Dos dias 18 a 22 de julho ocorreu o 15º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), em Rondonópolis (MT), no Centro de Eventos Santa Terezinha.
O encontro foi uma valorização da atuação religiosa de leigas e leigos, da diversidade cultural e de crítica ao modelo socioeconômico voltado ao extrativismo dos recursos naturais. Participam do encontro 63 bispos, lideranças de organizações ligadas à Igreja, como a Pastoral Carcerária Nacional, mil e quinhentos representantes das CEBs de todo o país.
Ao final do evento, foi elaborada uma mensagem final. Abaixo, você essa mensagem na íntegra:
CEBs: Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas!
“Vejam! Eu vou criar Novo Céu e uma Nova Terra” (Is 65,17ss)
Queridas irmãs e irmãos da caminhada, reunidos/as em Rondonópolis, Mato Grosso para a celebração do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, nós, os mil e quinhentos participantes, tivemos a sensação exata de que éramos representantes de um coletivo muito maior, formado pelas milhares CEBs espalhadas por todo o país. Desta forma, você estava presente também, apesar da distância.
A alegria foi a grande marca do encontro, pois, nos olhávamos como verdadeiros e verdadeiras sobreviventes da pandemia e dos seis anos de desgoverno que nos afligiu. Guiamo-nos pelo método ver-julgar-agir, de 18 a 22 de julho, e de modo fiel aos gritos e desafios de todas e todos vocês, fizemos uma maravilhosa ciranda inclusiva. O rosto das CEBs neste 15º Intereclesial revelou a identidade das comunidades com seus mais variados membros: cristãos leigos e leigas, pessoas LGBTQIAP+, diáconos e padres, religiosos e religiosas, bispos católicos e representantes de outras Igrejas, irmãs de caminhada. A força da juventude e das irmãs e irmãos pretos e indígenas, nos fizeram sentir o calor do testemunho, da resistência e da resiliência.
Um rosto latino-americano, com expressões de todas as regiões do Brasil e de outros países. Vimos que a desigualdade social é fruto de um sistema capitalista neoliberal, político e financeiro, de natureza excludente e concentrador de renda. Em decorrência dele, constatamos uma triste realidade, como: a imensa fila de desempregados e desempregadas, de trabalhadores e trabalhadoras informais, muitos/as em trabalhos análogos à escravidão; a fome, a educação e a saúde sucateadas, a falta de saneamento básico, o desmatamento e incêndios criminosos afetando os diversos biomas, a poluição das águas, do ar e da terra, destruindo a vida do planeta e das pessoas, o uso desregulado de agrotóxicos, o avanço do agronegócio e da mineração, o tráfico de entorpecentes e de pessoas, a questão urbana dominada pela violência, a presença de forças paramilitares, o armamento insano, o racismo estrutural e o alto índice de violência contra as mulheres e de feminicídios, o sistema carcerário injusto clamando pelo desencarceramento, a migração forçada e o sofrimento dos migrantes e refugiados, a criminalização dos movimentos sociais; o acesso seletivo dos meios tecnológicos, os constantes ataques aos direitos já conquistados por meio de leis que passam pelo Congresso Nacional, a exemplo de Projetos de Lei sem discussão ampla com a sociedade, a Reforma da CLT e da Previdência, e o marco temporal.
Olhando para o interno da Igreja, por um lado, as CEBs se ressentem pela falta de apoio de parte significativa do clero e, por outro, sentem-se fortalecidas pelo carinho e atenção do Papa Francisco, com suas atitudes e documentos, e por um grupo de bispos, padres, religiosas e religiosos que caminham juntos, na trilha da Igreja Povo de Deus. Constatamos ainda, que há nas CEBs, grande esperança no processo sinodal em curso, fomentando um imenso sonho de comunhão e participação em todos os âmbitos eclesiais, por uma Igreja toda ministerial, superando o clericalismo.
À luz do horizonte de um novo céu e nova terra, que a Palavra de Deus nos traz, discernimos às margens do rio da esperança, por meio dos mitos geradores de vida nova e do rito que faz a utopia ganhar sonoridade aos ouvidos dos sonhadores e sonhadoras da caminhada. Novo céu e nova terra são horizontes dos sonhos, mas também se constituem no princípio articulador das mais diversas utopias que apontam para a grande utopia do Reino, realizado em Jesus e antecipado na vida das CEBs.
As CEBs, qual mulher grávida, continuam gerando o novo, recriando os caminhos de libertação, sob o impulso do verbo sair, que funciona como um fio condutor de toda a nossa existência. De Gênesis a Apocalipses, a caminhada do povo de Deus se deu sob a inspiração da Divina Ruah, fomentando um permanente sair. Do ventre da mulher ao ventre da pachamama, saímos sempre em busca da vida plena. O AGIR nos enviou para cuidar.
Cuidar para não perdermos o entusiasmo, para não banalizarmos a missão, para que as CEBs sempre tenham o coração ardendo pela Palavra e os pés firmes na caminhada do povo periférico. Cuidar dos grupos bíblicos de reflexão como sementes de novas comunidades. Cuidar da memória martirial e profética, das estruturas de comunhão e participação, do protagonismo das mulheres e das juventudes, da vida plena dos povos originários, da aliança e parceria com os movimentos populares, da força da sinodalidade que está na comunidade e dos processos de formação permanente.
E em tudo, valorizar a força dos pobres nas iniciativas comunitárias e não deixar que nos roubem as comunidades! E assim, com a esperança do verbo esperançar, dispostos e dispostas a seguir nossa caminhada como CEBs – Igreja em saída para as periferias, partimos de Rondonópolis, certos de que, Jesus de Nazaré, a multidão de testemunhas, e os Mártires da Caminhada, seguirão animando e conduzindo as CEBs para as Galileias periféricas das terras matogrossenses ao Estado do Espírito Santo, onde seremos acolhidos por nossa Senhora da Penha.
Rondonópolis, 22 de julho de 2023.
15º Intereclesial das CEBs