Convencionalmente no dia primeiro do ano somos habituados a saudar-nos com uma frase ritual: “Feliz Ano Novo”. Também nos desejamos que seja realmente um ano bom, diferente e melhor do anterior.
Mas a realidade do dia a dia é bem diferente e constatamos que ainda temos muita estrada a percorrer para que o 2024 seja realmente um ano bom, um novo ano. O Papa Francisco pode nos ajudar a percorrer este caminho que ele indicou para os seus mais estreitos colaboradores, a cúria romana, por ocasião dos tradicionais votos de Natal. Francisco, como seu costume propôs três verbos: ESCUTAR, DISCERNIR, CAMINHAR.
Escutar, que não é apenas ouvir, mas abrir o coração, e consequentemente o envolvimento da vida. Escutar é entrar no mistério de outra pessoa para captar seus sonhos e necessidades superando preconceitos e classificações, e a escuta deve ser “de joelhos”, porque só assim, nos abrimos ao mistério do outro, prontos a receber humildemente tudo o que ele nos quiser dar.
Neste contexto o silêncio é importante, atitude que, se aprende com a oração, porque esta alarga o coração, faz descer do pedestal do nosso egocentrismo, educa-nos para a escuta do outro e gera em nós o silêncio da contemplação. É urgente recuperar um espírito contemplativo, que nos permita redescobrir, cada dia, que somos depositários dum bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida melhor. Não há nada de melhor para transmitir aos outros»
E o Papa afirma que a escuta mutua nos ajuda a viver o discernimento como método de nosso agir. Discernimento que, nos despoja da pretensão de já saber tudo, do risco de pensar que basta aplicar as regras, da tentação de proceder, repetindo simplesmente esquemas sem considerar que, a vida das pessoas e a realidade que nos rodeia, são e sempre permanecerão superiores às ideias e teorias. A vida sempre é superior às ideias. O discernimento, é um impulso de amor que estabelece a distinção entre o bom e o melhor, entre o útil em si mesmo e o útil agora, entre o que em geral pode estar bem e o que precisa de ser promovido agora.
E da escuta e do discernimento vem o Caminhar. A alegria do Evangelho, quando a acolhemos de verdade, provoca um verdadeiro êxodo de nós mesmos em direção à plenitude da vida.
A fé cristã, não pretende confirmar as nossas seguranças, fazer-nos acomodar em fáceis certezas religiosas, nem nos fornecer respostas rápidas para os complexos problemas da vida. Coloca-nos em viagem, tira-nos para fora das nossas áreas de segurança, põe em discussão as nossas aquisições e é precisamente assim que nos liberta, nos transforma, ilumina os olhos do nosso coração para nos fazer compreender a esperança a que Ele nos chamou (cf. Ef 1, 18). É preciso coragem para caminhar, para ir mais longe. É uma questão de amor. E é preciso coragem para amar.
A verdadeira diferença hoje é entre “apaixonados” e “rotineiros. Só quem ama, pode caminhar. Oxalá que consigamos escutar, discernir e caminhar, porque como afirma Papa Francisco retomando Paulo VI, só a coragem de amar pode realizar o grande sonho, ela nos fornece novas lentes que nos ajudem a restaurar o coração, nosso sentir e nossa existência e vida. Continuemos sonhando com um bom e feliz 2024.