A Justiça Restaurativa na cadeia de Londrina

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A Pastoral Carcerária de Londrina teve conhecimento da metodologia da justiça restaurativa como um instrumento que possibilita novas formas de resolução de conflitos nas assembleias da pastoral do regional. 

Sendo assim, uma integrante tomou conhecimento da oferta do curso pela PCr nacional, que aconteceu em Florianópolis. Como não havia um certo distanciamento da coordenação regional com as dioceses, não fomos incluídas nas vagas ofertadas. 

Mesmo sem ser incluída, efetuamos contato com a coordenação nacional, que possibilitou a participação de duas pessoas da diocese de Londrina. Na época ainda como servidora pública na função de assistente social e convidei a psicóloga também servidora do sistema penitenciário para fazer essa experiência do curso. 

Tivemos a oportunidade de ser capacitadas na ESPERE, que nos deu um novo horizonte no trabalho com as pessoas privadas de liberdade. Tivemos dificuldade de concluir a outra etapa das Práticas de Justiça Restaurativa, mas não desistimos de trabalhar nessa linha.

Com a chegada da Juíza da Vara da Infância e Juventude, que possibilitou através do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) cursos da Justiça Restaurativa para pessoas interessadas na metodologia e na implantação da comunicação não violenta.

Fomos capacitadas e tivemos a oportunidade de participar de um grupo de voluntários que atuam nos processos da vara da infância e juventude. Os casos, se as partes aceitassem, eram suspensos e encaminhados para círculos restaurativos de resolução de conflitos. Esse projeto até hoje está funcionando na cidade de Londrina, tendo várias pessoas atuando como facilitadoras de círculos restaurativos na própria vara da infância e juventude, nas escolas e nos bairros. 

A psicóloga capacitada em primeiro momento pela Pastoral tornou-se docente do curso de psicologia de uma universidade particular e lá ela implantou um projeto para formação de facilitadores, que desenvolvem práticas de círculos restaurativos nas unidades prisionais de Londrina, entre elas a cadeia feminina.

Com a aposentadoria da assistente social que se dedica ao trabalho pastoral na cadeia feminina, desenvolvemos uma parceria e juntas fazemos o projeto com a presença de estagiários de psicologia, com círculos restaurativos na cadeia semanalmente.

A Pastoral Carcerária da questão da mulher presa realiza atividades e visitas sistemáticas para escuta e acompanhamento das mulheres, que cumprem pena na cadeia feminina de Londrina. Antes do período da pandemia de Covid-19, a pedido da direção, desenvolvemos um projeto de atendimento às mulheres, que encontravam-se na cela do seguro, considerando que esse grupo não tinha acesso ao banho de sol por falta de um local seguro. 

Nessas atividades, implantamos como metodologia a proposta da justiça restaurativa, onde semanalmente desenvolvíamos algum tema gerador de reflexão a partir das demandas levantadas pelas próprias mulheres.

Também aproveitando os talentos descobertos nesses cubículos de trabalhos manuais, incentivamos uma troca de saberes: quem conhecia algum trabalho manual ensinava para a outra. Sendo assim, o grupo produziu diversas peças de artesanato nas quais a PCr se comprometia de vender e repassar os valores através de materiais para o trabalho e de objetos de higiene pessoal, como sabonete, esmalte, creme corporal etc. 

Após a reforma do prédio e com a entrada da pandemia esse trabalho foi encerrado e continuamos apenas com as visitas pastorais. Estamos retomando os atendimentos e as práticas circulares com as pessoas privadas de liberdade, sendo esse um momento muito rico de encontro, perdão e compreensão das dificuldades de relacionamentos pessoais, sociais e psicológicos. Como as presas já conhecem a metodologia, há um apelo muito grande para a participação nesses círculos de construção de paz por parte das pessoas privadas de liberdade. 

Londrina 31 de outubro de 2022

Cristina Coelho

 

Depoimento: Círculo de Paz

Sou a Irmã Maria Madalena, da Diocese de Uruguaiana, RS

Várias vezes tive a oportunidade de participar de círculos de paz, inclusive fiz capacitação, mas nunca havia feito a experiência como facilitadora. No encontro Estadual da Pastoral Carcerária, realizado nos dias 22 a 24 de setembro, em São Leopoldo, sob a orientação da Irmã Imelda Jacob, fomos convidados a realizar esta tarefa, em duplas. 

Voltando às nossas dioceses, precisávamos repassar algumas das nossas vivências e assuntos do Encontro. Assim, nos reunimos em Alegrete, no dia 16 de outubro.
 

Juntamente com o outro colega participante do Encontro, o senhor Adarino Guedes de Deus, facilitamos um círculo de conexão e escuta, o qual foi muito bem vivenciado pelos participantes, gerando em nós, facilitadores, uma grande alegria e, de certa forma, segurança para continuarmos nesta prática tão eficaz e geradora de bons resultados.

Quis relatar esta experiência pois até aqui nunca tive coragem para facilitar um círculo. Que o Espírito Santo continue iluminando esta caminhada para que possamos nos fortalecer na busca de um mundo melhor através deste instrumento tão salutar.

 Irmã Maria Madalena Miranda de Andrade

Manoel Viana, 03 de novembro de 2022.

 

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