(Primeira parte): frente ao fracasso das políticas públicas de juventude, eis que se intensificam políticas de encarceramento e defesa da diminuição da maioridade penal.
São Paulo pode se orgulhar de ser a unidade federativa de maior contribuição à economia brasileira, pois cerca de mais de um terço do PIB nacional é produzida no estado. Para se ter ideia, em 2010, o PIB paulista foi de mais de R$ 1,2 trilhões o PIB, segundo dados do IBGE.
É de se invejar, pois há mais de uma centena de países no mundo cujo PIB nacional não alcança os números econômicos de São Paulo, produzido pelos seus mais 40 milhões de habitantes.
A maior concentração industrial da 5ª economia mundial (!), consegue garantir com seu PIB per capita, mais de 30 mil reais para o conjunto de sua população. Não é por acaso que o estado recebe grandes fluxos migratórios.
Em se tratando da concentração de telefonia fixa e móvel, televisão e microcomputador, assim como, unidades fabris que inovam e diferenciam produtos, São Paulo está na dianteira nacional em todos esses aspectos, por exemplo.
Eis então a grande contradição da maior economia do país. O território de maior riqueza econômica é aquele com a maior população carcerária do país, já ultrapassou a marca de 200 mil presos, somando um terço dos encarcerados do Brasil, sendo a maioria jovens entre 18 e 30 anos, em plena idade produtiva.
Não seria esse o segmento social (os jovens) que deveria ser o grande responsável pela construção de uma sociedade em que a cultura, o lazer, a educação, o trabalho e a igualdade de oportunidades fossem os aspectos de maior identificação.
Será que a juventude que dia após dia é vítima de violência, em muitos momentos vitimados pelo Estado e por seu aparato de “segurança”, não tem o direito de ter o seu “quinhão” da grande riqueza produzida no território paulista?
As inúmeras avaliações em larga escala realizadas para quantificar e qualificar os sistemas públicos de ensino comprovam que quando há uma boa avaliação, que as expectativas de aprendizagem estão aquém do que se espera na consolidação de um desenvolvimento educacional, atestando o fracasso do projeto dos grupos hegemônicos paulistas.
Comprovam igualmente que conjugar produção de riqueza sem distribuição de renda, sem garantia de direitos e sem acesso a uma formação educacional de qualidade, apenas gera violência e pobreza, contradizendo a referência paulista como o melhor parâmetro de desenvolvimento social do país.
As iniciativas de autoridade políticas, membros de grupos dominantes há pelo menos três décadas protagonizando o cenário político do estado, em defesa da diminuição da idade penal, revelam a insensatez e a insensibilidade desses senhores e senhoras “muito respeitáveis”, no que diz respeito às demandas não só da juventude, mas da população do estado.
Beiram à barbárie os projetos políticos e sociais dos setores hegemônicos de São Paulo. É preciso, urgentemente, retomar o estado para o interesse da maioria, contrapondo-se radicalmente a subordinação popular imposta pelos representantes do poder econômico nacional e internacional em nosso estado, assim como em todo o restante do Brasil.
A hipocrisia daqueles que se dizem “servidores do povo”, deve ser por nós desmascarada, ainda que possamos encontrar dificuldades nessa empreitada. O que importa é não nos calarmos, sob pena de nossa omissão produzir ainda mais violência, encarceramento, desigualdade e opressão.
Que os jovens, principalmente dos chamados grupos vulneráveis, os negros, moradores da periferia, de famílias pouco escolarizadas, sem a compreensão profunda do papel do exercício dos direitos na conquista de melhores condições de vida, sejam educados para a tarefa de mudança social.
Que os lutadores sociais não se cansem ou desanimem com o compromisso pela construção de um mundo melhor para todos e todas e, que tenham a humildade e paciência de se saberem limitados, porém, imprescindíveis.
Por fim, que a população de São Paulo seja protagonista na luta, em justiça social, defesa da vida e direitos humanos para o Brasil e o mundo!! Contagiando a todos e todas e a cada um e cada uma, em especial!
Wilson Roberto Batista
Coordenador da Pastoral Carcerária na Diocese de Marília (SP)
wilsonrobertob@bol.com.br