O paradoxo que vivemos hoje é alarmante: enquanto investimos em cuidados luxuosos para animais de estimação, seres humanos são negligenciados, abandonados em condições desumanas, especialmente dentro do sistema prisional. Este contraste gritante não é apenas uma discrepância de prioridades, mas uma profunda inversão de valores que clama por reflexão e ação. A luz da justiça restaurativa, ao iluminar essas questões, revelam a necessidade urgente de avaliarmos nossas escolhas como sociedade.
O que está acontecendo com a humanidade? Como chegamos a um ponto onde se constroem espaços modernos e confortáveis para cães, enquanto seres humanos são jogados em celas superlotadas, onde a dignidade e a esperança são rapidamente esmagadas? Práticas restaurativas nos convidam a olhar para essas realidades com olhos novos, cheios de compaixão e empatia, e a buscar um equilíbrio que restaure o valor da vida humana acima de tudo.
A superlotação carcerária é um reflexo sombrio de um sistema falido, que, em vez de reabilitar, perpetua o ciclo de dor e marginalização. O descaso com as vidas humanas encarceradas é uma mancha em nossa sociedade, que parece ter perdido a capacidade de ver a humanidade no outro, especialmente nos mais vulneráveis. A justiça restaurativa, como uma luz na escuridão, nos desafia a olhar além dos muros das prisões e a enxergar o potencial de cura e transformação que existe em cada ser humano.
Não se trata de questionar o cuidado com os animais, que merecem proteção e carinho. Mas a justiça restaurativa nos lembra que a verdadeira civilidade se manifesta no cuidado com nossos semelhantes, especialmente aqueles que foram relegados às margens. A discrepância entre o tratamento dispensado a animais e a negligência em relação aos seres humanos revela uma sociedade desconectada de sua essência, onde a compaixão parece ser seletiva e limitada.
A luz da justiça restaurativa nos chama a agir, a reverter essa inversão de valores. Ela nos convida a construir um mundo onde as prisões sejam lugares de reabilitação, onde a dignidade humana seja respeitada em todas as circunstâncias, e onde a compaixão não seja um luxo reservado para poucos, mas um direito fundamental de todos. A verdadeira expressão de civilidade está em reconhecer que o cuidado com o próximo – o humano – é o mais alto valor que podemos cultivar.
Em vez de continuarmos a caminhar na escuridão da indiferença, a justiça restaurativa nos guia para um futuro onde todos, independentemente de sua situação, são tratados com dignidade, respeito e compaixão. É hora de redescobrirmos nossa humanidade e de nos comprometermos a construir uma sociedade que valorize a vida em todas as suas formas, começando por aqueles que mais precisam.
Autoria: Vera Dalzotto