Setembro é conhecido como o mês da Bíblia, um período em que as comunidades cristãs se dedicam ao estudo e à reflexão das Escrituras Sagradas, buscando nelas inspiração para a vida cotidiana e para o enfrentamento dos desafios sociais. A Bíblia, além de ser uma fonte de fé e espiritualidade, é também um convite para uma prática cristã comprometida com a justiça, o amor ao próximo e a transformação das realidades opressoras.
Neste contexto, a Justiça Restaurativa emerge como uma proposta profundamente alinhada aos ensinamentos bíblicos, especialmente quando olhamos para o Evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar, perdoar e restaurar as relações rompidas. Diferente da justiça retributiva, que se concentra na punição do infrator, a Justiça Restaurativa busca a reparação do dano, a reconciliação entre as partes e a restauração da paz social. Ela coloca no centro o ser humano, suas dores, seus erros e sua capacidade de transformação.
Porém, vivemos em um país onde o encarceramento em massa tem sido a resposta predominante aos conflitos sociais e às violações da lei. O Brasil possui uma das maiores populações carcerárias do mundo, composta majoritariamente por pessoas pobres, negras e periféricas. Esse cenário reflete uma justiça que se distancia dos princípios cristãos de misericórdia e reconciliação, perpetuando um ciclo de exclusão e violência.
O encarceramento em massa no Brasil é uma realidade que denuncia a falência de um sistema penal que ignora as raízes das desigualdades sociais e que, em vez de promover a reintegração social, contribui para a estigmatização e o aumento da criminalidade. As prisões, muitas vezes superlotadas e em condições desumanas, tornam-se espaços de sofrimento e degradação, ao invés de lugares de transformação e recomeço.
Neste mês da Bíblia, é fundamental que as comunidades cristãs reflitam sobre o papel da Igreja na promoção de uma justiça que verdadeiramente transforme e restaure. Inspirados pela Palavra de Deus, somos chamados a denunciar as injustiças do encarceramento em massa e a trabalhar incansavelmente pela construção de uma sociedade onde a Justiça Restaurativa seja uma realidade concreta, capaz de romper com o ciclo de violência e de oferecer novas oportunidades para aqueles que estão à margem da sociedade.
Que o Setembro da Bíblia seja um tempo de renovação do nosso compromisso com a justiça, a misericórdia e o amor, seguindo os passos de Jesus, que nos ensinou a acolher o oprimido e a lutar por um mundo mais justo e fraterno.