda e o encontro entre as partes ofendidas, nos chama a olhar para nossas próprias feridas e para as feridas do outro com um olhar restaurativo.

Nesse processo de cura, o perdão é o elemento central. Uma decisão profundamente consciente de liberar o outro – e a nós mesmos – Perdoar não significa esquecer o que aconteceu, mas sim transformar a dor em aprendizado, em compaixão, em crescimento. Quem escolhe o caminho do perdão cultiva a humildade, pois perdoar exige que deixemos de lado o orgulho e o desejo de vingança. A justiça restaurativa nos ensina que não existe vitória em alimentar o ódio ou a mágoa; a verdadeira vitória está na capacidade de olhar para o outro – e para nós mesmos – com olhos de misericórdia.

Aquele que perdoa e, consequentemente, se entrega à humildade se torna vitorioso. E estará no pódio da vitória mais importante de todas: a vitória sobre si mesmo, sobre os próprios medos e limitações.

É a humildade que nos faz reconhecer que somos parte de um todo, que nossos atos afetam os outros, que nossas palavras têm poder de construir ou destruir, e que a verdadeira justiça só pode ser alcançada quando somos capazes de restaurar, e não de punir.

Na prática restaurativa, cada círculo de diálogo, cada encontro com o outro, nos convida a esse exercício constante de humildade. Somos chamados a ouvir com atenção, a colocar de lado nossos julgamentos e a nos abrir para o processo de cura que pode emergir desse encontro. E quando nos permitimos viver essa experiência com sinceridade, saímos transformados.

As cicatrizes emocionais e espirituais não desaparecem completamente, mas tornam-se marcas de nossa resiliência, de nossa capacidade de amar e de perdoar, de nossa coragem em seguir em frente. São essas cicatrizes que nos lembram que somos capazes de nos restaurar, de curar e de encontrar, na humildade, a força para viver uma vida plena e em paz.

Que a justiça restaurativa nos guie sempre nesse caminho de sabedoria, compaixão e paz interior.

 

Vera Dalzotto 

 

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