JESUS, MESTRE DE JUSTIÇA RESTAURATIVA

 Em Justiça Restaurativa, Notícias

Ouvimos frequentemente dizer que a “justiça divina mais cedo ou mais tarde chega”

Essa expressão tem na realidade uma conotação punitivista, moralista, legalista, que nos traz a ideia e a imagem de Deus castigador, o Deus que ao mesmo tempo, fascina, encanta e inspira medo e terror. É o totalmente outro. É o Deus dos fundamentalismos religiosos para quem a fé se reduz a observância individualista, a certezas e verdades de fé que é preciso acatar e que tem como prêmio a salvação. Esta seria a “mcdonaldização” da fé, quer dizer uma fé de consumo e consumista.

Esta tipologia religiosa é caraterística do mundo judaico e particularmente dos ambientes ligados a estrutura religiosa do templo de Jerusalém com a qual Jesus tem vários desencontros chegando a um confronto várias vezes áspero e direto:

Naquele tempo, disse Jesus: 27 “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão! 28Assim também vós: por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça.” (Mt. 23,27-28)

Porém este não é o Deus de Jesus Cristo, o paizinhinho amoroso e compassivo cujo rosto ele faz questão de manifestar constantemente, através duma atitude que é profundamente restauradora e que foca na pessoa e a responsabiliza, colocando-a como protagonista do seu próprio processo restaurativo diante do qual existe a possibilidade de aceitar ou de negar. Os exemplos mais claros estão em algumas parábolas trazidas a nós pela comunidade lucana e conhecidas como “parábolas da misericórdia”. Talvez conheçamos algumas delas, como a do bom samaritano, do Pai misericordioso, da ovelha perdida, entre outras. Em todas elas Jesus tem uma atitude de fundo que é de acolhida, escuta tendo como conclusão uma ação restauradora.

A Samaritana

Entre todos os relatos evangélicos optei hoje de me debruçar sobre o texto da comunidade de João que encontramos no capítulo quarto e que tem como protagonistas Jesus, a Samaritana, o grupo dos discípulos, os conterrâneos da samaritana. Os fatos acontecem na naturalidade da vida onde existe um contexto de exclusão, condenação, preconceito e legalismo religioso, mas falta a compaixão e a misericórdia.

É esta a realidade que Jesus encontra quando cansado chega ao poço de Jacó onde se senta na expectativa de que alguém chegue para pedir um pouco de água para matar a sede. É meio-dia, e ninguém chega a não ser esta mulher samaritana a quem ele simplesmente pede água de beber criando nela curiosidade sobre quem seria àquele homem judeu que pede água para beber a ela que é samaritana.

Em comum existe a sede e a profundidade do poço que precisa ser preenchida para poder ter a água que mata a sede, pelo menos é isso que a samaritana pensa, e para ela aquele simples balde, parte de um ritual consolidado parece ser a resposta que ela encontrou para suas necessidades.

Mas as palavras de Jesus, o diálogo, a acolhida supera as suas expectativas e aos poucos vão surgindo as perguntas libertadoras e vai descobrindo que àquela água que ela procura está brotando nela, e se tornando nascente de vida nova. Àquele Deus que parecia tão longe, que estava no monte, agora habita nela e que o Messias esperado está diante dela e é quem está falando com ela. Por isso ela não precisa mais do cântaro, ela está livre, restaurada na sua dignidade e pode partilhar com seus vizinhos o acontecido, o encontro restaurador que ela vivenciou com Jesus, onde ela própria é a protagonista chegando a envolver os outros e até os próprios discípulos que também precisam ainda de realizar esse processo em suas vidas.

Leitura circular do encontro entre Jesus e a Samaritana

O fato narrado nos leva a pensar que deva ser um círculo de acolhida e até de solução de conflitos tendo como participantes o grupo dos discípulos (mundo judaico) e os samaritanos conterrâneos da samaritana.

Os facilitadores acabam sendo Jesus e a Samaritana.

O tempo neste caso é o Kairós, o tempo de Deus.

O que é interessante é que o poço é a peça central da cena e o balde ou cântaro o bastão da fala.

A chegada de Jesus ao poço onde se senta tranquilamente, cansado e acalorado é a cerimônia de abertura.

A chegada da Samaritana, o pedido de Jesus: “dá-me de beber” o Check in.

No diálogo inicial entre Jesus e a Samaritana estão sendo colocados os combinados, as regras do diálogo.

No diálogo seguinte são colocados os valores que a colocam em diálogo com sua historicidade.

Na terceira parte do diálogo tem a contação de histórias, qual é sua vida, os sentimentos neste momento, o que ela está sentindo e vivendo.

A ida da samaritana à aldeia vizinha é o Check out

Os samaritanos que acorrem até Jesus é a cerimônia de encerramento que o término da obra do Pai.

Pe. Gianfranco Graziola 

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