É Mateus quem traz esta narrativa em que Jesus compara o Reino do Céu com uma festa de casamento, em que um rei preparou as bodas para seu filho, e os convidados não haviam comparecido porque lhes tinham surgido outros compromissos. Ante o insólito daqueles convivas a tão precioso evento, o rei chamou os serviçais, deu-lhes uma nova ordem dizendo-lhes: “Ide as saídas do caminho e convidai todos quanto encontrares”. O narrador da sagrada escritura, era aquele cobrador de impostos que estava sentado no posto de cobrança em Cafarnaum, e Jesus passando no lugar ao vê-lo lhe disse: Segue-me, ele se levantou, deixou tudo ali, e seguiu Jesus. Sua profissão era das mais odiadas por cobrarem taxas injustas, serem ladrões e exploradores do povo.
O escritor sagrado estava nas saídas do caminho e foi encontrado pelo Senhor, interpelado pela ordem inusitada por alguém que nunca tinha visto, fez sua vida ter outro rumo. Talvez por isso a parábola tenha impactado o sagrado autor, diante de tantas coisas que Jesus lhes falava. O Papa Francisco ao trazer esta narrativa como tema para o Dia Mundial das Missões, convoca, chama toda Igreja a ouvir a ordem e ir neste imperativo, nós somos hoje aqueles servos que o rei dá a diretiva de ir para as saídas e convidar os transeuntes para a festa. Desde o início de seu ministério, Francisco interpela todos os batizados a “sair”.
Na convocação da Assembleia Eclesial Latino Americana e Caribenha, Francisco lança efusivamente a Igreja da América Latina as saídas do caminho e convidar as pessoas para falar, serem escutados. Mandou-nos que fôssemos ao encontro de todos em todos os espaços, uma surpreendente ação de volta às origens, das primeiras comunidades.
Já delineando o caminho sinodal para a Igreja de todo o mundo. Este mando para a escuta causou muita estranheza na América Latina e Caribenha não só no meio eclesial, mas também às demais pessoas, pois nunca haviam sido consultadas e ouvidas ou chamadas a dar sua opinião sobre a Igreja, sentiram-se incluídas e profundamente emocionadas. De escuta em escuta, ir a todos/as, aos católicos não praticantes e afastados, os não católicos e não cristãos, aos sem crença, aquele “Ide ao encontro de todas as pessoas e escutai”, trouxe profundos ecos. Ainda próximo a nós outro autor sagrado inusitou uma poderosa palavra, é Ezequiel o profeta, que nos tempos do Exílio, aponta para uma Esperança que vem, dando a ordem de que se fizesse ressoar esta notícia “o Senhor colocará um coração de carne no lugar do coração de pedra e os ossos ressequidos irão receber o Espírito que lhes recobrará a vida”. Aquela palavra fora anunciada aos exilados daqueles dias, é este o mesmo “Ide” interpelante deste mês missionário, nos lança aos exilados de hoje, o profeta que tem por nome o significado de “Que Deus Fortaleça” nos coloca neste seu prenúncio, atualizado por Aquele Senhor que colocou seu Sopro naqueles corpos ressequidos. E hoje clama por nossa escuta a ordem e que se mostra urgente. Nos coloquemos no caminho em todas as saídas, nas beiradas das estradas, ao encontro daqueles que definham em seus corpos ressequidos atrás das grades, nos hospitais, asilos, no abandono verticalizado, estraçalhados pelas guerras, vítimas da maldade e ganância humana que colocou em fúria a natureza, as tantas gentes que estão nas ruas, desfigurados pela droga perversa lógica do lucro dos fabricadores, o que defendem as matas, nos Quilombos, e em tantos lugares e digamos venham para o banquete, é o Rei que quer vós todos, a mesa do banquete.
Como agentes da Pastoral Carcerária, este Senhor quer fazer seu Sopro de vida alcançar todas as celas e arcabouços, lança-nos com a pressa daquele rei a caminho dos porões dos cárceres e diz: convidai todos quanto encontrardes. Podemos nos sentir intimamente inseridos, e quase que sem muita novidade ante o imperativo, afinal nosso público está nas beiradas das estradas e seus tantos familiares. Mas é o tempo, é hora de reavivar esta ordem narrada na parábola, reanimar esta esperança que anuncia o profeta, somos aqueles servos em quem aquele rei coloca toda a esperança, é Ele quem nos chamou para estas saídas-tão trancadas, aos calabouços das torturas e encontrar aqueles corpos para que recobrem a vida. Lançar o convite e chamar ao banquete os familiares destes, já não lhes bastasse as machucaduras por seu ente preso, são criminalizados pelo estado e nas nossas comunidades, estão ao nosso lado e não os vemos, não podem partilhar desta dor, porque não há quem os escute.
A todos quanto encontrardes no caminho, “convidai para a festa”. É para toda a Igreja, aos Serviços e Pastorais, Povo de Rua, Hospitalar, dos Idosos, do Consolo e Esperança, Indigenista e do Migrantes, da Criança e Juventude, dos abandonados e esquecidos,a Pastoral Carcerária e da Classe Operária, Pastoral Afro, aos catequistas, as famílias, mulheres, a todas as gentes que perambulam no caminho, as excluídas e excluídos. Que ninguém fique de fora desta festa, na narrativa este rei parece impaciente, não ditou regras ou condições de pureza, nem o traje da roupa, mas espera, aguarda. Confia na incisiva ordem que deu aos serviçais e na abordagem e convite destes para convencer os que encontrarem, aos lhes dizer, venham todos e ocupem o lugar na mesa. Alegremo-nos, ei-lo o Rei, é dele o mando, ir nos caminhos e fazer ressoar a Esperança que vem, nos envia para chamar todos ao sagrado banquete. Ei-la nossa Missão!
Zenir Gelsleichter
Pastoral Carcerária Nacional – GTSaúde