Relato de uma mulher que passou pelo cárcere: “a prisão transformou minha vida, mas é possível recomeçar”

 Em Mulher Encarcerada, Notícias

Meu nome é Rosiane Cristina e tenho 32 anos. Mesmo diante de tantas dificuldades, como a separação dos meus pais, cresci vendo minha mãe firme e forte, batalhando com honestidade para nos dar sempre o melhor.

Minha família sempre foi muito católica: participei na Paróquia Dom Bosco, conjunto Gramoré, zona norte de Natal, fazia parte da Renovação Jovem, da Liturgia, Legião de Maria e também fui servidora do altar durante muito tempo, como coroinha. Depois de um certo período me afastei, pois comecei a trabalhar com o intuito de me tornar independente.

Conheci outro mundo e infelizmente comecei a viver de forma totalmente diversa daquela que minha mãe havia ensinado. A vida é feita de escolhas, e somos frutos delas. Estive privada da liberdade durante um ano e quatro meses, esse tempo me fez sofrer por estar longe da minha família. Aprendi com isso a valorizar as pequenas coisas e ser grata.

O meu maior crescimento foi o espiritual, colocando Deus acima de tudo e crendo que ele estava sempre ao meu lado, me fazendo forte e perseverante para vencer todos os desafios e injustiças que o cárcere proporciona às mulheres. Um lugar feito por homens e para homens, em nada parecido com o ambiente que toda mulher, mesmo as que se encontram privadas de sua liberdade, merecem.

O cárcere transformou a minha vida. Foram longos dias e noites, num ambiente de muita dor, sofrimento e angústias. Eu passei a enxergar que minha história não se encaixava com a realidade do que estava vivendo, mas a minha escolha sim. Então eu me permiti sonhar com a liberdade! Liberdade essa que eu encontrei nos projetos que a unidade prisional oferecia. Assim surgiu o amor pela leitura e pela escrita.

Como não tinha acesso a folhas de papel e caderno, consegui junto com uma companheira de cela fazer um manuscrito de um livro, todo em papel higiênico. Pegamos o pouco que tínhamos para expressar o que sentíamos; nele está contido relatos da vivência no cárcere, reflexões e depoimentos de mulheres com o coração cheio de arrependimentos. Em breve estaremos publicando o livro, com a ajuda de muitas pessoas e da Pastoral Carcerária para a Questão da Mulher Encarcerada do Rio Grande do Norte.

Nada que eu faça vai mudar o que aconteceu, mas eu tenho o poder de escolher o que eu quero daqui pra frente. Hoje busco através de projetos a minha ressocialização, pois o Estado não ressocializa ninguém, cada pessoa que está ou passou pelo cárcere busca dentro de si mesma, e com ajuda de pessoas como os agentes da Pastoral Carcerária, forças para que o sonho de Deus não seja abafado com os tantos gemidos dentro de uma prisão.

Eu posso ter cometido um erro, mas eu não sou um erro. E apesar de todas as dificuldades e sofrimentos, é possível uma nova vida, é possível recomeçar!

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