Natal: momento de esperança para os presos de São Gabriel da Cachoeira (AM)

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Como muitas delegacias espalhadas pelo Brasil, a de São Gabriel da Cachoeira, na região do Alto Rio Negro, no Amazonas, funciona como “presídio”. Lá estavam encarceradas 44 pessoas, quando da visita da irmã Petra Silvia Pfaller, vice-coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, à cidade, entre os dias 17 e 29 de dezembro.
Capa_e_interna_superior_Natal_Sao_Gabriel_CachoeiraEm meio às condições degradantes da delegacia – superlotação, estrutura depreciada, falta de ventilação e ausência de atendimento médico – o Natal foi celebrado, com missa no dia 26, presidida por dom Edson Taschetto Damian, bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira.
“A festa de Natal na delegacia foi muito bonita. Muitos familiares compareceram e trouxeram os filhos, netos, o encontro natalino dos presos com os familiares foi emocionante. Foi feito uma pequena celebração, na qual refletimos o que significa hoje a festa de Natal e os símbolos que são usados pela tradição natalina de geração em geração”, recordou irmã Petra, detalhando que após a celebração foi oferecido um almoço a todos os participantes e que cada detento foi presenteado com uma camiseta pela Pastoral.
Interna_meio_agentes_PCr_Sao_Gabriel_CachoeiraUma vez por semana, a PCr em São Gabriel da Cachoeira visita a delegacia. Na maioria das vezes, os sete agentes da Pastoral contam com a companhia de dom Edson, que, segundo irmã Petra, conhece todos os presos pelo nome, bem como suas histórias de vida.
Assim como a celebração do Natal, as visitas semanais são sinal de esperança para os presos, pois é quando passam por momentos de evangelização, com base nos materiais de referência da Pastoral. De acordo com irmã Petra, a PCr local tem pouco contato com a coordenação estadual e deseja conhecer melhor os subsídios de formação cristã e de justiça restaurativa.
 
Precariedades carcerárias visíveis
A delegacia, único ambiente prisional da cidade de São Gabriel da Cachoeira, é um lugar com precariedades de instalações, serviços e acomodações para os presos, instalados em sete celas. Há presos com as pernas para fora das grades por falta de espaço; não existe pátio para banho de sol, este é feito de modo improvisado em um hall ou mesmo fora do prédio. Não são fornecidos colchões ou redes, tampouco materiais de higiene pessoal.
Também não há professores, assistentes sociais, médicos ou enfermeiros no local. Quando algum detento necessita de atendimento, raramente é levado ao hospital. Resultado: mortes e transmissão de doenças. Em novembro, um preso de 22 anos faleceu por falta de atendimento médico e atualmente há muitos casos de conjuntivite. O atendimento jurídico também é precário: não há Defensoria Pública e muitos detentos reclamam que não têm informação sobre a própria situação processual e que estão presos há meses, mesmo sem julgamento.
Interna_inferior_Sao_Gabriel_cela_lotada“Chama atenção o grande fluxo de entradas e saídas de detentos sem o devido registro. Eles ficam uma noite ou até mais presos sem ordem judicial, sem boletim de ocorrência etc. Quem decide quanto tempo ficam presos é o delegado ou na ausência dele o ‘escrivão principal’. Cada vez que entrei, eles liberam alguns presos, que me falaram que só foram soltos porque chegamos senão ficariam presos todos os dias de feriado de Natal e Ano Novo. Sempre que lá estive, encontrei alguns homens e mulheres recém-detidos nas primeiras celas, dormindo no chão ou desmaiados, havia cheiro de droga ou álcool. Essas pessoas são detidas pela PM, na maioria das vezes durante a noite. Todas que vi são pobres e a grande maioria indígena, mulheres e homens de todas as idades”, relatou irmã Petra.

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