Pe. João Bosco
Aconteceu dos dias 11 a 15 de novembro de 2022 o 18º Congresso Eucarístico Nacional em Recife (PE). Um grande evento, o maior e mais recente evento religioso. As pastorais sociais estavam presentes. Ocuparam ou utilizaram um bom espaço do Centro de Convenções em Olinda onde o evento aconteceu. Havia um lugar central para os momentos de oração em palco sobre o qual estava desenhado o mapa do Brasil. Sobre o mapa, estava também em destaque a presença das pastorais sociais no referido estado.
Estavam presentes diversas pastorais sociais, com a Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral do Menor, Pastoral Carcerária, Pastoral dos Pescadores, Pastoral da Sobriedade, Pastoral dos Nômades, Pastoral da Criança, Pastoral da Pessoa Idosa, Pastoral da DST/AIDS, Pastoral do Povo de Rua, Pastoral dos Surdos, Pastoral dos Migrantes, a Caritas Brasileira, entre outras.
A exposição foi muito positiva e visitada por bispos, padres, religiosas e leigas e leigos. Os visitantes receberam material de divulgação e dialogaram com os representantes das pastorais. A Pastoral Carcerária contou com a presença de agentes de pastoral das Dioceses de Guarabira, Caruaru, Salgueiro e da Arquidiocese de Olinda e Recife.
O tema do Congresso está muito relacionado com a situação do Brasil e com a agenda das pastorais: “Pão em todas as mesas”. Em todos os momentos do Congresso se aprofundou esse tema, ressaltando que a eucaristia não é um rito intimista a ser celebrado sem ter relação com a solidariedade e a fome no mundo. Por mais de uma vez nas oficinas, que contaram com a participação de muitas pessoas entre cardeais, bispos, religiosas, coordenações de pastorais, se ressaltou o que São João Crisóstomo dizia sobre a Eucaristia:
“De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer a quem tem fome e depois ornamenta a sua mesa com o que sobra. Queres oferecer-lhe um cálice de ouro e não és capaz de lhe dar um copo de água? De que serviria cobrir o seu altar de toalhas bordadas a ouro, se visses alguém necessitado de alimento e, deixando-o cheio de fome, fosses adornar de ouro a sua mesa, pensas que ele se mostraria agradecido para contigo ou indignado contra ti? E, se o visses coberto de andrajos e morto de frio, o deixasses sem roupa e lhe fosses levantar colunas de ouro, dizendo que o farias em sua honra, não pensaria ele que estavas a escarnecer da sua indigência com a mais sarcástica das ironias?
Lembra-te de que é o mesmo que fazer a Cristo, quando O vês errante, peregrino e sem teto, e tu, sem O receberes, adornas o pavimento, as paredes e as colunas do templo; suspender cadeias de prata para os candelabros, mas não vai visitá-lo quando ele está preso nas cadeias do cárcere.
Também não digo isto para impedir os ornamentos sagrados, mas para que se faça uma coisa sem omitir a outra; ou melhor, exorto-vos a tratar do irmão necessitado, antes de ir adornar o templo. Ninguém foi acusado por omitir esse segundo cuidado; mas quem despreza os pobres está condenado aos castigos do Inferno, ao fogo inextinguível e aos suplícios na companhia dos Demônios. Por conseguinte, enquanto adornas o templo, não esqueças o teu irmão que sofre, porque este templo é mais precioso que o outro”. (S. João Crisóstomo [séc. V]. Homilia sobre Mateus. Homilia 32).
As palavras de São João Crisóstomo são as mais atuais para se referir ao significado da Eucaristia, corpo doado e sangue derramado. Meditando suas palavras, entendemos que não basta cuidar das coisas que consideramos sagradas, nos esquecendo que há um só Cristo e Senhor, o glorificado e presente na Eucaristia, e aquele que prolonga sua Paixão na carne dos irmãos que sofre pela doença e pela fome como vítima da injustiça, que retira a vida do pobre e o torna cada vez mais indigente.
O que mais se faz na igreja é assistir e/ou participar da celebração da Eucaristia, no entanto não podemos torná-la a missa dos fariseus. A missa dos fariseus é aquela celebração que reúne patrões e empregados, que juntos na mesma fila recebem o mesmo pão; na segunda feira continuam no mesmo ambiente de trabalho sem que vivam a fraternidade vivida no domingo na partilha do pão; o patrão explora e enriquece à custa da exploração do empregado.
O 18º Congresso Eucarístico Nacional deixou um grande legado: não podemos nos aproximar da mesa se estamos divididos como povo de Deus, se estamos indiferentes, se alimentamos espirito de vingança, raiva e ódio, se queremos o mal do próximo, se o tratamos com indiferença, se rejeitamos e evitamos o nosso semelhante. Comunhão e proximidade, ceia, partilha, entrega, doação, aniquilamento… pode haver muita celebração da Eucaristia bonita, ornada com os melhores objetos sagrados sem que aconteça a comunhão.
Na Bíblia, comunhão é o “vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo” (Dicionário Teológico). A palavra grega koinonia traz a ideia de cooperação e relacionamento espiritual entre os santos.
Quem tem um grande desejo de participar sempre da sagrada comunhão deve cultivar o mesmo desejo de comungar na vida do irmão. Como cantamos: “Só tem lugar nesta mesa pra quem ama e pede perdão; só comunga nessa mesa, quem comunga na vida do irmão”.
Eucaristia significa pão em todas as mesas. Em Recife, antes que fosse celebrada a missa de encerramento do Congressol, com vinte mil pessoas presentes, segundo dados divulgados, aconteceu a inauguração da casa do pão, com espaço para os pobres se sentirem acolhidos e alimentados. Essa é a maneira mais prática de entender a eucaristia.
