É mãe e é filha! A oração com as mães do cárcere

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Certa vez, em uma das visitas as pessoas privadas de liberdade, fui celebrar com o grupo das mulheres. Não eram muitas, a maioria já era conhecida de outras celebrações. Por falta de espaço na casa prisional, a celebração foi realizada no pátio. Fui motivando as participantes da celebração para as intenções e pedidos pelos quais desejariam rezar. Todas pediram por sua família: por suas mães e os seus filhos.

​Assim, estávamos ali num grupo de mulheres que eram mães, mas também eram filhas. E que seus filhos estavam sendo cuidados por suas mães, enquanto elas estavam longe das suas casas, mais precisamente, atrás das grades e muros de uma penitenciária.

​A celebração foi marcada por uma meditação em torno da pessoa de Maria, a Mãe de Jesus. É muito difícil que alguém expresse os sentimentos durante a celebração. Foi então pedido para que recuperassem uma frase que estava no roteiro ou uma meditação que realizou. Foi então que, quase unanimes, repetiram a frase do Papa Francisco: “Não somos órfãos: temos uma mãe no céu, que é a Santa Mãe de Deus. Porque nos ensina a virtude da esperança, até quando tudo parece sem sentido: ela permanece sempre confiante no mistério de Deus, até quando Ele parece desaparecer por culpa do mal do mundo. Que nos momentos de dificuldade, Maria, a Mãe que Jesus ofereceu a todos nós, possa sempre amparar os nossos passos e dizer ao nosso coração: “Levanta-te! Olha em frente, olha para o horizonte”, porque Ela é Mãe de esperança”.

​Foi então que se tornou óbvio o sentido do que estávamos celebrando: as que ali estavam eram mães e filhas. Primeiro lugar elas são filhas. Mesmo que estejam vivendo em alguma situação de conflito com a lei, aquelas que as geraram, não as abandonaram. Nas visitas para os presidiários, quem mantém a presença fiel, quem ainda leva um pouco de carinho e ternura num ambiente tão hostil, são as mães dos apenados.
​Além do mais, as mães das mulheres presidiárias, se tornam, na maioria das vezes, as tutoras dos netos. Essas avós são o porto seguro de inúmeras famílias. Além da tutoria jurídica das crianças, as avós transmitem o afeto e a segurança nas periferias reais e existenciais da vida. Logo, a mulher que tem filhos e está encarcerada, tem na sua mãe o grande amparo para o cuidado com os inocentes de um mundo tão áspero para com os pobres e descartados da sociedade.

Por isso, também, foram lembradas com tanta delicadeza no momento da oração. As filhas rezaram por suas mães, que cuidam dos seus filhos. Elas não são órfãs como disse o Papa Francisco. Elas tem mãe. Elas tem Maria, Mae de Jesus. Elas tem as suas Marias. E esta presença materna mantém um pouco da esperança, mesmo quando nada mais parece ter sentido nem possibilidade de vida, as mães das mulheres encarceradas são sinais de esperança.
Mas estas mulheres, em sua grande maioria, são filhas e também mães. Algumas, inclusive, ganharam seus filhos dentro de uma casa penitenciaria. E quando, em nossa celebração, elas lembram dos filhos, as mulheres encarceradas recordaram que elas vivem a maternidade de outro modo. Mesmo que sejam acusadas pelo mundo injusto dentro e fora do presídio, elas não esquecem dos seus. E nesta hora da celebração, ao rezarem lembrando da Mãe do Filho de Deus, se percebe que há uma proximidade tão bonita entre as mulheres e Maria, uma cumplicidade, um sentido de que “mãe com mãe se entende!”

Depois deste dia, minha experiência com as mulheres do cárcere mudou profundamente o sentido e o sentimento quanto ao que via daquelas mulheres. Em oração, pude experimentar que a vida sofrida atrás das grades tira praticamente toda a dignidade de uma mulher, aliás, de toda pessoa. Mas uma mulher encarcerada não perde o sentido da vida que a liga a um filho, nem a sua mãe. Ali vi e ouvi mulheres filhas que são mães. E que entendem, que com Maria, mulher e Mãe, elas não estão órfãs. Elas têm um sentido de esperança para seguirem firmes, para lutarem por sua liberdade, para viverem na dignidade e no amor.

Texto: Pe Mateus Danieli

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