A Igreja do Brasil há cerca de cinquenta anos entendeu que o tempo da Quaresma poderia ser um momento propício para incrementar uma evangelização libertadora e dai surgiu a Campanha da Fraternidade, instrumento que ao longo dos anos virou um marco importante da caminhada eclesial à luz do espirito da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” e dez anos mais tarde da “Evangelii Nuntiandi”.
Neste ano de 2015, cinquentenário da “Gaudium et Spes”, a Campanha da Fraternidade volta a desafiar as comunidades cristãs e os próprios cristãos a refletir e voltar ao espírito que animou a Igreja conciliar que assim se exprimia: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração… Por esse motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao genero humano e à sua história”.(GS.1).
O tema escolhido “Igreja e Sociedade” e o lema “eu vim para servir” são um convite claro a retomar a dimensão profética – sociopolítica deste nosso tempo, em que os desafios para a evangelização e o anúncio da boa nova exigem que sejamos uma Igreja em saída, evangélica, humilde, que sabe escutar, caminhar e curvar-se sobre uma humanidade caída, colocando ao centro a pessoa humana, hoje considerada como qualquer mercadoria.
A Campanha da Fraternidade deste ano vem fortalecer o espírito e a ação da Pastoral Carcerária e de todas as pastorais sociais, assim como ajudar-nos a refletir e assumir o que Papa Francisco afirma claramente como programa da sua ação pastoral como Bispo de Roma, no quarto capítulo da “Evangelii gaudium”, tratando e apresentando a Dimensão Social da Evangelização como essencial para o anúncio do Reino de Deus.
É um fato que para a Pastoral Carcerária o “eu vim para servir” constitui a essência de sua ação que a faz ser presença consoladora e de promoção da vida humana, particularmente junto às pessoas mais excluídas, pisoteadas, humilhadas, encarceradas, privadas de sua liberdade, torturadas, espancadas, mostrando para elas o rosto e as atitudes de um Deus misericordioso, de alguém que não se cansa de amar.
A Campanha da Fraternidade de 2015 é uma ótima ocasião para ajudar a Igreja brasileira e particularmente os cristãos a uma compreensão e valorização das pastorais sociais que, em muitos casos, são de fronteira, devido à sua ação, opção e âmbito em que operam; Essa pode ser a oportunidade para derrubar muros, barreiras, preconceitos e se tornar comunidades; pessoas e a Igreja em saída, samaritana, discípula e missionária.
Essa é a conversão, a mudança que precisamos realizar, porque a tentação dos intimismos, das verdades pré-constituídas, dos dogmatismos, a lei do templo ainda são muito resistentes, e para isso nos chama a Campanha da Fraternidade e nos guia. Se nos deixarmos transformar pela força do Espírito e pela escuta da Palavra de Deus, poderemos ser realmente servos de uma humanidade que precisa mais de testemunhas que de mestres, mais de atitudes que de discursos bonitos. Uma ótima Campanha da Fraternidade.
Padre Gianfranco Graziola
Vice-coordenador nacional da Pastoral Carcerária