“Vivo uma constante angústia sabendo que meu irmão passa por tantas situações difíceis. Mas o que mais me machuca é saber que sente fome. A cada visita o vejo mais magro, abatido, machucado fisicamente e psicologicamente”.
Este é o desabafo de Maria P., irmã do José que está preso numa das unidades prisionais no Brasil. Maria P. levanta a cada sábado de madrugada, carregada com sacolas de comida e pega quatro ônibus até chegar à unidade prisional.
Ela sai de um bairro na periferia e atravessa o centro da cidade para visitar o seu irmão num presídio. “É muito longe”, diz ela, “não tenho transporte próprio e o transporte público é caro, é uma luta constante. Já passei mais de três horas esperando em filas e passando por muitas humilhações. Toda vez passo por uma revista rígida, demorada e humilhante”.
Ela conta que são seis postos de fiscalização: portão de entrada, identificação da carteirinha de visita, depois controle biométrico, revistas dos alimentos e roupas permitidas. A revista mais difícil e humilhante é o desnudamento e agachamento. Depois de tudo isso já se foram horas, e Maria consegue dar um abraço no irmão num pequeno pátio sem cobertura, onde outros presos também recebem os seus familiares, tenha sol ou chuva.
Maria P. conheceu a Pastoral Carcerária através de um encontro na frente do presídio, e contou à coordenadora Estadual: “faço parte de uma comunidade na periferia e lá nunca ouvi falar sobre a Pastoral, mesmo sendo uma área com um grande número de jovens presos. De uma hora para outra minha realidade mudou por conta da prisão do meu irmão. Não consegui mais participar na comunidade e nunca recebi nenhuma ligação de alguém, embora todos saibam o que aconteceu comigo e minha família. Desde que passei a viver esta triste realidade que é o cárcere, nunca recebi uma palavra amiga da base de minha paróquia nesses momentos difíceis”.
Ela relata que quando quis saber mais sobre a Pastoral Carcerária, nem mesmo seu pároco soube dar informações, o que a afastou mais ainda.
“Hoje entendo que não foi um fato isolado o que aconteceu comigo, conheço muitos familiares católicos que passam por essa situação também. A cada dia me sinto mas esquecida pela minha comunidade. É um trabalho difícil e penso que se a igreja tivesse essa Pastoral em cada paróquia seria mais fácil”.
Maria questiona que a Igreja tem tantas formações, e seria fundamental uma formação para um assunto como o cárcere, para onde estamos perdendo muitos jovens – a maioria de presos tem de 18 a 29 anos.
“A Pastoral Carcerária me ajuda e dá apoio, solidariedade, e uma palavra amiga é muito importante para não deixar a esperança morrer”. Com este testemunho de Maria P. e à luz da CF 2020, fica o chamado a cada um e uma a sermos bom samaritanos. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele“.
Irmã Petra é coordenadora nacional da Pastoral Carcerária
Maria P. é familiar, e seu nome real foi alterado por razões de segurança