Temos hoje mais de 900 mil pessoas presas no Brasil, e com a justiça punitiva alimentamos um sentimento que carrega certa vingança – saber que o preso está “pagando” por algo, mesmo que sob condições desumanas – tranquiliza parte da população.
Acredita-se que a situação dentro dos presídios é tão traumática que ninguém voltaria a cometer crimes para evitar um retorno às grades, porém a realidade é outra; as torturas que ocorrem lá dentro geram revoltas e conflitos internos àqueles privados de liberdade.
Se um ciclo vicioso de castigo, tortura e ódio não é o melhor encaminhamento para a ressocialização, para que serve este encarceramento em massa? Nossa sociedade é violenta e os números de crimes e vítimas não param de crescer.
Esta classe de pessoas privadas de liberdade é odiada por quase toda a sociedade, que os quer sempre longe e invisíveis aos olhos. A raiva é tanta que falam inclusive em pena de morte.
Quando falamos de pessoas presas, esquecemos de Jesus e do que ele acha dos pecadores. Mesmo que estejam nas prisões, são filhos e filhas de Deus, portanto nossos e nossas irmãs. A carta aos Hebreus cap 13,3 diz: ” Lembrai-vos dos presos, como se estivesses preso(a)”.
A sociedade os encara como escória da humanidade e a mídia reforça. Já sabemos que o modelo de privação de liberdade que temos está falido ou fadado a explodir, também temos certeza que terceirizar é uma cortina de fumaça.
Temos um país que cada vez mais deteriora as condições econômicas e morais, empurrando uma classe para a delinquência. Esta classe são pobres, periféricos, pretos, jovens, semi ou analfabetos, é destes que o mercado alimenta-se e consequentemente seus familiares também são atingidos.
Convivemos com disputa de territórios para o tráfico, territórios de votos, territórios de alienação e escravidão, e assim o capitalismo vai tornando-se cada vez mais potente e o pobre cada vez mais pobre.
A PCr juntamente com outras entidades, aponta dez saídas que estão registradas na Agenda Nacional Pelo Desencarceramento, e aqui queremos falar de um ponto desta agenda: a Justiça Restaurativa, que talvez seja uma das saídas mais humanizadas na busca de um mundo sem cárceres.
Erika Lucia da Silva Leite, de Buíque, Pernambuco, atua há 8 anos na pastoral (Colônia Penal feminina), e relata como foi sua entrada na PCr, conta também que procura levar as práticas circulares da justiça restaurativa não só para os presídios, mas para outras comunidades vulneráveis da sua cidade.
“Começo me identificando, sou Erika Silva, 32 anos, casada, mãe de duas filhas, professora e terapeuta. Sempre gostei desta área social. No ano de 2014 conheci a Pastoral Carcerária, onde encontrei então minha missão”.
Ela conta que iniciou sua caminhada na área social, comunicação com as famílias de presos e campanhas de produtos de higiene pessoal.
“Em 2017 conheci a metodologia ESPERE (Escola de Perdão, Reconciliação e Justiça Restaurativa) que me encantou, porém moro no interior e não me aprofundei, já que as formações eram na capital”.
Em 2020, Erika foi convidada pela Pastoral Carcerária Nacional a participar das formações de justiça restaurativa. “Fiz vários módulos e foi um divisor de água na minha vida. Me ajudou com a minha família e no trabalho onde atuo com projetos sociais.Com as ações da PCr em nosso município, hoje levo as práticas circulares para todas as visitas que participo na colônia penal e levo também essas práticas para as comunidade vulneráveis da minha cidade, tais como quilombolas, indígenas e nas escolas, assim transformando vidas por um mundo sem cárcere.”