Carta dos bispos do Maranhão sobre a situação de violência no Estado

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Os bispos do Regional Nordeste 5 da CNBB (Maranhão) divulgaram carta ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade, em 15 de janeiro, na qual denunciam a cultura da violência presente no Estado. “Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos!”, afirmam os bispos.
2401 bispos_MaranhaoNa carta, os bispos alertam que a cultura de violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, “resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro”.
Os fiéis são convocados pelos bispos a realizar um gesto concreto no dia 2 de fevereiro, Festa de Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa Senhora das Candeias. Os bispos pedem para que seja feita “em todas as comunidades uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração”.
Leia, na íntegra, a carta:
Ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade:
“Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11)
Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão – a morte violenta da Ana Clara, criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís.
A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que está sendo construído.
A agressão está presente na expulsão do homem do campo; na concentração das terras nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e periferias de nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos jovens; na autodestruição pelas drogas; na prostituição e exploração sexual; no desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da natureza.
Esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro.
Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose.
É verdade que a riqueza no Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem entre os mais baixos do Brasil.
Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos! Como discípulos missionários de Jesus, estamos comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11).
A cultura do amor e paz, que tanto almejamos, é um dom de Deus, mas é também tarefa nossa. Nós, bispos do Maranhão, convocamos aos fieis católicos e a todas as pessoas que buscam um mundo melhor a realizarem um gesto concreto no próximo dia 2 de fevereiro, como expressão do nosso compromisso com a justiça e a paz. Neste dia – Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às pessoas comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da celebração sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência, como sinal do seu empenho em favor da paz.
Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz, rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa responsabilidade social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na paz.
Centro de Formação de Mangabeiras-Pinheiro – MA, 15 de janeiro de 2014
 

Dom Armando Martin Gutierrez

Dom Carlo Ellena

Dom Élio Rama

Dom Enemésio Lazzaris

Dom Franco Cuter

Dom Gilberto Pastana de Oliveira

Dom José Belisário da Silva

Dom José Soares Filho

Dom José Valdeci Santos Mendes

Dom Sebastião Bandeira Coêlho

Dom Sebastião Lima Duarte

Dom Vilsom Basso

Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges

 
 
Fonte: CNBB

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