Ato faz memória aos 111 mortos no Carandiru e cobra melhorias no sistema penal

 Em Combate e Prevenção à Tortura

“Nossos mortos têm voz!”, dizia a grande faixa preta que ia a frente dos manifestantes. A noite fria e com garoa da quinta-feira, 2, não foi suficiente para espantar as pessoas, que em marcha pelas ruas da capital relembraram os 22 anos do massacre do Carandiru. O ato, convocado por mais de 15 entidades, entre elas a Pastoral Carcerária, Rede 2 de Outubro e as Mães de Maio, lembrou, também, a morte de um camelô durante a Operação Delegada da Polícia Militar, no bairro da Lapa, em São Paulo.
Além de lembrar os 111 presos mortos em 1992, o protesto criticou o sistema carcerário e as políticas de segurança pública em vigor no país. “Precisamos relembrar essa história porque é uma história que não foi contatada. Quem foi para o banco dos réus foi quem aperta o gatilho, queremos ver a ‘mão do mando’ no banco dos réus”, afirmou Débora Silva, coordenadora e organizadora do movimento Mães de Maio.
Débora não teve um filho assassinado no massacre do Carandiru, mas nos chamados “Crimes de Maio”, sequência de assassinatos ocorridos em maio de 2006 na Baixada Santista, Guarulhos e na capital. “O meu grito como mãe, o grito das Mães de Maio, é um grito de transformação. E o único modo de transformar essa impunidade em justiça é se unir porque o Estado é muito unido contra nós”, afirmou.
Rodolfo Valente, da Rede 2 de outubro, destacou que o massacre no sistema carcerário é cotidiano. De acordo com ele, “as pessoas morrem no sistema carcerário, são apinhadas em espaços pequenos todos os dias. Presídios são lugares de morte cada vez mais”. Para ele, os discursos sobre a privatização das penitenciárias são uma tentativa de “mercantilizar a liberdade alheia”.
Sobre o julgamento e condenação de comandantes e policiais que estiveram no massacre, Rodolfo salienta que a “punição foi simbólica, um júri popular reconheceu o massacre, mas a gente não acredita nesse sistema penal. Enquanto no andar de cima estavam condenando os policiais – que provavelmente não vão cumprir pena nenhuma – no andar de baixo, centenas de milhares de jovens negros estavam sendo mandados para o sistema carcerário. Somos contra esse sistema penal, não acreditamos nele”.
Fonte: Jornal O SÃO PAULO/Edcarlos Bispo

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