A Agência TVCG, de Goianésia (GO), produziu uma reportagem sobre a justiça restaurativa na execução penal e as práticas circulares, trazendo depoimentos de presos que aderiram à proposta e notaram mudanças pessoais. Em 2018, um programa de justiça restaurativa foi iniciado nas unidades prisionais de Goianésia, Barro Alto, Uruaçu e Rialma, no estado de Goiás.
Por meio de uma roda, os presos desabafam, escutam e aprendem mais sobre eles mesmos, resultando numa transformação do ambiente prisional. O vídeo apresenta a realidade dentro das celas, onde as conversas do dia a dia são sobre os crimes que cometeram e os que podem cometer quando sair.
Os relatos mostram como a justiça punitivista não alcança o resultado esperado da ressocialização, pelo contrário, é motivo de revolta. A ideia da justiça restaurativa vem para quebrar esse ciclo conflituoso de punir e rebelar, podendo ser um instrumento eficaz para a mudança daqueles que estão privados de liberdade. Kedma do Carmo conta que durante o círculo foi recebida com muito amor, carinho, respeito e com um olhar de igual, um cenário não tão corriqueiro por conta dos preconceitos que os perseguem.
“Renasci de novo através do círculo. Posso ser uma pessoa melhor tanto aqui dentro quanto lá fora, posso dar bons exemplos para os meus filhos, sobrinhos, netos, bisnetos, meus amigos e até meus inimigos”.
Romário Alves reflete que o círculo trouxe ideias positivas o ajudou a enxergar as coisas de uma maneira diferente, contribuindo para sua própria comunicação: “Hoje eu enxergo que posso levar uma palavra de consolo para um colega de cela, se estiver doente posso dar um apoio”.
O objetivo das práticas circulares é fazer os presos se colocarem de volta no papel de protagonista das suas vidas, através de reflexões sobre responsabilidade, trabalhos na restauração de danos causados, resgate do amor próprio e fortalecimento da autoestima, em busca de uma nova forma de relacionamento entre internos e a administração penitenciária.
As mudanças não são percebidas apenas pelos que estão encarcerados. A agente da Pastoral Carcerária Dora Alves, que participa e auxilia na realização do círculo, menciona o prazer e gratificação do trabalho: “Cada círculo aplicado é uma bagagem de sabedoria e conhecimento com esses meninos, e em cada unidade prisional que eu vou, eu saio de lá realizada”.
O Diretor da Unidade Prisional de Uruaçu, Márcio Moreira, conta que os primeiros participantes das práticas foram os representantes de cada cela, e com o tempo outros detentos começaram a aderir, resultando em uma construção de um ambiente pacificado, digno e respeitoso.
“Esse trabalho tem contribuído muito com o hoje dessas pessoas, mas com certeza também com o futuro delas, quando estiverem fora do sistema prisional”.