Não muito diferente da realidade em todo o Brasil, os cárceres da cidade de Boa Vista (RR), na região norte do país, são ambientes tensos, a começar pela prática de revista vexatória, passando pela qualidade ruim da comida fornecida aos presos, e pelos conflitos internos que ocorrem entre os detentos.
De 5 a 7 de dezembro, irmã Petra Silvia Pfaller, vice-coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, visitou os agentes da PCr em Boa Vista e se deparou com relatos sobre a situação das unidades prisionais. A irmã não obteve autorização para entrar no presídio feminino e foi aconselhada a não ir à unidade masculina, por conta das recentes fugas de presos.
“Um detento até se refugiou na Igreja Catedral (prédio vizinho do fórum). A polícia invadiu a igreja, prendeu o preso e nesta ocasião espancaram-no dentro da igreja. Dom Roque Paloschi ficou indignado ao saber disso e me falou que vai verificar essa noticia e, se for verdade, denunciar”, recordou irmã Petra.
Em reunião na Defensoria Pública da União (DPU), em Boa Vista, a vice-coordenadora nacional da PCr foi recebida pelo defensor Pedro Wagner Assed Pereira, que informou que a DPU quer apresentar uma Ação Civil Pública contra a portaria que regula o banho de sol no presídio para somente duas vezes por semana. Ele manifestou, ainda, o desejo de que a DPU tenha uma vaga no conselho penitenciário e comentou que pretende agir contra as nomeações de militares para diretores de presídios no estado.
Neste amplo cenário desafiador, a PCr local não esmorece: regulamente visita as unidades prisionais e tem representação no conselho da comunidade. Porém, há aspectos a serem aprimorados.
“Uma das reclamações dos agentes de pastoral é a grande burocracia por parte da administração penitenciária para entrar nas unidades. Outra preocupação é a falta de novos agentes para essa missão. São poucas pessoas que estão dispostas e que respondem ao chamado de Deus para trabalhar nos cárceres. E os alertei que para poder assumir a Pastoral Carcerária é imprescindível uma boa preparação e o acompanhamento dos novos agentes, já que o trabalho da PCr é muito complexo e precisa de pessoas maduras, bem formadas, com uma fé sólida e cheias de esperança e amor”, comentou irmã Petra.
Durante os dias de visita, a irmã teve a companhia do padre Gianfranco Graziola, coordenador da Macro Região Norte, e da coordenadora estadual da PCr, Maria da Conceição Nascimento, que ressaltou ser preciso continuar os estudos sobre Justiça Restaurativa em vista de um possível projeto da Pastoral.
Irmã Petra participou, ainda, de um programa apresentado pelo padre Gianfranco na rádio Monte Roraima; encontrou-se com dom Roque, bispo de Roraima, que enalteceu a importância da presença da Igreja nos cárceres e parabenizou o padre Gianfranco pelo trabalho desenvolvido na PCr; e também visitou, na Fazenda Esperança, na vila São Raimundo, a 100 quilômetros de Boa Vista, um projeto da PCr para a produção de hóstias. “Uma iniciativa muito bonita. Com os ‘lucros’, a PCr custeia as suas despesas e ajuda familiares dos presos pobres. E no futuro está sendo planejado que presos do semiaberto aprendam a trabalhar na fabricação das hóstias”, explicou a irmã.