Continuam, diante da realidade cada vez mais complexa, a nos fazer crer que a solução para as mazelas são leis e penas mais duras e severas, sem ter em conta que, como é o caso da redução da maior idade penal, isso vai agravar uma situação já bastante caótica como a do sistema penitenciário superlotado, perverso, sem humanidade alguma, torturador e totalmente antimoral e antiético.
Mas há um elemento que nenhum magistrado, desembargador, juiz, governador, deputado, senador, prefeito, vereador, secretário de Estado e tanto menos o senhor presidente da Câmara dos Deputados e seus filhos irão experimentar ou ingressar: as espeluncas e pocilgas humanas das quais o Brasil é já rico e causa de diversas denúncias junto a Corte Interamericana e outras cortes internacionais.
Agora, me questiono por que não prendemos em lugar dos adolescentes e jovens pobres, pretos e periféricos, os gestores de nossa Nação, Estado, Judiciário começando por ministros, governadores, secretários estaduais e municipais, deputados e senadores, que são os maiores violadores e infratores e descumpridores das leis, para não falar dos desvios e da corrupção crescente dos quais são os artífices.
Indo mais a fundo: quando nós cidadãos em lugar de encher os gabinetes dos políticos pedindo favores e regalias particulares, começaremos a nos organizar e irmos aos mesmos gabinetes, aos gabinetes de Promotores, Ministério Público, Desembargadores, Juízes etc. para cobrar escolas e educação de qualidade, em lugar da construção de presídios e cadeias? Ou nos preocuparemos de ir à Secretaria de Saúde cobrar hospitais decentes, postos de saúde que funcionem e que atendam as demandas do povo no território? Ou também iremos às diversas secretarias para cobrar as pontes que não existem ou que são superfaturadas, as rodovias esburacadas, por não falar do saneamento básico galinha dos ovos de ouro que vai soterrando as verbas públicas com resultados que iremos ver como diante das chuvas torrenciais de Roraima?
Enfim, posso afirmar, sem perigo de ser contrariado, que o que nós devemos fortalecer não são as leis que já existem e nem a sede vingativa herança da ditadura militar que continua em nosso imaginário simbólico, e expressões como o artigo do desacato, mas, sim, a nossa cidadania, e, por isso, devemo-nos superar, ir mesmo aos excessos se quisermos mudar o rumo de uma nação e Estado que se está encaminhando para ser outro campo de concentração, outro Auswitz, um Carandiru nacional.
A nós cidadãos a escolha e a resposta que ninguém pode dar em nosso lugar.
Por Padre Gianfranco Graziola
Vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária
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