Na preparação para a live de formação da Justiça Restaurativa os agentes da Pastoral Carcerária participaram e concluíram curso de formação em Práticas Circulares reforçando seu compromisso com a paz.
Entre os dias 10 e 25 de junho de 2025, um novo grupo de facilitadores concluiu o curso de 40 horas em Práticas Circulares da Justiça Restaurativa, promovido por Vera Dalzotto, e assessora nacional da Pastoral Carcerária para a área da justiça restaurativa, e Érika Silva, facilitadora de círculos restaurativos. Participaram agentes da Pastoral Carcerária de diversos estados do Brasil, entre eles Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Ao longo da formação, dividida em quatro eixos principais, os participantes tiveram acesso a um conteúdo programático rico e diversificado. Na parte teórica, foram apresentados os Conceitos da Justiça Restaurativa e das Práticas Circulares, além da origem e história da Justiça Restaurativa no mundo e o propósito dos Círculos de Construção de Paz (CCPAZ).
Em seguida, trabalhou-se os Princípios Norteadores, com destaque para os pressupostos da Justiça Restaurativa, a importância da escuta ativa e qualificada, além do reconhecimento das identidades e da historicidade das pessoas envolvidas.
Na etapa dedicada a Instrumentos e Metodologias, os participantes conheceram e praticaram o uso da Árvore da Vida como ferramenta de reconstrução pessoal e comunitária, a Roda da Medicina como instrumento simbólico e ancestral, o Triângulo Pragmático (Ofensor–Vítima–Comunidade), além das perguntas assertivas e facilitadoras de diálogo restaurativo.
Por fim, viu-se a Estruturação e Facilitação dos círculos, destacando a organização da estrutura circular e seus elementos, a diferença entre o Círculo de Construção de Paz e a Roda de Conversa, e oferecendo uma prática vivencial online para que os participantes pudessem exercitar a facilitação. Também foram abordadas a postura ética e o papel do facilitador nesses processos.
Os participantes puderam compreender os princípios e fundamentos da Justiça Restaurativa, que busca tratar os conflitos de forma a promover a cura e a reconciliação entre todos os envolvidos, uma proposta que vai além da mera punição do infrator.
“Justiça Restaurativa é um caminho de escuta, presença e construção coletiva. A prática circular não é apenas uma metodologia, é um convite a nos reconhecermos como seres em relação, a cultivarmos a empatia, a corresponsabilidade e a reconstrução de vínculos, mesmo nos contextos mais desafiadores”, destacou Vera Dalzotto.
Érika Silva ressaltou a importância do autocuidado para o facilitador, “Cuidar bem de si — da saúde física, mental, da alimentação e do sono — é o primeiro passo para poder cuidar bem do outro”.
Na abordagem sobre Triângulo Dramático de Karpman, que ajuda a identificar os papéis que assumimos em situações de conflito, Linara Silva, agente da Pastoral Carcerária Nacional explicou que “Enquanto facilitadores, devemos compreender nossos papéis e agir com auto responsabilidade e consciência”.
O curso foi encerrado com a live aberta “Justiça Restaurativa e a Coragem de Pacificar: Resposta para um País Ferido”, conduzida pelo professor Dumas, mestre em Filosofia e especialista em Neuropsicanálise, que reforçou a importância da reconciliação e da pacificação nos dias atuais.
Os novos facilitadores, oriundos deste curso, destacaram o profundo sentimento de gratidão e o compromisso de levar adiante as Práticas Circulares da Justiça Restaurativa em seus territórios e também estão bastante animados com a nova edição do curso de “Comunicação Não Violenta” que farão em breve. Como lembram as palavras de Colossenses 3,12: “Revistam-se, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.”
Live de Formação da JR: “Resposta para um País ferido”
Na noite de 25 de junho, a equipe de Justiça Restaurativa da Pastoral Carcerária Nacional deu início ao encontro formativo on-line com o tema “Justiça Restaurativa e a Coragem de Pacificar: Resposta para um País Ferido”, a formação marcou o encerramento oficial do curso CCPAZ – Círculos de Construção de Paz Menos Complexos, com carga horária de 40h, promovido ao longo das últimas semanas.
Aberto ao público já engajado com a pauta da Justiça Restaurativa, o evento também acolheu novos interessados em trilhar esse caminho de cuidado, escuta e transformação. Mais de 100 participantes se reuniram pela plataforma Google Meet, representando diversos estados brasileiros e experiências de missão.
Ao lado da irmã Petra Pfaller, coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, conduziram a noite a assessora nacional para a Justiça Restaurativa, Vera Dalzotto, e a facilitadora de círculos restaurativos, Érica Silva. O momento foi enriquecido com a presença do convidado especial, professor Dumas – filósofo, neuropsicanalista e ativista da Justiça não punitiva –, cuja fala foi marcada por ousadia, profundidade e espiritualidade.
Pacificar é Resistir com Amor
Inspirado por uma visão cristã e restaurativa, o professor Dumas denunciou o modelo punitivo ainda dominante na sociedade. Para ele, a justiça atual falha porque não educa: apenas pune. E uma justiça que não se propõe a educar, não transforma.
Com clareza, afirmou que a missão da Justiça Restaurativa caminha na contramão da vingança e da exclusão. “Não faz sentido amar e odiar ao mesmo tempo. Um cristão que não se preocupa com quem precisa de misericórdia, não é cristão.” – enfatizou, recordando que o Reino de Deus não é construído sobre castigos, mas sobre reconciliação.
“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5,9)
A fala emocionada e desafiadora de Dumas, considerada pela Ir. Petra, como o “carro-forte” da Pastoral Carcerária, reacendeu o ânimo dos agentes pastorais e reafirmou que a Justiça Restaurativa é mais do que um método – é uma espiritualidade em ação. Um chamado de fé, coragem e compromisso com a dignidade humana.
Uma Revolução de Formiguinhas
O professor não deixou de reconhecer as dificuldades e resistências que a proposta restaurativa ainda enfrenta. “O que estamos fazendo é uma revolução. Mas muitos ainda não acreditam. É um trabalho de formiguinha.” – observou.
Defensor da educação como chave para uma sociedade mais justa e menos violenta, alertou que estruturas desiguais e injustas tornam as pessoas cruéis. Por isso, insistiu que não se trata apenas de mudar leis, mas de mudar consciências.
Antes de concluir sua participação, Dumas destacou a singularidade da Pastoral Carcerária como missão profética dentro da Igreja: “Se eu não estou livre, não posso libertar o outro. A Pastoral Carcerária é uma missão de homens e mulheres livres.”
Encerramento com Esperança
O encontro foi finalizado com um chamado à ação: que cada agente pastoral e participante leve consigo a coragem de continuar promovendo espaços de escuta, responsabilização e reparação em suas comunidades. Reforçando que está formação marcou profundamente o encerramento do curso CCPAZ – Círculos de Construção de Paz Menos Complexos, consolidando um ciclo formativo de 40 horas que agora se desdobra em práticas concretas de paz.
Como nos exorta o apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente.” (Romanos 12,2)
Que sigamos transformando o mundo com passos pequenos, mas firmes, rumo a uma justiça que cura, reconcilia e liberta.