Ela nasceu na Irlanda, mas após 46 anos de vida no Brasil sente-se completamente brasileira. Enfermeira de formação, ela decidiu fazer da profissão uma doação às pessoas que vivem em precárias condições de saúde e lutou sempre pela vida das pessoas presas, em especial das mulheres encarceradas.
Aos 76 anos de idade, a Irmã Margaret Gaffney, que desde os 18 anos pertence à Congregação das Irmãs Missionárias do Santo Rosário, hoje pode olhar para trás e ter a certeza do dever cumprido, de ter sido sinal de misericórdia entre os excluídos da sociedade e com seu exemplo ter incentivado que outras pessoas também se dediquem na luta pela dignidade dos encarcerados e encarceradas.
Infelizmente, chegou a hora de partir. Em outubro, Irmã Margaret retornará ao seu país de origem e vai deixar muitas saudades. Isso pôde ser visto em 29 de setembro, na Igreja da Boa Morte, no centro de São Paulo, quando a Pastoral Carcerária Nacional organizou uma missa em ação de graças para agradecer por todo o trabalho da Irmã Margaret nos últimos anos.
Presidida pelo Padre Valdir João Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária, e concelebrada pelos padres Gianfranco Graziola, vice-coordenador, e Geraldo Mcnamara, integrante da Pastoral, a celebração reuniu muitos amigos da Irmã, em especial os agentes da Pastoral Carcerária, e também algumas autoridades, entre as quais o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos, e o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).
Durante a homilia da missa, conduzida pelo Padre Valdir, algumas pessoas recordaram a trajetória da Irmã Margaret, especialmente na atenção às mulheres encarceradas e aos doentes (ela foi uma das pioneiras a dar atenção às pessoas com HIV ainda na década de 1980), e a própria homenageada lembrou os trabalhos que realizou em favor dos excluídos da sociedade, desde que chegou ao Brasil, em 1970, atuando no interior do Estado de São Paulo, depois na cidade litorânia de São Sebastião e na capital paulista.
Irmã Margaret agradeceu pelos 46 anos vividos no Brasil, “um país muito especial, abençoado por Deus” e disse que levará consigo para a Irlanda “a amizade, o amor que existe e o dom especial do brasileiro de acolher”, além dos aprendizados de uma Igreja “viva, atuante e desafiadora”.
A religiosa, porém, não carregará na bagagem apenas boas lembranças. Levará na memória, como disse na missa, “uma angústia pelo sofrimento do povo. Lamento que no Brasil tenha tanta desigualdade e sofrimento para o povo, isso me deixa indignada”, comentou ao lembrar de como vivem as pessoas nas ruas, nos hospitais e nas prisões, mas disse ter esperança que tudo pode mudar, a partir da criatividade do povo brasileiro e no caso específico da situação penal com a efetivação da justiça restaurativa.
Em reconhecimento a sua vida de doação, entrega e partilha, o Padre Valdir pediu que a Irmã Margaret fizesse a distribuição da Eucaristia aos que fossem comungar na missa. Junto aos padres, ela ainda deu a bênção final aos participantes. Antes, porém, ouviu todos cantarem duas músicas que nos últimos anos tem escutado nas celebrações pelos presídios de todo o Brasil: “Como Zaqueu” e “Noites Traiçoeiras”.
Após a missa, a Irmã foi homenageada pelos amigos da Pastoral Carcerária, com um vídeo que recordou as muitas ações misericordiosas que fez em favor das pessoas presas e seus familiares, os laços de amizade que estabeleceu com os integrantes da Pastoral Carcerária, bem como seu comprometimento incansável na luta por um mundo sem cárceres. Por fim, recebeu de cada pessoa um caloroso abraço, multiplicado pela gratidão dos mais 6 mil agentes da Pastoral Carcerária em todo o Brasil.