Os coordenadores estaduais do Grito dos Excluídos/Excluídas reuniram-se em São Paulo, em 26 de abril, para o 17º encontro anual de organização do Grito. Eles vieram de dez estados para um momento de expressão da construção coletiva que, parte desde o lema, a cada ano construído e trabalhado por varias entidades eclesiais e movimentos, organismos da sociedade que há 21 anos provocaram a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para que a celebração do Dia da Pátria, 7 de setembro, tivesse outro olhar, o olhar profético que superasse as conjecturas e interesses de parte, o militarismo e que olhasse de verdade para o brasileiro, a brasileira e as suas reais necessidades.
Em 2015, a conjuntura nacional e a própria Campanha da Fraternidade convidam que todos na Igreja olhem para a sociedade, seus desafios e se coloquem em atitude profética de serviço. Foi partindo da visão profética de Dom Helder Câmara, e dos princípios por ele dados “unir os generosos e as generosas, desmentir a mídia, direitos básicos, as diferentes formas de violência, função do Estado, participação politica, a rua é o lugar”, que nasceu o lema do grito que faz muito anos tem como tema: a vida em primeiro lugar.
“Começamos perguntando-nos: ‘Que País é este?’ E as respostas vem do dia a dia, das periferias, onde sobrevivem as famílias pobres, das juventudes que sofrem as retaliações e as exclusões de uma sociedade elitista e seletiva, dos negros e periféricos vítimas das drogas e do sistema, encarcerados e esquecidos nos porões e pocilgas humanas do perverso sistema carcerário, dos operários a quem aos poucos e subtilmente são retirados seus direitos, dos idosos mendigando o direito a viver com dignidade os últimos dias de sua vida”, afirma o Padre Gianfranco Graziola, vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária.
De acordo com o Padre, “Esse País que mata a gente, onde a corrupção, a violência, as falsas seguranças, o militarismo, o individualismo, o egoísmo, o personalismo, a punição, a vingança, o mais forte, xenofobia, racismo, tomaram o lugar dos grandes valores da vida: solidariedade, honestidade, transparência, coletividade, bem comum, colaboração, respeito e valorização dos diferentes, transformando o projeto de vida e de futuro num projeto de morte, numa cultura que acusa, pune e transforma o ser humano em mercadoria”.
“E em tudo isso a mídia mente, colocada ao serviço do capital, do marketing, refém e propriedade particular de famílias patriarcais, embora sendo concessão pública, ela se torna o veiculo da alienação, da desinformação, de massificação. Ela cria e constrói nas pessoas um universo irreal, fantasioso, inconsistente onde o outro, o diferente, quem pensa diversamente, quem exerce sua cidadania, seu direito, é criminalizado, condenado, espezinhado. Hoje em dia, ela é que governa, determina e dita os padrões de vida, é justiceira, hipócrita, moralista e assassina”, observa o Sacerdote.
“Por isso nos consome, faz-nos escravos do consumismo, obriga-nos a ter um único pensamento, o único olhar, um único jeito de ser, e por isso não admite as diferenças, não aceita um País pluriétnico e pluricultural, onde as diversidades são riqueza, as tradições culturais constituem um mosaico único e precioso para a humanidade, os povos nativos, seus conhecimentos, visão da vida como bem viver, como regra e orientação de vida”, prossegue o Padre Gianfranco.
“Eis porque mais uma vez o Grito, chegado à maior idade não se pode calar, mesmo não sendo o evento das grandes massas é, porém a fala de quem não se deixou engolir pelo desespero do mundo, pelos ventos de morte e destruição que usando as asas da mídia nos querem roubar a esperança, querem tirar de nós o profetismo que a cada ano que passa se torna mais forte e necessário e que este ano mais uma vez gritará: Vida em primeiro lugar para depois colocar a questão: Que País é este que mata a gente, a mídia mente e nos consome?”, sintetiza o Padre.
Por fim, o vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária lembra que “a resposta todos nós a sabemos, agora é necessário unir os generosos e as generosas, defender os direitos básicos, desmentir a mídia chamando o Estado para as suas responsabilidades com a politica das reformas e fazendo da rua o palco, o caminho de uma nova nação, de um novo país, de um novo Brasil”.