“Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5) foi o tema do primeiro encontro presencial da Pastoral Carcerária Regional Oeste 2, desde o início da pandemia, realizado na Sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Cuiabá-MT, nos dias 19 e 20 de março de 2022. O evento contou com a presença de representantes de todas as dioceses do regional Oeste 2 que atuam no trabalho missionário junto às Unidades, além da Pastoral Carcerária Nacional, parceiros institucionais, servidores do sistema prisional, familiares e egressos.
Parte do encontro foi ministrada pela Pastoral Carcerária Nacional, com a presença da assessora Vera Dalzonto e da Ir. Petra, Coordenadora Nacional. Vera apresentou os pilares da metodologia de Justiça Restaurativa e trouxe casos de outros estados, motivando os agentes locais ao interesse pelo tema. Além disso, Dalzonto e Ir Petra fizeram um belíssimo momento de escuta sinodal, onde os participantes foram motivados à escuta e reflexão. “Eu nunca participei de um encontro tão bom, tão alegre. Tenho 81 anos, sendo 20 anos de Pastoral Carcerária. Volto para a minha paróquia cheia de ânimo”, disse a Sra. Laudelina, da Diocese de Diamantino.
Durante o encontro foi lançado um subsídio, publicado pela CNBB Regional Oeste 2, que trata de orientações sobre os direitos e deveres dos agentes de Pastoral Carcerária no que diz respeito a doações e entradas de materiais nas unidades prisionais. O material foi tema de debate e aprovação dos bispos do regional. “A cartilha é muito boa e gostaríamos até de disponibilizar no site da Pastoral Carcerária Nacional para todos os grupos do Brasil”, disse Ir. Petra, coordenadora nacional.
Espiritualidade e Memória
O ponto alto do evento foi a Consagração Solene dos missionários e da missão da Pastoral Carcerária a São José, na missa do dia 19 de Março, presidida pelo padre Reinaldo Braga Júnior, secretário executivo da CNBB regional.
Durante o evento, o Grupo de Oração “Glorioso São José” completou um ano de encontros diários, promovidos pela internet, às 21h, como momento de reflexão e partilha do evangelho do dia seguinte com orações pelas pessoas privadas de liberdade e demais intenções. “Começamos com uma novena por causa de um período de muitas mortes na nossa missão. O grupo é muito importante para mim e hoje estamos com a graça de Deus completando um ano”, disse dona Benedita, da Diocese de São Luiz de Cáceres.
No domingo, 20/03, data de um ano de falecimento do ex-agente de Pastoral Carcerária, Dr. Ronei Duarte, foi celebrada santa missa em memória dos 13 colaboradores da Pastoral Carcerária em Mato Grosso, falecidos nos últimos dois anos, entre eles leigos/as e sacerdotes, além do bispo Dom Juventino. A Sra. Lidiane França Ferraz, viúva do Dr. Ronei e os filhos estavam presentes, representando as famílias enlutadas.
Projetos e Parcerias
“Após um período de recolhimento imposto a toda a humanidade e muitas orações de entrega a Deus, de toda a situação de limitações, a Pastoral Carcerária no Regional Oeste 2 iniciou um processo de fortalecimento institucional que tem gerado frutos significativos para a defesa de direitos e combate à tortura em Mato Grosso”, explicou a Coordenadora Regional, Ana Claudia Pereira e Silva. Hoje a Pastoral Carcerária está presente nas seguintes instituições e movimentos: Rede de Atenção à Pessoa Egressa do Sistema Prisional – RAESP, Frente pelo Desencarceramento, Conselho Estadual de Direitos Humanos de Mato Grosso e Conselho da Comunidade de Execução Penal de Cuiabá e Várzea Grande.
A parceria com o Fundo Brasil de Direitos Humanos foi fundamental para a sobrevivência e expansão das ações da missão durante a pandemia, com a aprovação de um projeto de atenção às pessoas em situação de hipervulnerabilidade, em conflito com a lei. O apoio financeiro permitiu que a Pastoral Carcerária integrasse a comitiva dos trabalhos da Força-Tarefa de Inspeção e Combate à Tortura, promovida pela Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso e pela Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso. “Consideramos essa força-tarefa uma das ações mais significativas em tempos de pandemia. Todas as unidades de grande porte em Mato Grosso foram visitadas, contemplando a maior parte da população carcerária. É um trabalho transparente e eficiente que trouxe resultados concretos para a melhoria do estado de coisa inconstitucional, infelizmente instaurado em todo o pais”, explicou a coordenadora regional.
O apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos proporcionou que os membros da Pastoral Carcerária recebessem material para ações de divulgação da missão em Mato Grosso. Além disso, o projeto viabilizou parcerias formais importantes, como o termo de cooperação com a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, a realização de vários encontros de formação on line em conjunto com a Escola Superior da Defensoria Pública de Mato Grosso, a criação de um projeto de extensão para atendimento jurídico da população hipervulnerável em conjunto com o Curso de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso e a parceria com o Universidade de Cuiabá – UNIC, cujo programa de estágio insere acadêmicos do curso de Psicologia semestralmente nos trabalhos sociais da pastoral. A professora Carla Queiroz, coordenadora de estágio na UNIC, esteve presente no evento, falando da importância do contato dos futuros psicólogos com essa realidade. Estiveram presentes e ajudaram nos trabalhos durante o encontro, três acadêmicos. “Estamos trabalhando na organização do encontro. Nunca me senti tão bem em um espaço de Igreja. O trabalho da pastoral é muito bonito. Estamos felizes em participar”, disse uma das acadêmicas.
Os agentes de Pastoral Carcerária tiveram também palestra ministrada pelo Dr. Lúcio Andrade, Ouvidor Geral de Polícia do Estado de Mato Grosso, que orientou os participantes sobre a natureza da ouvidoria e sobre como realizar denúncias por meio deste mecanismo.
Ao final do encontro, a participante F. N., egressa do sistema prisional, de forma espontânea e emocionante se manifestou aos demais presentes: “Eu passei pelo sistema. E gostaria de dizer que se não fossem as visitas religiosas da Pastoral Carcerária, talvez eu não tivesse conseguido sair daquele caminho. Quero dizer o quanto a presença de vocês é importante. O quanto nos ajuda e nos consola. E em nome da população carcerária, eu gostaria de agradecer”.
Com este encontro regional da Pastoral Carcerária, a partir da presença de todas as Dioceses, se cumpre um dos propósitos assumidos para esse ano do Pilar da Caridade (segundo o Planejamento Pastoral Oeste 2): “atenção especial à ação sociotransformadora, através das Pastorais Sociais, Organismos e Serviços comprometidos com a defesa e promoção da dignidade da Vida”.
E a presença tão próxima, atenta e ativa da Coordenação Nacional, estreita os laços da Comunhão, dá segurança e anima a todos/as que participam desse grande mutirão de atenção, cuidado e defesa dos irmãos e irmãs privados/as de liberdade, também os/as sobreviventes do sistema prisional, servidores/as e os familiares.