Gianfranco Graziola: Ascese quaresmal, itinerário sinodal

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Foi apresentado à imprensa a mensagem de Papa Francisco para a Quaresma de 2023. Digo já que o título pode ser enganoso, particularmente para algumas franjas de cristãos que reduzem este forte e intenso tempo batismal a um estéril intimismo que o bispo de Roma define como mundanismo.

Francisco elegeu o texto do segundo domingo que narra a transfiguração para nos dar uma clara mensagem acerca da Quaresma. Ele nos convida, a partir do contraste entre o Mestre e Pedro, a superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz.

Colocar-se a caminho

Afirma o bispo de Roma, é preciso colocar-se a caminho, um caminho em subida que requer esforço, sacrifício e concentração; requisitos também do caminho sinodal que nos comprometemos a realizar juntos, como Igreja. Ao monte Tabor Jesus leva três discípulos, para que vivam uma experiência única, de graça, que Ele deseja não seja vivida solitariamente, mas de forma compartilhada, como é aliás toda a nossa vida de fé.

Um caminho sinodal e  ascético

À semelhança da subida de Jesus e dos discípulos ao Monte Tabor, podemos dizer que o nosso caminho quaresmal é «sinodal», porque o percorremos juntos pelo mesmo caminho, discípulos do único Mestre. O processo sinodal se apresenta árduo e por vezes podemos até desanimar; mas aquilo que nos espera no final é algo, sem dúvida, maravilhoso e surpreendente, que nos ajudará a compreender melhor a vontade de Deus e a nossa missão ao serviço do seu Reino.

Francisco indica-nos claramente que a Quaresma e seu caminho ascético, tem como fonte de inspiração a tradição, e isso significa superar o imobilismo e a experimentação, para procurar, analogamente ao caminho sinodal, estradas novas que levem a uma transfiguração pessoal e eclesial. 

Duas veredas 

E ele nos apresenta dois caminhos concretos e exigentes, duas veredas que devemos trilhar:

A primeira é o convite/ordem de Deus Pai: «Escutai-O» (Mt 17, 5). Escuta Jesus, é a tarefa da Quaresma. Escuta que passa através da Palavra de Deus, por meio da qual Ele nos fala, e pelos irmãos, sobretudo nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda. E no processo sinodal, na escuta dos irmãos e irmãs na Igreja.

A segunda é o convite aos seus discípulos: “Levantai-vos e não tenhais medo”. Francisco nos convida a não nos refugiar numa religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de sugestivas experiências, levados pelo medo de encarar a realidade com as suas fadigas diárias, as suas durezas e contradições. 

Quaresma é sinodalidade, é compromisso

E concluindo, Francisco, que no começo tinha feito a proposta de viver com o mestre, de nos retirar com ele nos lembra que: O «retiro» não é um fim em si mesmo, mas prepara-nos para viver – com fé, esperança e amor – a paixão e a cruz, a fim de chegarmos à ressurreição. 

E por isso ele nos exorta:

“Desçamos à planície e que a graça experimentada nos sustente para sermos artesãos de sinodalidade na vida ordinária das nossas comunidades. Fortalecidos na fé, prosseguirmos o caminho com Ele, glória do seu povo e luz das nações.

Pe. Gianfranco Graziola, imc. Assessor Teológico da Pastoral Carcerária Nacional.

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