Uma história de arte e determinação, que começou no ano passado, quando a bióloga e educadora Aline Campos ficou sabendo, pelo boletim de notícias da Pastoral Carcerária, da realização do 3º Concurso Internacional de Arte, promovido pela associação “Art and Prison”, sediada em Berlim, na Alemanha.
Aline, entre 2011 e 2014, trabalhou em uma unidade prisional na cidade de Rio Claro (SP) e no ano passado resolveu incentivar os presos a participar do concurso. “Quando fiquei sabendo do concurso pelo boletim da Pastoral Carcerária, achei que seria uma possibilidade de estimulá-los a acreditarem em si, participando de algo que ultrapassava os muros da prisão. O fato de a equipe organizadora do concurso garantir entrega de certificado para todos os participantes também foi algo que me motivou, pois pensei que um certificado internacional de participação em um concurso de arte poderia contribuir na valorização e autoestima dos que participassem”, afirma Aline.
A bióloga, então, passou a orientar os seis presos que se interessaram em inscrever trabalhos. “Reuni-me com eles, expliquei a proposta do concurso e entreguei alguns materiais. O tema do concurso era ‘meio metro quadrado de liberdade’ referindo-se ao tamanho máximo de dimensão da obra. Busquei orientá-los de forma geral, deixando-os livre para interpretarem à sua maneira a proposta do concurso e, a partir dela, criarem suas obras. Foram, aproximadamente, três meses entre a divulgação do concurso e o envio do trabalho, que foi realizado no final de setembro de 2014. Nem todos os que se interessaram entregaram o desenho”, recordou.
O desafio do concurso era criar obras com um tamanho máximo de 60×80 centímetros, que poderiam ser desenhos, pinturas e artes gráficas. “Como eu enviaria os trabalhos para a Alemanha por correio com recurso próprio, não pude fornecer telas para pinturas, ficando os trabalhos limitados a desenhos e/ou pinturas em papel canson A3. O desenho premiado foi feito utilizando-se lápis de cor e caneta bic”, detalha Aline.
E com canetas e lápis de cor, o preso J.A.S desenhou uma bíblia, envolta nas grades da prisão (imagem ao lado). À obra, ele deu o nome de “Meus olhos vão além do impossível” (Mis ojos van más allá de lo imposible), e o que no início parecia impossível aconteceu: a arte de J.A.S foi escolhida como a sexta melhor entre as mais de 200 de todo o mundo recebidas pelos organizadores, e o preso brasileiro foi um dos dez premiados no concurso internacional, que teve o patrocínio da Cruz Vermelha da Alemanha e do ator Michael Mendl.
E como o premiado, que ainda cumpre pena na unidade prisional em Rio Claro, reagiu ao saber da premiação? Aline detalha: “Organizamos, em parceira com a escola vinculadora, uma premiação simbólica com a entrega dos certificados, pois dois dos três participantes ainda estão na unidade, incluindo o premiado. Eu fiz uma apresentação contando para todos os internos sobre nossa participação no concurso e falando sobre a importância de dar destaque para as belezas e talentos que existem dentro das prisões. Por fim, projetamos as imagens dos premiados no concurso. Quando o ganhador viu seu trabalho projetado e se deu conta que havia sido premiado ficou nervoso, com as mãos tremendo e suando. Os demais internos pediam por discurso, mas ele não conseguia falar. Depois de se acalmar, pegou o microfone, agradeceu a todos os professores e dedicou agradecimento especial a outro interno que, segundo ele, foi quem o estimulou a desenhar, pois ele estava desaminado e descrente de seu talento”.
Parabéns, educadora Aline Campos! Parabéns J.A.S! Acreditar na capacidade construtiva do ser humano nunca é em vão.
CLIQUE E VEJA TODAS AS OBRAS PREMIADAS