Em tempos nos quais usamos tanto a expressão “fazer justiça”, se faz urgente nos perguntarmos: o que é justiça?
Uns dirão que é todos terem aquilo que lhes é de direito, como acesso à saúde, moradia, trabalho, educação, etc… Outros vão dizer que fazer justiça é castigar quem burla as regras, colocar na cadeia quem comete um erro ou fazer pagar pelos erros cometidos.
E no âmbito religioso, muitas vezes, se pensa que a justiça vem de um Deus, que castiga ou compensa, conforme a conduta de cada um.
Enfim, percebemos que a leitura sobre justiça tem variadas formas de ver ou entender. Mas o que é mesmo justiça ?
Propomos uma reflexão sobre a justiça que restaura. E, nesta restauração se destacam três eixos: reconhecer, responsabilizar-se e restaurar.
Na justiça da igualdade de deveres e direitos vemos que, quando a sociedade reconhece, se responsabiliza e repara, a justiça punitiva que encarcera e humilha não mais existirá. Esse é o objetivo da Justiça Restaurativa e da Escola do Perdão e Reconciliação (Espere).
Temos, dentro desta perspectiva de justiça restaurativa as mais variadas metodologias, cada uma com sua beleza e complexidade, mas entendemos que todas são fundamentais para um MUNDO SEM CÁRCERES.
O cárcere é o elemento visível de uma injustiça maquiada de justiça pois, em nenhum momento, o encarceramento prima pela ressocialização, reconexão ou crescimento do indivíduo preso. Às vítimas dos delitos, nada é restituído com essa forma vil de punição.
Mas como chegaremos a um MUNDO SEM CÁRCERES???
Talvez quando nossa bolhas se romperem e tivermos total consciência que, do mal causado, todos somos parte e podemos ou não resolvê-los.
A justiça restaurativa quer colocar a vítima no centro do conflito, mas também proporciona ao agressor o reconhecimento do dano e sua responsabilização. A Escola do Perdão e Reconciliação nos direciona ao conhecimento de nós mesmos, ao encontrar em nosso interior nossas limitações, bem como dar pistas para que tenhamos um controle das emoções. A centralidade desta vivência implica em PERDOAR A SI MESMO para perdoar os outros.
Quando entendemos que somos sujeitos dos mais variados sentimentos e, dentre estes, a raiva, o rancor e – porque não dizer? – o ódio, mergulhamos no nosso mundo interior e vemos que também poderíamos ser capazes de cometer algum ato ilícito, algum dano, ou até já o tenhamos feito, mas não tínhamos nos dado conta.
UM MUNDO SEM CÁRCERES acontece quando desencarceramos nossas almas do preconceito, da prepotência, do egoísmo, do desejo de vingança, do desamor… Só desta forma podemos vislumbrar a justiça sob outro prisma.
Você já desejou se vingar? Responde honestamente! Se sim, então não és melhor do que ninguém!
Por isso, urgente é reconhecer o que somos e defendermos de justa justiça e criticar a justiça punitiva, que potencializa a desigualdade social, apesar da igualdade de sentimentos.
Vera Lucia Dalzotto, Assessora Nacional da Pastoral Carcerária para a questão da Justiça Restaurativa