As guerras da Ucrânia e do Oriente Médio são a expressão mais evidente de que já estamos vivendo um conflito de proporções universais, mundiais, que tem várias facetas e expressões que atinge no seu âmago mais profundo as raízes de nossa humanidade ferida, machucada, fragmentada pelo mercado econômico e tecnicista que lhe está construindo um universo profundamente individualista, de solidão, de suspeita, onde a pessoa precisa se armar para poder ter a ilusão de segurança, defesa condição de vida que lhe garanta certo conforto.
A situação que se vive constantemente em Rio de Janeiro e em geral nas grandes metrópoles é de guerra que leva ao armamentismo, ao militarismo que chega a permear e penetrar as fibras da própria educação onde se espelham os grandes questionamentos e dilemas de nossa sociedade liquida e gasosa, confiando à polícia, aos vigilantes, altos muros , grades , o fechamento de suas casas e também de convívios para a solução de conflitos que, continuam sem respostas e sem melhorias concretas e duradouras.
Está de fato que hoje somos chamados a fazer uma escolha de fundo que será crucial para a nossa sobrevivência presente e futura. Precisamos escolher entre a guerra nas suas diferentes formas, e os processos de perdão, restauração e responsabilização e linguagem não violenta que nos propõe a Justiça Restaurativa.
Parece que estejamos falando de algo novo, mas na realidade este processo profundamente democrático, horizontal, circular e participativo tem uma história que vem de longe fruto da milenária caminhada dos povos nativos, de suas tradições culturais, sapienciais que ainda hoje estão presentes em sua vida do dia a dia, mas que, nós como o resto do planeta queremos desqualificar e destruir, começando pela terra, o ar, a água, com a nossa suposta civilização e modernidade que busca por segurança no mundo atual que promete prazeres não alcançáveis que que todos querem experimentar.
Papa Francisco na Exortação Apostólica Laudate Deum é extremamente claro e direto quando se refere ao presente e ao futuro do Planeta e da humanidade, avisando que a grande crise que estamos vivendo precisa de soluções urgentes e a curto prazo e só repensando relações de poder, e isso só pode acontecer quando nos colocarmos ao mesmo nível dispostos a ouvir o outro, suas necessidades, suas angustias, suas dores, para juntos nos perdoar e restaurar-nos.
Essa é a justiça que restaura, responsabiliza e nos ajuda a caminhar juntos na preservação da Casa Comum e no fortalecimento da ecologia integral que passa não pela civilização das armas, mas do amor que gera confiança, segurança e bem viver, a paz começa dentro de si.