Romaria da Pastoral Carcerária reafirma o compromisso com população privada de liberdade no Brasil

 Em Igreja em Saída, Notícias

O primeiro final de semana de julho foi marcado por um admirável sinal profético, de rara força espiritual e política. A Romaria da Pastoral Carcerária para o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, conduziu centenas de agentes oriundos de mais de vinte estados brasileiros. Vestidos de verde e branco, cores que representam esperança, Ano Jubilar e a pastoral que vive o compromisso com os esquecidos na prisão, os participantes ocuparam o maior espaço de peregrinação mariana do país, em razão de uma causa que insiste em não ser silenciada: a humanidade das pessoas privadas de liberdade.

Desde os primeiros momentos do sábado (05), a romaria revelou algo que vai muito além da devoção religiosa. O ato de peregrinar em equipe, rezar e partilhar o sofrimento dos que vivem atrás das grades transformou-se em crítica pública contra um sistema penal historicamente violento, guiado por racismo, superlotação, tortura e abandono. Uma realidade imersa na lamentável lógica punitivista. O evento religioso reafirmou a presença da Igreja que escolhe estar junto aos últimos dos últimos, sem fazer disso um negócio.

Durante a programação, Irmã Petra Pffaller, religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias de Cristo e coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, celebrou o reencontro com os agentes que, semana após semana, visitam unidades prisionais em todo o país. Em entrevista a uma emissora católica, ela ressaltou a força do trabalho coletivo e também alertou para um dos principais desafios enfrentados hoje: a escassez de vocacionados para essa missão. Segundo a freira, faltam pés dispostos a caminhar até o Cristo encarcerado.

Foi também Irmã Petra quem sintetizou, com clareza evangélica, o panorama que guia esse trabalho pastoral:

“O sonho de Deus é um mundo sem cárceres.”

Dialogando com o que ensinou o saudoso Papa Francisco, a atuação da Pastoral Carcerária é uma das expressões mais consistentes do que ele chamou de ser  “Igreja em saída”. As visitas semanais, os relatórios sobre violações de direitos, o enfrentamento à cultura do espancamento e o trabalho de base com famílias das pessoas presas fazem da pastoral uma referência em defesa da justiça restaurativa e da extinção das práticas desumanas que reforçam o sistema prisional do país.

Aos pés da imagem de Aparecida — mulher negra, ícone de resistência e cuidado, os agentes reafirmaram sua vocação: ser presença cuidadora nos cárceres, denunciar as estruturas de opressão e anunciar caminhos de reconciliação e liberdade.

Para um país que detém os pobres, os negros e os indesejáveis, a romaria da Pastoral Carcerária é muito mais do que um evento religioso: é reflexo de um cristianismo que não se rende à indiferença. Uma fé que, ao invés de se esconder nos templos, se faz presença onde a liberdade foi negada.

 

Texto: Clecia – Aguaboa news

 

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