JUSTIÇA RESTAURATIVA ALÉM DOS CÁRCERES

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Dentre os métodos de Justiça Restaurativa o Círculo de Construção de Paz tem sido um dos mais utilizados pela Pastoral Carcerária Nacional. Este modo de dialogar permite aos facilitadores uma melhor preparação do ambiente para discutir assuntos de difícil abordagem na vida das pessoas.

É dessa forma que os agentes formados em JR vêm tratando problemas com alto teor sentimental, possibilitando os participantes de se expressarem e resolverem questões internas guardadas há muito tempo.

Humildade, paciência, escuta ativa, disposição e aceitação são palavras que estão sempre presentes nos círculos. São essas as bases para construir um lugar de respeito e que vão dar a todos a oportunidade de destravar bloqueios e trabalhar a reconciliação consigo e com os outros.

Apesar da formação para os agentes de Pastoral Carcerária serem de grande importância nos trabalhos no cárcere, ela também pode servir para diversos âmbitos da vida. O próprio facilitador de círculos pode se apoiar no método para sua convivência familiar e com a comunidade. Mas isso tem se mostrado muito mais além do que imaginamos.

Muitos destes aplicadores das práticas restaurativa vêm testando as técnicas em outros espaços extra sistema penitenciário. Esta é a maior prova da eficácia da JR na vida das pessoas e na construção de uma sociedade mais humanizada e valorizada.

Vera Lúcia Nunes é uma agente de PCr de São Sebastião no rio Grande do Sul e recentemente participou do curso CHC (Cuidado, Historicidade, Conexão) da Justiça Restaurativa. Na sua vida sempre trouxe consigo o lema: “Tenho por norma colocar em prática tudo que aprendi, por isso quando fiz o curso da ESPERE fiquei muito motivada”.

Infelizmente a pandemia deu uma longa pausa nos círculos no sistema penitenciário, mas a agente não se manteve parada durante este período. Pensando em seu aperfeiçoamento ela se colocou a caminho de novas formações para aprofundar ainda mais o seu conhecimento.

Após mais de 1 ano de restrições da pandemia da Covid-19, a Paróquia de São Sebastião do Caí está retomando as atividades de catequese na comunidade, tudo isso graças ao avanço da vacinação. Vera Lúcia viu no retorno a oportunidade de aplicar os seus aprendizados além-cárceres. Hoje ela exercita os métodos de JR com as crianças catequizandas e tem obtido bons resultados.

A metodologia desperta nas crianças o que os sentimentos guardados podem influenciar em suas vidas. A educação emocional também é importante para o desenvolvimento de cada um e deve começar na infância.
“Vi que as crianças ficaram mais motivadas com o método usado” ressalta. Para não fugir do cronograma dos livros Vera utiliza dos temas, mas dá aquele toque de JR no modo de aplica-los. “Sempre procuro utilizar o tema proposto no livro deles. No entanto, uso a criatividade para colocar junto uma dinâmica que marque o encontro” destaca.

Antes de colocar os sentimentos em uma caixinha definindo entre “bom e mal”, o ideal é ensinar que essas sensações existem e o fundamental é saber o que fazer com elas. Aprender desde pequenos que por trás de uma reação tem indiscutivelmente uma necessidade e ajuda as crianças a também construírem um mundo de paz.
Irmã Cristina Schorck, salesiana de Dom Bosco, também é uma das agentes de Pastoral Carcerária que resolveu levar mais adiante os métodos, sobretudo os círculos de construção de paz.

No projeto em que atua ela tenta levar a ideia para as crianças de que todas as pessoas têm oportunidades e que a condição de privação de liberdade de um familiar não lhes tira esse direito. “Umas das coisas bonitas assim do trabalho é que a gente tenta desmistificar, perder o preconceito contra o familiar do preso (a)”.

Esses são alguns dos exemplos de atuação da JR fora dos cárceres, mas que influenciam diretamente no contexto social. A construção de uma nova visão de mundo onde a liberdade é o princípio para viver bem e em paz na sociedade começa nos primeiros anos de vida. Os círculos são apenas um dos vários caminhos para concretizar este sonho de Deus na Terra.

Texto: Maria Ritha Ferreira da Paixão

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