Encontro em Aparecida celebra os 50 anos da Pastoral Carcerária Nacional

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O encontro que celebrou os 50 anos da Pastoral Carcerária, ocorrido no sábado (27), contou com a presença de mais de 500 agentes da Pastoral de diversos estados, assim como com familiares de pessoas presas e sobreviventes do sistema prisional.  O encontro foi um momento emocionante para todas e todos no auditório Padre Noé Sotillo, localizado no subsolo do santuário.

Irmã Petra, coordenadora nacional da Pastoral, deu boas vindas aos presentes e iniciou o encontro com um momento de oração por Rouse, agente pastoral de Primavera do Leste (MT) e enfermeira, que foi assassinada dois dias antes no hospital onde trabalhava.

Depois, a PCr de Santa Catarina realizou um momento de mística. Vestidos de presos e agentes penitenciários, simularam o sofrimento do cárcere e a importância das visitas dos agentes pastorais. Ao som de Negra Mariama, e com a intercessão da Nossa senhora negra, os presos e presas encontraram a salvação e se libertaram de suas algemas. Padre Valdir, coordenador honorífico da Pastoral Carcerária, subiu ao palco e falou sobre a história da Pastoral Carcerária.

“A Pastoral Carcerária surge com Jesus preso, dentro da cruz. E ao longo da história da igreja, tivemos muitas mulheres, santos e santas, que passaram pela prisão. Um exemplo é São Francisco de Assis, que começa a se converter na prisão”.

Ele reflete que a igreja começa a visitar os presos na antiguidade, desde Paulo e outros apóstolos da Igreja. E ao longo desta caminhada, muitos homens e mulheres visitam o cárcere, cumprindo o chamado do senhor: “estive preso e vieste me visitar”.

Em relação ao surgimento da Pastoral Carcerária no Brasil, Padre Valdir relembrou as pessoas que visitaram o cárcere por conta própria ou com suas congregações, e que foram muito importantes para impulsionar a criação da Pastoral.

Em 1973, 18 estados participam do primeiro encontro da PCr, ocorrido no Rio de Janeiro, produzindo um documento oficial da Pastoral Carcerária. 

“Falar de 50 anos em tão pouco tempo é muito difícil, citei as pessoas mais importantes. Eu falei de padres e lideranças, mas é bom lembrar que quem sempre fez e faz a Pastoral são as mulheres”, conclui, sob muitos aplausos. 

Em seguida, alguns agentes que participam da Pastoral há muito tempo foram homenageados. Padre João Ripoli, de Ribeirão Preto, está há 56 anos na Pastoral; Amélia Erbs, de Itajaí, há 42 anos; Guiany Campos, da Paraíba, há 36 anos; e Rita Dolores, do Rio Grande do Sul, que está há 38 na PCr, mas não pôde comparecer à romaria.

Irmã Petra fez um rápido relato sobre pesquisa que a PCr Nacional está fazendo em relação ao perfil das e dos agentes da PCr no Brasil todo. De 5100 agentes pastorais cadastrados, 3100 são mulheres; 4200 são leigos e leigas, e 2300 estão entre 50 e 70 anos. 

Alessandra Félix, familiar de preso e membro do coletivo Vozes de Mães e Familiares do Socioeducativo e Prisional do Ceará, subiu ao palco para contar a sua história e como a PCr do Ceará esteve presente na sua vida. 

“Visitei por 3 anos o socioeducativo, e é uma falácia, nunca ressocializou meu filho, nem outro menino, a gente acredita que só o que ressocializa é o amor da família e o compromisso da sociedade que tem compromisso com essa pauta”. 

Ela disse que os agentes da Pcr sabem o que é o cárcere pois assim como os familiares,  visitam as prisões, e ressalta o papel de enfrentar as violências que ocorrem no cárcere que a Pastoral tem. “Eu nunca rezei com as irmãs da Pastoral, mas sempre fizemos trabalhos de enfrentamento juntas”.

Alessandra cita o trabalho incansável das irmãs que participam da Pastoral, como a Irmã Gabriela e Irmã Maria, que com a sua presença, permitem a ida do coletivo às prisões, e estão presentes tanto nas visitas como nos momentos de luta.

Ela contou que, em um  ato público a favor das pessoas presas que terminou em agressão por parte da polícia militar, ela foi protegida por Padre Marcos, à época coordenador do estado, e Irmã Maria.  

“Essa é a Pastoral que conheço. Na hora dos enfrentamentos, são eles que estão lá do meu lado. Não é a pastoral que vai só evangelizar dentro do presídio, ela vai dentro das comunidades, porque acreditamos na prevenção, queremos chegar lá antes da bala”.

Ela terminou sua fala questionando se todos os agentes presentes no encontro são abolicionistas penais, e que essa é uma pauta que deve ser discutida a fundo. “Os meus heróis não usam capa, elas usam o hábito, e são elas que lutam a nossa luta”.

Padre Almir Ramos, vice coordenador da PCr Nacional, leu cartas de presos, com relatos que denunciavam a situação do cárcere, pedindo ajuda, e também com esperanças e sonhos de um dia melhor, e refletiu sobre o sofrimento do cárcere. 

“Um dia nossos descendentes vão olhar para o que acontecia hoje nas prisões e vão ter vergonha, assim como nós temos vergonha hoje dos campos de concentração”.

N., sobrevivente do cárcere presente no encontro, deu um depoimento contando sua história. “A Pastoral me ajudou a não perder a guarda da minha filha por eu estar presa. Queriam tirar ela de mim, mas não conseguiram”.

Ela contou sua experiência com um curso sobre Justiça Restaurativa de cinco dias que fez com a PCr. “É difícil termos oportunidades assim, e vocês me deram isso”.

V., outra sobrevivente, também relatou sua experiência. “Conheci a Pastoral por meio da dona Geralda, que me levou para a Justiça Restaurativa, e isso mudou minha vida. Consegui mudar e perdoar coisas que nunca tinha conseguido, hoje tenho um convívio com minha mãe que não tinha antes”.

Para terminar o encontro, uma mística de encerramento celebrou a vocação de ser um agente pastoral e os muitos nomes, rostos e devoções de Nossa Senhora.

No domingo (28), uma missa no santuário de Aparecida celebrou os 50 anos da Pastoral Carcerária Nacional. 

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