Mulheres de 7 estados do Brasil participam do curso de Justiça Restaurativa em São Paulo

 Em Justiça Restaurativa, Mulher Encarcerada, Notícias

O curso presencial de Justiça Restaurativa (JR), CHC, Cuidado, Historicidade e Conexão Interlocução em Filosofia Clínica e ESPERE, realizado pela Pastoral Carcerária, contou com a participação de 10 mulheres no Centro de Encontro Madre Paulina, no bairro Ipiranga, em São Paulo, nos dias 12 a 16 de setembro.

Durante 5 dias, 10 mulheres representantes dos seguintes estados: Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará, Goiás, Manaus, Paraíba e São Paulo participaram do curso de Justiça Restaurativa. Entre elas estavam mulheres da frente pelo desencarceramento, sobreviventes do sistema prisional, familiares ligados ao sistema prisional e agentes da Pastoral Carcerária.

O curso foi coordenado pela Assessora da PCr na questão da Justiça Restaurativa, Vera Dalzotto, e ministrado pelas formadoras Joselene Linhares e Josiane Domingas Bertoja com apoio de Edina Maciel agente da PCr em São Paulo.

Através das oficinas aconteceram algumas dinâmicas, partilhas de historicidades individuais, práticas circulares e uma atividade chamada O Varal da Vida, onde pontos marcantes na trajetória de cada uma foram transformados em recortes da vida.

Foi feita também outra dinâmica chamada: Construindo sua Dor, em que a argila esculpida e a dor materializada nesta peça, entre outras tantas dinâmicas, textos, músicas e vídeos, ajudavam na percepção de cada uma, em sua singularidade, a entrar em contato com vários sentimentos e saídas positivas para os mesmos.

Em sinal de respeito a história de cada uma presente, houve um acordo que salientava o sigilo absoluto do que viveram durante o curso. O espaço tornou-se um ambiente seguro e favorável, onde as cursistas se sentiam à vontade para ouvir e partilhar suas vivências e colocar no círculo suas necessidades.

Segundo a formadora Josiane Bertoja, a finalidade do curso é de autoconhecimento para que as mulheres olhem para dentro de si.

“O título do curso é CHC, Cuidado, Historicidade e Conexão, então nesse primeiro momento o objetivo é trazer um resgate da sua própria essência, da sua história de vida que chamamos de historicidade, tentando fazer esse resgate do eu, nessa reinserção na sociedade, ou no acompanhamento, no caso dos familiares”.

Para elas, fica a certeza de que romper com a violência e com a justiça punitivista, procurando a saída na vertente justiça restaurativa, pode vir a ser uma das soluções para um mundo sem cárcere. Muitas de nós só conhecemos a violência seja verbal ou física e acabamos replicando, bem como a sociedade no geral.

O senso comum é quase sempre muito punitivista e quando falamos em cárcere esta violência intensifica. Quando alguém se afasta do que é regra imposta sofre de imediato uma punição e com a metodologia usada no curso fica a certeza de que a punição não responde as necessidades e alimenta ainda mais a violência.

“Nós temos uma prática punitiva, não só no sistema judiciário, mas na família e na escola também, temos o castigo, a culpa e o não a vida toda. A proposta da JR é exatamente essa: ouvir a pessoa, suas motivações e história”, aponta Josiane. 

A responsabilização e a reparação também foram tratadas no curso dentro da metodologia. Para Josiane: “existe a proposta de conciliação, de quem sofreu com quem fez sofrer. Eu acho uma proposta fantástica que vem ao encontro até da própria mensagem bíblica e dos outros livros sagrados, que é a fraternidade, a solidariedade, compreender o teu irmão, amá-lo e perdoá-lo”.

Quando perguntada sobre as possibilidades das práticas circulares serem inseridas nas nossas comunidades, Bertoja conta sobre a origem e o propósito do círculo: “É uma prática ancestral que foi trazida dos povos originários, dos indígenas e africanos que tem sua sabedoria, sua essência e contribuição para a vida social, então eu acho ela possível em qualquer ambiente”.

Os módulos trabalhados no decorrer dos cinco dias foram:

 

 

Sem dúvida foram dias emocionantes de muito aprendizado. As integrantes não compartilharam apenas histórias, mas risadas e lágrimas também. Vera Dalzotto afirma: “Nosso curso, dentro da metodologia justiça restaurativa, ficou a certeza absoluta de que é um dos caminhos para rompermos a violência é a justiça que restaura, assim como a responsabilização, reparação e reconhecimento do envolvimento de todos e todas.

Outro ponto importante relatado pelas formadoras foi a volta do presencial, pois este modo permite que as mulheres conversem e criem laços durante os intervalos, algo que foi prejudicado no período da pandemia.

Josiane defende que, “uma aula presencial que leva o dia todo por conta da interação e das trocas, na tela é mais rápida e mesmo a interação acontecendo, ela é dada de uma forma diferente. O presencial não tem como explicar, esse contato humano, poder dar um abraço na hora que precisa e conversar na hora do intervalo, a vivência é outra”.

As participantes levam do curso o autoconhecimento, métodos de implantação das práticas circulares, o hábito da escuta ativa e a capacidade desenvolvida de perdoar os outros e o mais importante: perdoar a elas mesmas.

“O Círculo tem poder de Cura

No Círculo, somos todos iguais

Quando no Circulo, ninguém está a sua frente

Ninguém está atrás de você

Ninguém está acima de você

Ninguém está abaixo de você

O Círculo Sagrado é designado a criar Unidade

O arco da Vida é também um círculo

Neste arco há um lugar para cada espécie, cada raça, cada árvore e cada planta

É esta integridade da Vida que deve ser respeitada a fim de proporcionar Saúde a este planeta.”

Dave Chief, Oglala Lakota

“E desta forma circular convivemos e vivemos momentos únicos capazes de fazer um processo interior precioso e enchemo-nos de esperanças” – Vera Dalzotto.

 

Texto: Isabela Menedim e Vera Dalzotto

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