PCr do Ceará convida agentes da Pastoral ao despertar da misericórdia
Entre os dias 23 e 25 deste mês, a Pastoral Carcerária do Regional Nordeste I da CNBB (Ceará) realizará sua assembleia estadual, com vistas a aprofundar a proposta do Ano Santo da Misericórdia a partir dos encarcerados e pensar ações concretas a serem assumidas pelos agentes da Pastoral Carcerária com a colaboração da comunidade eclesial.
Como motivação para a assembleia, a coordenação da PCr estadual publicou a carta aberta “O Despertar da Misericórdia”, cuja a íntegra reproduzimos a seguir.
O DESPERTAR DA MISERICÓRDIA
Carta aberta aos participantes da Assembleia do Regional NE 1 da CNBB
“Decidi convocar um Jubileu Extraordinário que tenha o seu centro na Misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia.” Foi com estas palavras que o Papa Francisco anunciou o Jubileu da Misericórdia, que terá início no dia 8 de dezembro de 2015 e se concluirá no dia 20 de novembro de 2016.
São várias as motivações elencadas pelo Papa para a proclamação deste Ano Santo. Na Bula intitulada Misericordiae Vultus (“O rosto da misericórdia”), o Pontífice se refere a todos aqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais e que, justamente por isso, necessitam de um olhar misericordioso por parte da sociedade e das nossas comunidades eclesiais. E, com todo o carinho que lhe é peculiar, acrescenta: “O meu pensamento dirige-se também aos encarcerados, que experimentam a limitação da sua liberdade. O Jubileu constituiu sempre a oportunidade de uma grande anistia, destinada a envolver muitas pessoas que, mesmo merecedoras de punição, todavia tomaram consciência da injustiça perpetrada e desejam sinceramente inserir-se de novo na sociedade, oferecendo o seu contributo honesto. A todos eles chegue concretamente a misericórdia do Pai que quer estar próximo de quem mais necessita do seu perdão”.
Na iminência do Ano Santo da Misericórdia, nós que fazemos a Pastoral Carcerária do Regional Nordeste 1 da CNBB e que assumimos a missão de sermos a presença de nossas Igrejas no mundo dos cárceres, nos sentimos profundamente animados com o testemunho e com a singela preocupação do Papa para com os encarcerados.
Conhecemos bem de perto a cruel realidade carcerária e sabemos o quanto é importante oferecer esse olhar misericordioso a todos àqueles que experimentam o drama da privação de sua liberdade, seja qual for a causa do encarceramento.
Por outro lado, compreendemos as razões da maioria da população que quer evitar qualquer contato com a realidade das prisões. A superexposição da violência, exacerbada por um certo tipo de mídia, aumenta ainda mais a sensação de insegurança e alimenta sempre mais atitudes de intolerância e desejos de vingança. Prova disso é o encarceramento em massa em nome da Lei e o enrijecimento do sistema penal, mesmo sabendo que nas atuais condições das penitenciárias brasileiras não há sequer como imaginar que a simples aplicação da pena terá qualquer função ressocializadora.
Como ter misericórdia e perdão por aqueles que destemidamente, ameaçam as nossas vidas?
O papa Francisco insiste: “(…) a justiça por si só não é suficiente, e a experiência mostra que, limitando-se a apelar para ela, corre-se o risco de destruí-la. Por isso Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça. Isso não significa desvalorizar a justiça ou torná-la supérflua. Antes pelo contrário! Quem erra deve descontar a pena; só que isto não é o fim, mas o início da conversão, porque se experimenta a ternura do perdão. Deus não rejeita a justiça. Ele engloba-a e supera-a num evento superior onde se experimenta o amor, que está na base duma verdadeira justiça”.
Este Ano Santo é o momento propício para essa reflexão e é também a oportunidade para fortalecer a Pastoral Carcerária onde ela já exista, ou para promovê-la nas comunidades eclesiais que ainda não despertaram para essa missão. Não podemos assistir passivamente à violação da dignidade humana que diariamente ocorre nos presídios brasileiros, nem podemos nos portar como cristãos indiferentes diante dessa realidade tão cruel.
A equipe de coordenação da Pastoral Carcerária do Ceará se coloca, desde já, à disposição das dioceses e das paróquias que desejarem oferecer também aos encarcerados as Graças do Ano Jubilar, que certamente ajudarão a minimizar o sofrimento dos encarcerados e a transformar o dia a dia atrás das grades numa experiência possível de superação e libertação.
Ainda neste mês, de 23 a 25, nossa Pastoral estará reunida em Assembleia Estadual para aprofundar a proposta do Ano Santo da Misericórdia a partir dos encarcerados e pensar ações concretas a serem assumidas pelos agentes da Pastoral Carcerária com a colaboração da comunidade eclesial.
Finalmente, nós da Pastoral Carcerária do Ceará, encorajados pelo testemunho do Papa Francisco e pelo anúncio do Ano Santo da Misericórdia, nos sentimos fortalecidos a perseverar com alegria e firmeza nesta árdua missão. Também aproveitamos a oportunidade para convidar todas as pessoas de boa vontade a olharem para os encarcerados com os olhos do Papa Francisco, que ao realizar o anúncio do Jubileu Extraordinário deixou votos de que as paróquias e comunidades católicas se tornem “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”.
Tornemos-nos, pois, ilhas de amor, de solidariedade e de indulgência!
Fortaleza, Outubro 2015,
Pastoral Carcerária do Regional Nordeste 1 da CNBB