Pastoral Carcerária une voz às ruas contra a violência policial: “O Rio está ferido, e nós também”

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Em meio ao luto e à proximidade do Dia de Finados, a Pastoral Carcerária Nacional reforça o apelo por um país mais humano diante da escalada de mortes em megaoperações policiais.

Na última sexta-feira (31), o Brasil assistiu novamente ao eco do grito por justiça. Manifestações em diversos estados do país denunciaram a violência policial após a megaoperação no Rio de Janeiro, que deixou 128 mortos — uma das ações mais letais da história recente do estado. O cenário de luto e indignação levou às ruas, em São Paulo, a Pastoral Carcerária Nacional, representada por sua coordenadora, Irmã Petra Pfaller, e Vera Dalzotto, Assessora Nacional da Pastoral Carcerária para a Questão da Justiça Restaurativa, que somaram à multidão na Avenida Paulista para clamar por paz e dignidade.

Foto: Estefani Maciel | @estefanimcl

Foto: Estefani Maciel | @estefanimcl

A operação, realizada em comunidades da zona norte carioca, envolveu forças estaduais e federais sob o argumento de combate ao crime organizado. No entanto, relatos de moradores e organizações de direitos humanos apontam que o saldo vai além dos números: famílias destruídas, desaparecimentos e o medo reinstalado nas favelas. A dor, segundo Irmã Petra, é uma ferida coletiva.

“O Rio de Janeiro está ferido e nós, da Pastoral Carcerária Nacional, também. Mais uma vez a dor tomou conta das ruas, das casas, dos corações. Famílias inteiras choram, e nós nos perguntamos até quando. Até quando a tragédia será tratada como rotina e a vida humana como um detalhe esquecido?”

A proximidade do Dia de Finados trouxe um tom ainda mais simbólico às manifestações. Para a Pastoral, que atua junto a pessoas privadas de liberdade e suas famílias, a lembrança dos mortos é também um chamado à responsabilidade coletiva e cristã diante da perda de vidas humanas — vidas que, muitas vezes, são tratadas com descaso pelo poder público.

Foto: Estefani Maciel | @estefanimcl

Foto: Estefani Maciel | @estefanimcl

“No dia de Finados que celebramos, somos chamados a olhar para a morte, mas também para a responsabilidade. Cada nome, cada rosto, cada história perdida nessa tragédia é um apelo à consciência e à solidariedade”, disse Irmã Petra, que reforçou a importância da oração e da presença da Igreja nas periferias e comunidades impactadas pela violência.

Ela destacou ainda a solidariedade da pastoral com o Padre Edmar Augusto, pároco do Santuário da Penha, e com a Pastoral Carcerária local, que têm acompanhado de perto o sofrimento das famílias. “Padre Edmar, que sua força nos inspire a transformar o luto em ação, a dor em compromisso, a fé em movimento por um país mais humano. De norte a sul, o grito é o mesmo. A tragédia de um é a tragédia de todos nós”, completou.

Foto: Estefani Maciel | @estefanimcl

Foto: Estefani Maciel | @estefanimcl

Para a Pastoral Carcerária, a violência policial e o encarceramento em massa são expressões de uma mesma lógica excludente, que nega a dignidade humana e alimenta o ciclo de desigualdade e punição. Desde sua criação, a pastoral mantém como missão o combate à cultura do cárcere e a defesa dos direitos humanos sob a luz do Evangelho.

Nas palavras da religiosa, o testemunho cristão exige mais do que compaixão: requer transformação. “Que cada vela acesa também seja um gesto de resistência, que a memória dos que se foram nos faça lutar pelos que ainda estão aqui e que no meio das ruínas nasça a esperança: forte, solidária, vida. Porque só o amor pode reconstruir o que o descaso destruiu. Continuemos com o sonho de Deus na busca de um mundo sem cárceres”, concluiu Irmã Petra.

Em um país que soma mais de 830 mil pessoas presas, segundo o Conselho Nacional de Justiça, e onde operações policiais letais se tornaram recorrentes, a fala da Pastoral Carcerária ressoa como um chamado profético — um lembrete de que, para a fé católica, toda vida é sagrada e a justiça não pode ser construída sobre os escombros da dor.

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