PCr realiza curso de Justiça restaurativa com sobreviventes do cárcere

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O setor de Justiça Restaurativa (JR) da Pastoral Carcerária realizou durante uma semana um curso de comunicação não violenta e JR, voltado especialmente para as sobreviventes do cárceres.

O curso foi feito em parceria com o coletivo Libertas, foi mediado por Vera Dalzotto, assessora da PCr nacional para a questão da Justiça Restaurativa, e ministrado por o Vera Dalzotto, Joselene Barbosa Linhares e Josiane Domingas Bertoja.

Nove mulheres participaram da intensa vivência no centro de formação Sagrada Família, onde ficaram de domingo até sexta-feira. Temas como o perdão, se livrar da culpa, o autoperdão, a historicidade, base categorial, ética, moral e a comunicação não violenta foram trabalhados ao longo da semana. O círculo de Olga Botcharova também foi realizado.

A maioria das mulheres no curso eram sobreviventes do cárcere, mas também estavam presentes agentes da Pastoral, membros de coletivos que auxiliam mulheres que saem do cárcere e familiares de presos.

Geralda Ávila, agente da Pastoral e uma das coordenadoras do coletivo Libertas, afirma que esse é um curso muito importante para as mulheres. “Esse é um curso transformador, e eu queria que elas passassem por essa experiência. Tenho certeza que vai ser tão transformador na vida delas como foi na minha, e espero que elas consigam resolver muitas questões pessoais, para mim é a realização de um sonho”.

O Libertas realiza um apoio material, oferecendo oficinas profissionais de costura, além de prestar auxílio e acompanhamento psicológico e de assistência social. Nesse sentido, Geralda acredita que o curso da PCr vem para complementar o trabalho que já vem sendo realizado com as mulheres.

“O curso vem de complemento ao que a gente dá de amparo. A maioria que trabalha no Libertas presta serviços voluntários, e esse curso é uma extensão do que já acontece; cuidar do espírito é maravilhoso e muito importante.

As sobreviventes do cárcere e familiares também viram o curso como muito importante.

 

Para L., “o que mais me chamou a atenção foi o amor delas com o próximo, mostrar que às vezes a gente tem que ser mais amável com as pessoas, doar-se mais, e a importância de ser acolhida”.

M., que está se formando em serviço social, viu o curso como um ótimo complemento à sua formação. “O curso para mim foi maravilhoso, estou no sexto ano de serviço social, e graças a deus estou conseguindo superar meus medos, porque depois de 30 anos não é fácil voltar a estudar. Mas isso fortaleceu o que acredito e amplia a minha mente da educação, para poder ajudar as minhas companheiras”.

A. não vê a hora de levar e transmitir o que aprendeu no curso para a sua comunidade. “O curso foi maravilhoso. Mostra que realmente podem ter mudanças, se for dada a oportunidade. Eu ouvi muitas histórias, também contei a minha história, e foi muito importante, por mais que eu tente falar, não vou conseguir expressar tudo o que senti”.

N. enfrentou dificuldades para vir ao curso, mas aproveitou cada momento. “Pra mim foi difícil vir, por eu ter cinco filhos e uma família complicada, mas entreguei na mão de deus, e está sendo fácil, tenho minhas amigas, tenho a pastoral, que conheço há muito tempo. Me deram a segurança de caminhar e seguir os meus sonhos”.

E S. aprendeu muito, mas não se importaria de “ficar de recuperação”. “Eu vim para o curso de coração aberto, eu sou agressiva no sentido de falar alto, sou explosiva, e nesse curso teve coisas que afetaram a gente, mas a gente foi ajudando uma a outra e aprendendo os valores que ensinaram aqui. Estamos se respeitando, respeitando as outras, estou reaprendendo a comunicação, reaprendendo a viver, respeitando o próximo.

Eu não sou nem de abraçar os outros, mas ouvindo as histórias das meninas, eu me levantei e abracei elas. A vida me ensinou que eu tinha que me defender sempre, e estou reaprendendo isso. É um presente de natal, que chegou adiantado. Eu acho que fui bem no curso, espero ter tirado nota 10, e se não tirei, eu quero ficar de recuperação para poder voltar e fazer de novo”, diz sorrindo.

Celebração final

Ao final do curso, foi realizada uma celebração eucarística, que contou com a presença de representantes de três religiões: o padre Gianfranco Graziola, assessor espiritual da PCr, representou a Igreja católica; a pastora luterana Romi M. Bencke, secretária executiva do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, e Batia Jello Shinzato, candomblecista e sacerdotisa do Ilê Axé Opô Olodoydé. A Irmã Petra Silvia, coordenadora nacional da PCr, também estava presente.

Por fim, foi feita a entrega dos certificados para todas as participantes, seguido da leitura de uma poesia feita por duas das participantes, além de um rap improvisado feito por uma delas (confira nos vídeos).

 

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