Se existe uma pastoral em nossa Igreja em que podemos experimentar a gratuidade, ecumenismo e fraternidade, é na Pastoral Carcerária.
Desde o início do meu ministério, deparei-me com esta realidade: penitenciárias lotadas à espera de agentes de pastoral, cada vez mais raros.
A nossa diocese é a com maior população carcerária do Brasil, com cerca de 20 mil presos. São 15 unidades prisionais, sendo que apenas na metade delas temos agentes da pastoral carcerária.
Outro agravante: a grande maioria dos detentos não recebe a visita dos familiares, por motivos diversos, entre eles, a grande distância e as condições financeiras precárias para a locomoção aos encarcerados.
Nesse contexto, nós, agentes da pastoral, acabamos por ser a família, os irmãos, a luz no fim do túnel, o fio de esperança para muitos encarcerados.
Somos acolhidos como irmãos, respeitados e bem aceitos pelos detentos. Muitos se aproximam para receber a atenção e o carinho apenas da Pastoral, sabendo dos limites de nosso trabalho nesse mundo desafiador: superlotação, falta de assistência médica, trabalho, projetos humanitários etc.
A ressonância de nossas visitas: “Vocês trazem um momento de paz nesse mundo agitado nosso”; “A visita de vocês nos sinaliza que Deus se lembra de nós ainda, que podemos ter esperanças”.
É também um forte momento ecumênico. Realizamos nossos encontros ajuntando-nos os irmãos evangélicos de outras denominações cristãs. Tudo acontece num clima de respeito, acolhida e diálogo.
Gratuidade: O objetivo primeiro não é levar, mas ser a presença de Jesus e encontrarmo-nos com o Cristo preso: “Estive preso e foste me visitar”. E nessa gratuidade, recebemos muito mais do que damos.
Fraternidade: São nossos irmãos, não estamos lá para acusá-los, nunca nos perguntamos quais delitos eles teriam cometido, pois afinal também pecamos. Estamos como irmãos que querem ser um sinal de esperança, de luz, para mostrar-lhes que tem jeito sim, que acreditamos e eles podem vencer.
O sonho da Pastoral Carcerária é o de um mundo sem cárceres. Porém, enquanto isso não acontece, sentimos a grande necessidade e importância de estarmos lá, fazermo-nos presentes!
É uma pastoral necessária, atualíssima e urgente. Podemos ficar em casa, tranquilos, sabendo de irmãos que clamam por nossa presença?
Pense nisso!
Padre Valdo Bartolomeu
Coordenador da Pastoral Carcerária na Diocese de Marília (SP)