Padre Gianfranco Graziola
Para a RNA
Nestes últimos tempos nos âmbitos do mundo judiciário e acadêmico está entrando na moda ao que chamam de Justiça Restaurativa e se multiplicam os cursos, as palestras, as publicações, os trabalhos de fim de curso quase fosse a febre retratada do famoso filme do Jonh Travolta “Os Embalos do Sábado à Noite”.
Ao redor desta falsa novidade se vão formando e modelando alguns gurus que, se tornam quase os intocáveis e os únicos pontos de referência de uma ciência que na realidade é muito mais que ciência porque é parte da vida dos povos nativos que moram desde tempos imemoráveis em nossas terras, rios e florestas e de quem mais uma vezes queremos tirar proveito para encontrar soluções ao que nós chamamos de civilização cada vez mais incapaz de dar respostas as situações de violência e morte que habitam nosso universo consumista e pseudorreligioso. Entram nesse olhar também o fato que, como modelo e imagem desse processo milenário presente até hoje na vida dos povos nativos de nossa América Latina e Brasil, continuamos usando as imagens fantasmagóricas e falando dos indígenas do norte América, ignorando a pluralidade e riqueza dos povos que vivem e moram em nosso país, e isso porque talvez não sejam uma boa imagem para o mercado e as promoções comerciais do produto.
Com isso não quero dizer que estou contrário à pesquisa, ao estudo, pelo contrário, mas eu que tive o grande presente de viver alguns anos da minha vida com o povo Yanomami na floresta amazônica, sei muito bem que ao que nós colocamos o nome de Justiça Restaurativa é entre eles muito mais que nossa teoria, nossas prática, nossos olhares e linguagem, ela é uma atitude de vida que perpassa todas as pessoas e os diversos núcleos familiares chegando até a constituir a história e a vida das comunidades que, por meio dela resistiram e continuam resistindo à nossa ação devastadora.
Enfim, o aumento da violência e da truculência que caracteriza em todos os âmbitos e ambientes de nossa existência neste tempo, e a tentativa de oferecer a Justiça Restaurativa como solução dos nossos conflitos, quase fosse um talismã, leva-me a afirmar e chamar a atenção para que mais uma vez não façamos o erro de roubar e tirar dos povos nativos, transformando-o em produto e mercadoria, o que é o segredo milenário da vida que não pode e não deve ser transformado em produto de comércio ou simples teoria metodológica.
Afinal, estamos no ambiente do mundo holístico dos nativos e das grandes sabedorias, patrimônio sagrado e milenário de culturas, expressão de vida que Papa Francisco em sua intuição profética sintetizou em ecologia integral que devemos respeitar, cuidar como parte da Casa comum. Boa noite.