1. Autoperdão – o desafio
Perdoar-se a si mesmo é, provavelmente, o maior desafio que podemos encontrar na vida. Em essência, é o processo de aprendermos a nos amar e aceitar a nós mesmos, aconteça o que acontecer. No entanto, existe uma enorme resistência a perdoar a si mesmo, já que, como qualquer outra mudança importante, é uma morte. Morre o hábito de nos considerarmos pequenos e indignos, morre a vergonha, a culpa e a autocrítica. “Estou envergonhado de ter engordado tanto”; “Sempre me sentirei culpado por não ter me despedido”; “Deixarei de me sentir culpado se as coisas saírem bem”; “Vou me perdoar quando ela me perdoar”. Quantas vezes a disposição de nos amarmos e nos aceitarmos dependeram de as circunstâncias serem diferentes de como são na realidade? Que críticas a nós mesmos teríamos de deixar de lado para nos perdoarmos?
O objetivo do perdão é lançar luz sobre os enganos, temores, julgamentos e críticas que nos vêm mantendo presos, no papel de nossos próprios carcereiros. É descobrir a opção de renunciar a esse cruel trabalho para poder assim nutrir toda a verdade a respeito de quem somos.
Perdoar a si mesmo é um fabuloso nascimento. É inerente aos momentos nos quais temos a experiência direta da compaixão, do amor e da grandeza de nosso EU superior, profundo, verdadeiro.
Autoperdão existencial: Perdoar-se por existir; perdoar-se porque a vida não é perfeita e sempre há injustiças. Perdoar Deus pela imperfeição humana e suas consequências que atingem inocentes, por exemplo, em desastres naturais.
Autoperdão pelas injustiças culturais que eu reproduzo: perdoar-se pelos julgamentos; pela exclusão, discriminação, criminalização presentes em nossos hábitos; formas de vida, leis; por condições de classe, raça, gênero, sexo, idade…
Autoperdão por dores históricas: causadas por feridas sociais ou familiares; por acontecimentos da história, como escravidão e racismos, conflitos violentos, colonização, migração forçada… etc.
O autoperdão não significa ignorar qualquer dano e sofrimento que você causou ou o papel que você tenha desempenhado. Começa com o enfrentamento do dano causado diretamente e com a disposição de curar-se apesar disso.
O autoperdão é o desafio de aprender a conhecer, aceitar e amar a nós mesmos, independentemente do nosso passado.
O autoperdão nasce da compreensão do que somos. É fundamental conhecer nossa identidade verdadeira, a qual vai se revelando pouco a pouco. Raramente isso acontece de uma vez.
O autoperdão é trazer de volta o seu poder. É assumir responsabilidade pela maneira como você se sente e se mostra na vida. Ao perdoar-se, você se desconecta de uma conexão excessiva com seu ego e deixa de ser vítima. Você chega a seu Eu verdadeiro e à energia que lhe possibilita assumir novas respostas que interrompem a reprodução da violência.
2. Autoperdão – Sete passos de Everret Worthington
(Transcrição de exposição de 2011 Encontro ESPERE Peru)
- Aceitar – reconhecer minha participação em um acontecimento que não foi totalmente bom. Arrepender-me, reconhecer que cometi um erro e não quero repeti-lo por causa do impacto negativo que teve em mim mesmo/a e em outras pessoas.
- Restaurar os danos causados – pedir perdão, reparar o que foi quebrado, refazer algo que não foi bem e que me ajuda a melhorar as emoções negativas geradas pelo erro.
- Enfrentar minhas próprias expectativas em relação a mim mesmo/a – entender que não sou perfeito/a. (Exemplo: aceitar que eventualmente preciso de ajuda para aprender a lidar com as minhas emoções.) É importante enfrentar as expectativas daqueles que se sentem feridos com meu comportamento.
- Deixar de pensar neste problema para que este não controle minha vida. Embora partimos da necessidade de exteriorizar nossa culpa para procurar o perdão, também é importante que este sentimento não absorva minha vida e interrompa o ritmo regular de meus planos para o futuro.
- Tomar a decisão de perdoar-me a mim mesmo/a. Como agir em relação a mim mesmo/a (vou tratar-me com compaixão?). Como curar-me emocionalmente para não ficar com raiva ou ressentimento de mim mesmo/a). O perdão emocional a mim mesmo facilita a relação entre minha culpa e o perdão.
- 6. Aceitar-me. Entender que o ato que cometi mudou minha autopercepção (compreender e aceitar que, às vezes, tenho intenções más; às vezes, minto para me proteger; às vezes, falo sobre coisas que não me dizem respeito).
- Comprometo-me, honestamente, a viver de modo que considero correto. Decido não repetir a ação outra vez.
Robin Casarjian. Houses of Healing: A Prisoner’s Guide to Inner Power and Freedom, 1995